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Violência intrafamiliar: a realidade dos lares onde as agressões tomam o lugar do amor e proteção

Na maioria dos casos, as mulheres são as principais vítimas e sofrem ameaças, agressões, humilhações e constrangimentos


Por Anny Caroliny, Aretusa Fernandes, Débora Monteiro e Raquel Oliveira


As vítimas de violência intrafamiliar acabam adquirindo sérios problemas psicológicos. Foto: Pixabay


A violência intrafamiliar ocorre dentro das famílias e pode se manifestar de diversas formas, como: violências psicológica, física, sexual, moral e patrimonial. Nos lares onde há esse problema, a prática do agressor - dependendo do grau de violência - pode fazer mais de uma vítima.


O abuso psicológico começa quando as pessoas do círculo familiar praticam algum ato de violência contra alguém integrante da família. Na maioria dos casos, as mulheres são as principais vítimas. Ameaças, agressões, humilhações, limitações, manipulação e constrangimentos são apenas alguns exemplos das características desse tipo de violência que são contados por mulheres que perceberam estar em um ambiente familiar tóxico.


Júlia Ribeiro*, jovem acadêmica de Jornalismo, conta que difícil foi perceber que estava em um ambiente de violência dentro da família. “A relação dentro de casa sempre foi algo muito difícil, desde criança já podia notar o que acontecia ao meu redor e que aquilo não era normal. Toda a violência psicológica e tudo o que eu via e ouvia me trouxeram muitas consequências na adolescência e agora na vida adulta”, conta a jovem.


Júlia também relata que não tinha a liberdade de ter um relacionamento. Proibida pelo pai, teve que manter seu namoro oculto por muito tempo por medo do que poderia ocorrer. No entanto, quando o pai descobriu o relacionamento, o terror psicológico e as chantagens emocionais se tornaram cada vez mais frequentes. Por conta disso e de toda uma vida de violência dentro de casa, a jovem acabou desenvolvendo transtornos psíquicos.


Eu descobri o TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo), Transtorno de Ansiedade e Síndrome do Pânico. A síndrome veio há pouco tempo desenvolvida pelas centenas de brigas que, muitas vezes, iam para as vias de fato e chegavam até mim que não tinha nada a ver. Após tudo isso eu me via no chão, tremendo e sozinha. Apenas eu e Deus para me consolar até que passasse”, relata a estudante.


O exemplo de Beatriz Campos* também não foi diferente. A jovem de 18 anos conta que começou a perceber que sofria violência psicológica aos 16 anos e como resultado adquiriu o Transtorno de Personalidade Bordeline, que é caracterizado por mudanças de comportamento e humor instáveis, assim como também acaba tendo instabilidade nas relações pessoais.


Beatriz conta que pensou em denunciar o agressor, mas foi impedida. “Senti o desejo de denunciar, mas minha família me ameaçou. Minha mãe falou que eu merecia e que o agressor podia me bater quando quisesse”, conta a jovem. A vítima relata que sempre se sentia culpada quando as agressões (verbais e físicas) ocorriam e que não apenas ela sofria, mas outras pessoas da família também.


A jovem faz acompanhamento psicológico e conta que para o seu bem-estar físico e psíquico teve que manter o mínimo de convivência com a família. A estudante Júlia também possui auxílio psicológico e psiquiátrico na busca de melhorias para a sua saúde mental.


Os casos são atendidos na Delegacia de Crimes Contra a Mulher. Foto: Reprodução internet


Como a maioria das vítimas de violência intrafamiliar são as mulheres, os casos são atendidos na Delegacia de Crimes Contra a Mulher (DCCM), em Macapá. A delegada Sara Dantas ressalta que, inicialmente, as mulheres são acolhidas com a escuta solidária dos relatos pessoais e dos indivíduos envolvidos. Após esse procedimento é feito o protocolo de atendimento normal com o registro da ocorrência e, se necessário, também é realizado o pedido de medida protetiva, para que a mulher possa ter sua segurança física garantida.


Ainda segundo a delegada, são muitos os casos de violência que chegam até a DCCM. São ocorrências desde namorados e maridos que humilham e agridem as companheiras, até ameaças de morte. Ela destaca que cerca de 95% dos casos são graves e com ameaças de morte, lesões corporais e espancamento.


A delegada Sandra Dantas afirma que as vítimas acabam adquirindo sérios problemas psicológicos, por isso a delegacia também ajuda no suporte psicológico e psiquiátrico, acionando a equipe multidisciplinar de saúde.


“Já fazemos um trabalho muito bom com essas mulheres para que elas tenham amor-próprio, para que ela consiga se libertar desse sentimento amoroso, para que possa viver a vida intensamente, seja aquela mulher pobre que não tem trabalho ou aquela servidora pública, profissional, afinal, violência não tem classe social”, afirma a delegada Sara Dantas.


Apesar de levar anos para essas mulheres conseguirem se libertar desse tipo de violência, elas podem contar com órgãos que ajudam nesse processo, como:


CRAM - Centro de Referência e Atendimento à Mulher - (96) 98409-0863

CMPPM - Coordenadoria Municipal de Políticas Públicas para as Mulheres - (96) 99970-1085

SEMDH – Secretaria Municipal de Direitos Humanos - Ligue 100

DCCM – Delegacia de Crimes contra a Mulher – (96) 3212-8128

Centro de Atendimento à Mulher - Ligue 180


*Nomes fictícios para preservar a identidade das vítimas.


*Reportagem produzida na disciplina de Redação e Reportagem II,

ministrada pelo professor Alan Milhomem


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