Professores da Universidade Federal do Amapá se unem a 54 universidades federais em busca de recomposição salarial e melhores condições de trabalho.
Por Giovane Brito
Professores, alunos e técnicos da universidade reunidos em assembleia de greve docente. Foto: Gil Reis - Sindufap.
Macapá (AP) - Os professores da Universidade Federal do Amapá (Unifap), após assembleia geral realizada no dia 07 de maio pelo Sindicato dos Docentes da Universidade Federal do Amapá (Sindufap), aderiram à greve nacional da educação pública federal. A decisão, com apoio dos alunos e técnicos da instituição, luta por reajuste salarial, melhores condições de trabalho e estudo na Unifap e investimentos para bolsas de pesquisa e extensão. O cenário de precarização é grande e alguns cursos estão sem o mínimo de condições para funcionar, sendo ameaçados de fechamento. O curso de Jornalismo é exemplo: o corpo docente é insuficiente para compor o Núcleo Docente Estruturante (NDE) do curso e inexistem laboratórios para aulas práticas dos estudantes.
O movimento de greve é direito garantido pela Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. O Art. 9° assegura a liberdade dos trabalhadores para a adesão à greve como forma de luta por melhorias nas condições de trabalho. A paralisação da universidade é uma forma de mostrar as dificuldades enfrentadas por anos pelos professores, alunos e técnicos da Unifap, e para levar para as negociações nacionais as demandas locais. Os docentes se unem ao corpo técnico-administrativo da universidade, que também está com as atividades paralisadas desde março.
Professores votaram em assembleia adesão à greve. Foto: Arquivo.
A adesão da comunidade acadêmica à paralisação é reflexo da precarização da universidade, o que dificulta o ensino, a pesquisa e a extensão, os três pilares das universidades federais. Dentre os relatos dos discentes, o sucateamento do ensino público federal, que prejudica o desempenho dos cursos, a formação de novos profissionais e a devolução para a sociedade amapaense de serviços de qualidade. O abandono dos polos da universidade nos municípios de Oiapoque, Santana, Laranjal do Jari e Mazagão também são pontos de preocupação.
O estudante de Jornalismo, Paulo Gama, esteve presente na assembleia que deflagrou a greve. O acadêmico é a favor do movimento de reivindicação de direitos e diz que não é uma luta apenas dos técnicos e professores, mas também dos estudantes, que são diretamente prejudicados pelo descaso de anos da universidade.
O estudante falou sobre a necessidade da participação dos estudantes na greve. Foto: Arquivo pessoal e Sindufap.
“Nos falta o básico para continuarmos estudando e produzindo ciência, e chega um momento que não dá mais para "levar com a barriga". Pois precisamos de blocos com novas salas de aula, laboratórios, estruturas com saneamento básico, como água potável, banheiros, luz e ar. E para além de estrutura física, precisamos de professores efetivos. Tudo isso prejudica o nosso ensino e aprendizagem, então a greve é o momento para cobrar da reitoria e do governo federal a recomposição orçamentária da universidade”, ressalta o acadêmico.
Na tarde de segunda-feira (13), os representantes do Sindufap se reuniram com os prós-reitores da Unifap, momento em que discutiram a suspensão do atual calendário acadêmico. Também foram agendadas outras reuniões com as demais pró-reitorias, para maior alcance das reivindicações do movimento grevista.
Na quarta-feira (15), o Comando Local de Greve do Sindufap tinha uma reunião agendada com a Pró-reitoria de Graduação (Progad); porém, os representantes da reitoria da Unifap não compareceram à reunião.
Uma reunião com o Conselho Universitário da Unifap (Consu) está marcada para o dia 21 de maio (terça-feira), nela serão decididos os desdobramentos da greve, incluindo a deliberação acerca da suspensão ou não do calendário acadêmico.
Sindufap em reunião com pró-reitores da unifap. Foto: Gil Reis - Sindufap.
O presidente do Sindufap, Tadeu Lopes, destaca a greve dos técnicos administrativos, que estão paralisados desde março, e conta que ambos têm pautas de reivindicações semelhantes, reforçando a união dos trabalhadores no movimento.
“Avalio como um começo muito forte da greve, com adesão quase unânime dos docentes. Mais de 100 professores participaram da assembleia de adesão à greve, com a maioria a favor. Começamos os diálogos com a reitoria da Unifap. Apesar de estarmos unidos em uma greve nacional, temos pautas locais a serem discutidas com a reitoria da universidade. Nós estamos apenas reivindicando as perdas que tivemos nos anos anteriores; não queremos aumento salarial, apenas recomposição salarial”, conta Tadeu.
Precarização do curso de jornalismo
Alunos e professores de jornalismo unidos na greve. Foto: Paulo Vitor.
A falta de investimento na universidade dificulta o funcionamento dos colegiados, como a falta de salas, laboratórios e o quantitativo adequado de professores ativos, realidade do curso de Jornalismo. Segundo relatos de professores e alunos, o curso passa por diversos problemas estruturais, e os professores temem a extinção da graduação por falta de suporte técnico e de docentes.
