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Instituto Mapinguari realiza o Amazônia Terra Preta 2023

Atualizado: 18 de set.

Racismo ambiental e injustiça climática foram principais temáticas debatidas nos dois dias de evento.


Por Winicius Tavares e Mariana Braga


Oficina teórica de introdução a agroecologia. Foto: Winicius Tavares e Thales Lima
Oficina teórica de introdução a agroecologia. Foto: Winicius Tavares e Thales Lima

O Instituto Mapinguari promoveu nos dias 24 e 25 de março mais uma edição do evento Amazônia Terra Preta (ATP), que levou conhecimento e cultura às áreas urbanas e periféricas da cidade. A celebração tem como referência o Dia Internacional de Combate à discriminação Racial - 21 de março.


No primeiro dia, aconteceram Oficinas de Caixa de Marabaixo e Introdução à Agroecologia no quilombo do Curiaú. No segundo dia, realizado na Escola Estadual Gal Azevedo Costa, houve mostra de cinema, conversa com especialistas no lançamento da campanha Agroecologia no Prato e o encerramento com uma super programação cultural.


O Amazônia Terra Preta tem o objetivo de fomentar o debate sobre racismo ambiental e justiça climática no Amapá, trazendo para uma perspectiva local da problemática. Hannah Balieiro, diretora executiva do Instituto Mapinguari, afirma que as áreas de ressaca, indígenas e quilombolas geralmente são mais vulnerabilizadas e sofrem mais com as questões climáticas.


"A crise climática não é algo que é igual para todo mundo. A gente precisa entender isso para atender prioritariamente e pensar nas soluções de quem precisa já ser atendido com urgência. Muitas vezes essas próprias comunidades já estão pensando, já estão construindo suas soluções e a partir delas que a gente precisa pensar nesse combate a crise climática", reitera Hannah.


Hannah Balieiro, diretora executiva do Instituto Mapingurari. Foto: Winicius Tavares

Oficina de introdução à Agroecologia

Aconteceu no quilombo do Curiaú a oficina, no espaço da Escola José Bonifácio, reunindo agricultores, professores, cientistas, ativistas sociais e acadêmicos. A Agroecologia visa a criação de sistemas de produção que mantenham o equilíbrio ecológico.


O ministrante da oficina Yuri Silva, também biólogo e diretor técnico do Instituto Mapinguari, ressalta o caráter transdisciplinar da agroecologia, envolvendo não só aspectos biológicos, mas também éticos, culturais, alimentares e políticos, tornando-a um campo do conhecimento complexo e completo.


Yuri Silva, biólogo e diretor técnico do Instituo Mapinguari. Foto: Winicius Tavares

Os participantes tiveram um primeiro momento expositivo para entender os conceitos agroecológicos e um segundo momento mais imersivo, com a prática do plantio na agrofloresta que foi desenvolvida na escola há 2 meses pelo instituto. Foram trazidas diversas espécies que não estavam plantadas para serem semeadas pelos mesmos, em locais estratégicos onde havia falhas e já não germinavam plantas. “Nós viemos para incrementar essa agrofloresta e poder gerar um pouco mais de segurança alimentar e nutricional, um alimento mais nutritivo aqui no ambiente da escola”, conta Yuri.


Participantes da oficina plantando diversas espécies de planta na agrofloresta. Foto: Winicius Tavares

Maira Furtado, de 25 anos, acadêmica de Arquitetura e Urbanismo na UNIFAP, ficou sabendo do evento pela página do Mapinguari no Instagram. A curiosidade de saber como funciona uma plantação foi o que levou ela a se inscrever para ser uma das participantes da oficina de agroecologia. Porém, sua maior motivação é acadêmica, seu TCC é sobre o quilombo do Curiaú, um lugar onde ela possui uma relação afetiva muito forte. “A gente não vira o olhar para essas comunidades e a coexistência deles. Existe uma cadeia socioprodutiva. Aqui as pessoas sobrevivem do que essa terra dá. É uma questão de identidade, olhar para o quilombo do Curiaú e nos enxergar também”, expõe Maira.


O envolvimento dos mais jovens com a agricultura é um desafio que o Instituto enfrenta. Para Yuri, muitos jovens são envolvidos por uma lógica capitalista com uma narrativa que seria mais fácil sobreviver fora da comunidade do que produzir dentro dela, trazendo graves consequências. “A gente acaba tendo jovens em sub empregos, empregos mal remunerados, sendo que poderiam estar trabalhando para o seu próprio negócio, resgatando a florestas e promovendo saúde”, relata o biólogo.


Campanha “Agroecologia no Prato”

No segundo dia da programação, houve o lançamento da campanha Agroecologia no Prato, que tem como objetivo promover as discussões sobre a produção sustentável e o acesso de alimentos nutritivos e diversificados, além de buscar efeitos políticos, proporcionado que a campanha chegue até as Políticas Estaduais de Agroecologia e da Sociobiodiversidade (PEAPOS) para que consiga ser incluída nos parlamentos estaduais.

