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Observatório Popular do Mar visita área de ilhas para falar sobre impactos das mudanças climáticas

Inundação, erosão, intrusão salina e manguezais são os temas abordados em oficinas e a comunidade é convocada para agir na proteção ambiental


Por Mariana Braga

Apresentação da equipe do OMARA - Foto: Lana Nunes

No mês de agosto, o Observatório Popular do Mar – OMARA realizou em seis comunidades do Distrito do Bailique discussões e oficinas sobre as mudanças na região. Em setembro, as oficinas serão realizadas em Chaves. A programação tem como foco principal mobilizar as comunidades para participarem do Observatório como agentes de cuidado e observadores do ambiente, diante das mudanças climáticas.


A experiência no Bailique ocorreu no mês passado. Em uma relação de troca de saberes, discutiram como os processos naturais da região da Foz do Rio Amazonas são influenciados pelas alterações no nível do mar.


As oficinas foram desenvolvidas nas comunidades do Limão do Curuá, Jangada, Macedônia, Freguesia, Arraiol e Equador. No entanto, outras populações das comunidades vizinhas se deslocaram para esses espaços sedes e a programação contou com a participação de 14 comunidades ao todo. Com a presença de líderes de comunidade, professores, agentes comunitários de saúde, representantes de igrejas e moradores interessados aprenderam sobre os principais temas de risco para a região.


Alunos da EMEI Patrona Rosa Sarges, na comunidade de Arraiol - Foto: Cauê Benício

No contexto das mudanças climáticas, faz-se necessário monitorar por meio de informações geográficas voluntárias, para saber quais processos vão afetar com mais intensidade a zona costeira amazônica, especialmente aqui no Amapá. Segundo as pesquisas e os estudos do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Amapá (IEPA), esses processos são: inundação, intrusão salina, erosão e mudança nos mangues.


A pesquisadora Valdenira Santos, do IEPA, especialista em Geologia e Geofísica Marinha, coordenadora do OMARA, afirma que “esses são indicadores de mudanças na zona costeira, que vão ser alterados no contexto de mudanças climáticas, pois com o aumento do nível do mar tende a aumentar a entrada de água salgada, a aumentar as erosões, além dos processos de inundação. E os manguezais são uma vegetação que vão acompanhar esses processos”.


Oficinas

Registros das atividades durante as oficinas. Fotos: Mariana Braga e Cauê Benício


A inundação na Foz do Rio Amazonas é um processo que ocorre nos períodos de cheia dos rios, em razão das chuvas fortes, quando o rio entra em contato com o mar, esse aumento é potencializado pelas marés. A bolsista do projeto, Ivana Mota, que é acadêmica de Engenharia Florestal na Universidade Estadual do Amapá (UEAP), mediou a oficina destacando modos de monitoramento do nível da água, como por exemplo com a régua linimétrica, que serve para informar os níveis d´água.


Sobre a erosão, “esse processo acontece quando o solo ou rochas são desgastadas pela ação das correntes fluviais, ação dos ventos, ondas, água das chuvas e marés. Esse processo também pode ser intensificado quando esses ambientes naturais são utilizados para construções humanas”, explicou Lana, que também é bolsista do Omara, e graduanda do curso de Ciências Ambientais, na Universidade Federal do Amapá (UNIFAP).


Uma atividade memorável durante a oficina foi a criação do Painel de Memórias, relembrando onde foi visto o processo de erosão ou crescimento de terras na região do Distrito do Bailique, e relatando quais foram os problemas que ocorreram após. Das terras e construções afetadas com o processo da erosão só restam memórias.


A intrusão salina ocorre quando a água do oceano adentra em massas de água doce de rios ou águas subterrâneas. Assim, a água doce pode se tornar salobra ou completamente salgada. Esse problema é enfrentado pela população do Bailique há muito tempo. Já até destacamos na AGCOM ações de Governo para subsidiar as comunidades de água potável ou mesmo de caixas d 'água para armazenamento e utilização para plantio, cozimentos, etc.


Claudiane Barbosa é presidente da Associação de Mulheres Extrativistas do Limão do Curuá (AMELC), e expressa a importância de ações como a do OMARA são transformadoras nas comunidades. “É de grande importância para a nossa comunidade, e aqui dentro a gente vem enfrentando alguns problemas, e sentimos um abandono, porque órgão nenhum vem buscando pesquisar e procurar onde está o problema. Então eu tô com uma perspectiva grande, e espero que dê certo isso que vocês estão iniciando hoje, porque a gente confia nesses trabalhos”.


Demonstração de equipamentos - Foto: Mariana Braga

Luís Roberto Takiyama é pesquisador do IEPA, e monitora a temática de intrusão salina junto com a bolsista Heloísa Nogueira, que é graduanda de Geografia na UNIFAP. Nas oficinas foi destacado como esse processo afeta a região com apresentação de experimentos visuais para saber quando e o quanto a água está salgada e as consequências disso.


“Isso afeta não só a disponibilidade de água doce para a população, mas também traz mudanças ambientais a curto e médio prazos, forçando as comunidades a adaptarem seus meios de sobrevivência. Um exemplo é a ocorrência de água salgada em muitas comunidades do Bailique, em locais onde isso não acontecia no passado. Com isso, a pesca do camarão regional tem sido afetada pois os crustáceos migram para áreas de água doce, mais propícias para a sua espécie” afirma o pesquisador Luís Takiyama.


Equipamentos para medir a quantidade de sal na água - Foto: Luís Takiyama

A pesquisadora Valdenira dos Santos falou sobre os manguezais. São ecossistemas costeiros, compreendendo principalmente árvores e arbustos nessa zona de transição entre a terra firme e o mar. E importam como indicadores “se a terra cresce, o manguezal vai crescer em cima; se a terra recua com a erosão, os manguezais também vão ser erodidos”, explica a pesquisadora.


São espécies que se adaptam às condições das zonas entre marés e são afetadas por fatores ambientais, tais como: inundações, correntes, ventos, chuvas, presença de água do mar e sedimentos finos. A pesquisadora também reiterou que a presença dos manguezais pode ser um indicador otimista na redução da erosão. “Na literatura, dizem que esses manguezais diminuem os riscos da erosão, não é que eles diminuam efetivamente, mas se existem manguezais nessa região, eles podem diminuir o impacto da energia das ondas e das marés sobre o solo. Com isso, diminui a possibilidade desse solo colapsar e erodir”, afirmou.


Geração Oceano

Crianças participando da dinâmica na ação. Fotos: Cauê Benício


A programação do OMARA também preparou um ambiente educativo exclusivo para o público infantil, cuidando das futuras gerações das comunidades costeiras da Foz do Amazonas. Divertiram-se muito com um ensaio fotográfico fantasiados com algumas lendas amazônicas.


A bolsista Heloísa Nogueira e o voluntário Welton Alves, ambos graduandos em Geografia na UNIFAP, refletiram sobre a importância do oceano e incentivaram a cultura oceânica para as crianças. Pintaram e sonharam um ambiente limpo e seguro para se viver.


O OMARA é uma iniciativa financiada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação - MCTI através Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq, voltada ao engajamento e popularização da ciência, com objetivo de envolver as comunidades costeiras e a população em geral na necessidade de entender como as mudanças climáticas com a elevação do nível do mar irá afetar a vida das comunidades.


*Comunidades presentes nas discussões no Bailique: Limão do Curuá, Jangada, Andiroba, Jangadinha, Jaburuzinho, Macedônia, São Pedro do Curuá, Freguesia, Franco Grande, Igarapé do Meio, Arraiol, Maranata, Equador e Retiro Canaã.


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