Para apresentar as demandas urgentes do colegiado de Jornalismo, no dia 7 de maio, os professores Ivan Carlos, Rafael Wagner, Elisângela Andrade e a coordenadora do curso, Roberta Scheibe, estiveram presentes na 23ª Sessão Ordinária da Câmara Municipal de Macapá (CMM). Conforme o corpo docente, o curso atualmente não tem o número suficiente de professores para a montagem do Núcleo Docente Estruturante (NDE), que determina o quantitativo mínimo de 5 professores efetivos para o funcionamento da graduação. Atualmente, o colegiado é formado apenas por 4 profissionais, sobrecarregados, tornando inviáveis os investimentos nas áreas de pesquisa e extensão em comunicação.
Alunos e professores reunidos na câmara dos deputados da capital. Foto: Arquivo pessoal.
Em fala na tribuna, a coordenadora Roberta Scheibe, representando todo o colegiado de jornalismo, contou a história do curso que iniciou em março de 2011, relembrou as etapas para a criação e permanência da graduação. Ela também reforçou a importância do curso para o fortalecimento da democracia e destacou a boa pontuação dos professores nas avaliações realizadas pelo Ministério da Educação, mesmo com a precarização existente.
A professora Roberta representou o colegiado no tribunal. Foto: Rosivaldo Nascimento - CMM.
“Historicamente, sempre tivemos problemas estruturais no curso. Muito do que conseguimos foi graças aos investimentos financeiros do professor e Padre Aldenor Benjamim, falecido em outubro de 2020. Neste momento, temos dificuldades com a falta de professores. Nossa luta agora é por mais professores e melhores estruturas para a graduação. Seguimos firmes e resistentes nesta luta pela educação brasileira, nortista e amapaense. Queremos formar jornalistas capacitados, críticos e éticos, que possam servir à sociedade amapaense”, discursou a coordenadora.
O colegiado, em carta aberta à sociedade amapaense, descreveu a atual situação da graduação e as reivindicações de melhorias para o pleno exercício da formação acadêmica. No comunicado, é relatada a péssima condição estrutural, como a falta de computadores, laboratório de fotografia, estúdio de TV e rádio, laboratório para edição de vídeo, projetores em quantidade suficiente para suprir as necessidades do curso, além da falta de cadeiras e mesas nas salas de aula.
“A universidade pública, apesar dos graves problemas estruturais que enfrenta, ainda é a principal forma de ascensão social da classe trabalhadora no Brasil. É através dela que os filhos da população mais pobre do nosso país conseguem conquistar uma profissão, com o mínimo de dignidade para o seu futuro. A defesa desse espaço é, antes de tudo, o compromisso com a luta por uma sociedade brasileira capaz de reduzir sua abissal diferença entre ricos e pobres. O Jornalismo, por sua vez, é uma ferramenta fundamental para a existência de qualquer democracia. O desmonte do curso de Jornalismo da Unifap é, antes de tudo, uma perda inestimável para a sociedade amapaense.
Nesse sentido, entendemos que a greve na Unifap é um momento oportuno para que o movimento possa dialogar com a sociedade amapaense e apresentar à reitoria e ao governo federal a situação crítica que enfrentamos, com suas devidas e justas reivindicações. A luta em defesa da educação pública e do Jornalismo representa um compromisso ético com a sociedade brasileira e com o Amapá”, diz a carta aberta do colegiado de jornalismo para a sociedade.
Confira a carta completa: Clique aqui!
Greve nacional
Docentes nas ruas protestando por melhorias na educação pública. Foto: Redes sociais do ANDES-SN.
A greve nacional começou no dia 15 de abril e desde então conta com 54 universidades federais e 2° com data para unir-se à movimentação, segundo informações disponibilizadas pelo Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes-SN). A última greve nacional liderada pelo sindicato aconteceu em 2016, na qual movimentou os setores federais, estaduais e municipais.
As movimentações da greve articularam algumas reuniões durante a semana entre os dias 14 a 18 de maio. Os encontros agendados acontecem em Brasília e são coordenados pelo Comando Nacional de Greve (CNG). Na quarta-feira (15), aconteceu a 5ª reunião da Mesa Específica e Temporária do Magistério Federal, o encontro realizado no Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, no qual foram tratadas as pautas para negociação que terão impacto orçamentário.
Dentre as pautas defendidas pelo ANDES-SN destacam-se: a reivindicação de reajuste salarial dos docentes de 7,6% para o ano de 2024, 9% para 2025 e 5,16% em 2026. A proposta do governo federal era o reajuste de 0% para o ano de 2024. A solicitação de ampliação de benefícios de alimentação, saúde e creche são outros pontos de cobrança dos docentes, que solicitam a equiparação dos valores dos benefícios com os demais poderes.
Entramos em contato com a pró-reitoria de graduação (Progad) da Unifap em busca de esclarecimento sobre a greve e a ausência na reunião do dia 15, mas até o fechamento desta reportagem, não recebemos retorno.
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