Atualmente, a PEAPOS se encontra congelada na Assembleia Legislativa. Essa política é muito importante para o desenvolvimento da agricultura familiar, extrativismo e pesca artesanal. A ideia do Instituto com a campanha é fazer um lobby político, conversando com secretários, governador e os deputados estaduais para que a política seja aprovada e implementada.


Porém, nem sempre é fácil realizar esse contato, é o que conta Adriane Formigosa, bióloga e diretora do Instituto Mapinguari, “a gente convidou órgãos públicos para participar desse momento, também para que as comunidades pudessem ser ouvidas por eles. Aí a gente percebe que é muito difícil a gente ter esse atendimento, nem sempre é fácil a gente trazer essas pessoas. Tivemos a presença registrada aqui da SEMA (Secretaria de Meio Ambiente), mas nós convidamos outros atores que não compareceram”, disse.


A Agroecologia no Prato busca oferecer cursos de formação política em agroecologia em duas escolas-famílias, uma no quilombo do Curiaú e outra em Mazagão, com o objetivo de que consigam debater a agroecologia do ponto de vista político e compreender como as lutas sociais estão ligadas a ela. “Agora a gente está nesse processo de se aproximar dessas instituições e tentar estabelecer essa parceria, esse vínculo, com instituições que já trabalham agricultura de maneira sustentável, que já trabalham com jovens e que estão nesse território além de Macapá”, afirma Adriane.


Adriane Formigosa, diretora do Instituo Mapinguari. Foto: Winicius Tavares

A campanha também contou com a participação da professora Janaina Calado, que é integrante do Núcleo de Desenvolvimento Territorial Sustentável (NUTEX), projeto de extensão da Universidade do Estado do Amapá (UEAP), que busca trabalhar formas de desenvolvimento territorial, incorporando a complexidade do povo amazônida.


O Nutex assinou como um dos grupos que estaria apoiando a campanha Agroecologia no Prato, não somente isso, mas toda a discussão. Então o pessoal do Mapinguari nos apresentou que terão várias frentes de atuação para fazer a política acontecer. Vamos ter uma frente formativa, uma frente de discussão mais política, e nós entendemos que tem tudo a ver com o objetivo do projeto Nutex, pois está ligado em desenvolver o território", expressa Janaina.


Lançamento da Campanha Agroecologia no Parto. Foto: Mariana Braga

E para finalizar, a primeira reunião do lançamento da campanha Agroecologia no Prato, o grupo cultural de marabaixo e batuque Heranças Ancestrais apresentou Ladrões de Marabaixo, proporcionando a roda de dança e interação entre os participantes da programação.


Cleane Ramos, que é atual presidente do Heranças Ancestrais, ressalta que eles são um grupo de jovens e crianças do quilombo do Curiaú, que buscam resgatar a cultura e tradição do marabaixo.


O Instituto Mapinguari entrou em contato com a gente justamente por ter esses jovens e até mesmo pelas atividades que eles desenvolveram dentro do Curiaú, que foi sobre a agroecologia e agricultura familiar, muitas famílias ali foram beneficiadas. Então ter essa parceria com eles é para mostrar um pouco do que a gente sabe”, ressaltou Cleane.


Grupo Heranças Ancestrais com Adriane Formigosa, diretora do Instituo Mapinguari. Foto: Wincius Tavares

O encerramento da programação, na quadra da Escola Estadual Gal Azevedo Costa, reuniu artistas amapaenses da nova música popular amapaense, Ruan Mikael, Paixão, DJ Dominatrix, Bebeu, Yanna Mc e Pinduca foram destaques da noite.


Maria Isabel (Bebeu), que é acadêmica de artes visuais, recebeu o convite para participar como atração de live painting (pintura ao vivo). “A importância desse momento proporcionado pelo Mapinguari para dar destaque a esses artistas locais é desconstruir a ideia de que no norte não tem arte, pois muitas pessoas pensam isso, que no norte é produzido uma arte vulgar, e não é isso. Nós somos criadores”, expressa Bebeu.


Quadros da artista Bebeu. Foto: Mariana Braga

O Instituto Mapinguari é uma Organização Não Governamental da Amazônia que atua desde 2015 apoiando e executando ações de defesa, preservação e conservação do meio ambiente. Além de incentivar e promover o desenvolvimento sustentável na Região Norte e no estado do Amapá, também participa de debates internacionais, como a COP-26 em Glasgow e a COP-27 no Egito. 


Acompanhe o trabalho do Instituto pelo site  https://www.mapinguari.org ou pelo perfil no Instagram, @imapinguari.

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