O mais novo membro da academia é também jornalista e professor na Universidade Federal do Amapá.
Por Gabriela de Matos
Gian Danton (Foto: arquivo/ivancarlo.blogspot.com)
Formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), Gian Danton, que é pseudônimo de Ivan Carlo, como é conhecido por seus alunos na Universidade Federal do Amapá, é escritor e roteirista de histórias em quadrinhos. Em 2000, ganhou a categoria de melhor roteirista no Prêmio Ângelo Agostini, evento brasileiro destinada ao universo dos quadrinhos. Suas obras passeiam pelos gêneros de ficção científica, terror, fantasia, entre outros estilos literários. O escritor conquistou a cadeira, antes ocupada pelo professor Gabriel de Almeida Café, e sua nomeação como mais novo imortal está prevista para o fim do mês de outubro.
Capa do livro Jornalismo em quadrinhos (Foto: arquivo/Gian Danton)
AGCOM: Como funciona essa nomeação?
GIAN DANTON: A nomeação para Academia Amapaense de Letras é via concurso. Dessa forma, foi aberto um edital, no qual eu concorri e os membros que já são da academia, fizeram a votação. Cada pessoa escolheu uma cadeira, eu soube que a minha foi a mais concorrida, que foi a do Gabriel de Almeida Café.
AGCOM: O senhor está sendo eleito como roteirista e escritor de quadrinhos?
GIAN DANTON: Assim, eu tenho uma trajetória de quadrinhos que não começa no Amapá. Essa caminhada inicia em Belém, no final da década de 80 e início da década de 90. Também percorre Curitiba. Já aqui em Macapá, eu fiz a Turma da Tribo, mas eu acredito que foi um conjunto. Não foi apenas pelos quadrinhos, mas também pelos livros. Mais recentemente eu lancei a “Cabanagem”, que é um livro muito direcionado a cultura da região, porque ela se passa no Amapá. Pelo que já me falaram, foi pelo conjunto da obra. Mas, de fato, há uma novidade aí porque, geralmente, quem costuma ser eleito pra essa Academia, são aqueles escritores mais convencionais da literatura, com “caixa alta”. Então, uma literatura mais pop não era considerada como literatura, nisso incluímos a história de gênero, como fantasia, terror, ficção científica, policial e etc. Tanto que normalmente esses autores não entravam em academias, por conta desse preconceito que existia, mas isso tem mudado muito.
Eu vejo a minha eleição para a Academia Amapaense de Letras como um aceno, porque a literatura mais pop está passando a ser reconhecida. A “Cabanagem”, por exemplo, é uma mistura de fantasia com o terror. Eu considero um livro muito diferente de todos os outros que normalmente a gente considera leituras clássicas. Considero a minha eleição um aceno a aceitação desses gêneros e dessas modalidades literárias, que não eram aceitas antigamente.
Capa do livro Cabanagem (Foto: arquivo/Gian Danton)
AGCOM: A cultura pop está ganhando bastante espaço no Amapá, quadrinhos, animações e coisas do gênero. O aumento de eventos destinados ao mundo nerd é uma prova disso. Qual a importância da sua nomeação para a cultura pop aqui no Estado, você acha que isso pode ser um incentivo para quem gosta e sonha em trabalhar com esse universo?
GIAN DANTON: Eu tenho acompanhado alguns outros autores, que também seguem uma linha mais pop de literatura de gênero no Amapá. Quando eu cheguei aqui não existia e hoje consigo visualizar alguns autores publicando livros, escrito quadrinhos também. Isso para mim é maravilhoso. Eu não consigo visualizar literatura como apenas Machado de Assis, Stephen King é literatura também. Então, eu percebo que existe uma nova geração aí que tem uma visão bem menos preconceituosa do que seja a literatura. Talvez a abertura da academia nesse sentido, ajude também, porque uma vez que a academia tem no seu quadro alguém que é escritor de livros de gênero e roteirista de quadrinhos, demonstra uma diminuição de preconceito da sociedade de forma geral e, especialmente, das instituições.
AGCOM: E qual a emoção de estar sendo eleito um imortal?
GIAN DANTON: Olha é muito emocionante ter sido eleito, sendo muito sincero: quando me inscrevi eu não esperava ser escolhido (…) para mim foi uma surpresa muito grande, porque eu imaginava que existia ainda aquele preconceito em relação a esse tipo de literatura pop. É emocionante, porque a academia tem pessoas na literatura, na cultura do Amapá, pessoas muito próximas a mim. Eu poderia citar muitos exemplos, mas em especial a Alcinéa Cavalcante, uma jornalista fenomenal, uma escritora fantástica. Eu sou fã da Alcinéa a ponto de ter pedido para ela escrever o prefácio da “Cabanagem”, que para mim foi uma honra muito grande.
O meu livro anterior foi prefaciado pelo Lucchetti, que era roteirista dos filmes do Zé do Caixão. Eu costumo dizer que tenho a sorte de ter nos meus livros prefácios de pessoas que são verdadeiros ídolos. É uma felicidade muito grande mesmo ter sido eleito, fazer parte de uma comunidade que, assim, eu reconheço como pessoas realmente muito importantes para o Amapá. Como eu costumo brincar: é uma felicidade ser imortal.
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