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Dos movimentos sociais à participação ativa com as entidades políticas

Estudantes se engajam politicamente em busca de melhorias e políticas públicas.


Por Ana Beatriz Carvalho

Jovens participantes da UJS-AP reunidos em prol da democracia. Foto: Divulgação / UJS-AP.

A falta de ônibus e o baixo acolhimento da universidade pública com os estudantes provocou a estudante de filosofia Meris Fabiola, 24 anos, a se engajar na militância estudantil na União da Juventude Socialista Amapá (UJS-AP). Ela não queria se sentir aprisionada em meio a escuridão de um ponto de ônibus santanense enquanto tentava voltar para casa após um dia tomado pelas aulas do campus da Universidade Federal do Amapá (Unifap), em Santana.


A escuridão e a baixa circulação dos ônibus colocavam a estudante à mercê de uma rotina “perigosa” e, por conta disso, sentiu a necessidade de ingressar em um movimento no qual pudesse realizar ações para mudar a realidade que ela e milhares de estudantes enfrentavam diariamente. “Eu sou da Unifap Santana, e durante o período de 2019, quando eu entrei, não tinha ônibus pra galera se deslocar, já faltava muita coisa dentro da universidade e por isso eu resolvi me engajar nas causas sociais”, afirma.


Dentro da UJS, Meris teve participação ativa nos atos em defesa da educação, na busca por assistência estudantil, participou dos atos Fora Bolsonaro, brigou para que estudantes de escola pública tivessem necessidades básicas atendidas. Devido seu engajamento, acabou adquirindo proximidade com a política e as atividades que aconteciam dentro do âmbito educacional.


Entretanto, dentre os projetos os quais já esteve à frente, o mais impactante para ela foi durante o período pandêmico, pois atrelado aos casos de Covid-19, houve o apagão de energia elétrica que deixou 13 dos 16 municípios amapaenses no escuro por 22 dias. Para amenizar essa situação, jovens se uniram para montar marmitas, produzir gelo, distribuir cestas básicas e cobrar medidas para suavizar as dores da sociedade estudantil.


“Eu vi pessoas que eu conhecia passando por necessidades, e quando tudo fechou a universidade não acolheu os estudantes que dependiam do R.U, então alguém precisava ir pra cima”, relata.


Os estudantes integrantes da UJS-AP, em composição do Diretório Central dos Estudantes (DCE), durante 2019 e 2020, realizaram ações que para socorrer os universitários que estavam passando por necessidades. Foi a partir disso que se iniciou a discussão para que a UNIFAP provesse vale-alimentação e bolsas permanências. “Precisamos intervir para impedir que houvesse um desmonte na educação”, diz Meris. Foi graças a esse movimento que a Pró-reitora de Extensão e Ações Comunitárias (PROEAC) concedeu o auxílio emergencial alimentação, sendo 300 cotas, no valor de R$ 300, cada.


Para o estudante Eduardo Maia, 27 anos, a política sempre esteve presente em sua família. Desde muito jovem, saía às ruas com os pais com o intuito de lutar pelos seus direitos. “Em 2013, eu tomei um tiro de borracha nas costas durante as manifestações contra o aumento da passagem”, conta. Para o estudante havia muita injustiça, pois o valor da passagem aumentava e a qualidade dos ônibus continuava sucateada.


Em 2020, o estudante disse que o apagão o impactou pois teve contato com pessoas que não tinham o que comer, então dentro da sua casa, em conjunto da sua família, produzia marmita para moradores de rua. Desde então, resolveu se envolver nos movimentos estudantis, pois antes de entrar nesse mundo, suas amizades não tinham engajamento social para se solidarizar como ele acreditava ser o correto. Foi em 2021 que conheceu o movimento UJS-AP e passou a participar de todos os atos em para o da educação.

O engajamento dos jovens com o movimento vem da falta de identificação com as políticas públicas. Foto: Divulgação / UJS-AP

Juventude versus política


Segundo a cientista social Rayanne Pontes, 26 anos, a participação dos jovens na militância política é importante para que haja o interesse para ingressar nas causas políticas. “A participação dos jovens no cenário político não só para o exercício do processo democrático, mas pela pluralidade de ideias”, diz.


Ela alertou que muitas vezes esses jovens não sentem que as políticas públicas para educação, emprego, saúde e lazer condizem com a sua realidade e não atendem as problemáticas enfrentadas por esse público em específico. Nesse contexto, há a necessidade de se fazer ouvir. “O interesse pela política surge pela existência de necessidades não atendidas, ou não atendidas efetivamente, aliada à sensação de falta de representatividade”, relata.


É justamente essa falta de identificação com as políticas públicas adotadas que faz a estudante Meris Fabiola acreditar que os jovens têm que ocupar as cadeiras em cargos públicos. “A gente precisa de suporte, não adianta a gente ficar gritando, se no fim é preciso alguém com uma caneta para resolver”, alerta.


Mensagem de apoio deixada pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) em sua rede social. Foto: Reprodução /Instagram.

Este também foi um motivador para que Janaina Côrrea, atual diretora nacional da União Nacional dos Estudantes (UNE), concorresse para vereadora em Macapá nas eleições de 2022. “Eu presidia a UJS-AP e, em conjunto com a ex-deputada professora Marcivania, entendemos a importância da candidatura jovem, de alguém que entendesse nossas pautas”, afirma.


Janaina sempre viu o movimento estudantil, mas sentia falta de representatividade do parlamento, quem falasse de cultura, de saúde, da educação voltada para os jovens. Ela enxergava na câmara os “homens brancos, cis, heteros, com poder aquisitivo alto que não pensava periferia”.


A diretora da UNE acredita que os jovens ainda não estão inseridos nesse meio pela falta de oportunidade e de investimento por parte dos partidos, que muitas vezes “não priorizam as campanhas da juventude”, destaca. Ela também acredita que o jovem é pouco representado no Brasil, mas que há instituições como a UNE que representam essa grande massa. “Com essas entidades, conseguimos ter uma maior representatividade do jovem, mas dentro do parlamento, precisamos eleger e investir mais no mandato de jovens”, ressalta.


Segundo dados divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a candidatura dos jovens entre 18 e 24 anos é muito inferior em relação as demais faixas etárias. Em um comparativo realizado entre as eleições de 2018 e 2022, é possível observar uma queda de 37% no número de jovens que se candidataram a cargos públicos.


Infográfico com levantamento realizado do Tribunal Superior Eleitoral. Fonte: Jornalismo / AGCOM.

A cientista social Rayanne Pontes comenta sobre como é importante a participação dos jovens no cenário político e da pluralidade de ideias. “Em qualquer cenário democrático, a pluralidade de ideias na construção de políticas é de suma importância. Além disso, essa participação política se faz necessária para que os jovens possam ter voz e possam romper com um processo de construção de políticas públicas que são pensadas a partir do que se presume que esse público necessita”, afirma.


Essa participação política pode vir a promover uma ampliação da consciência social desses jovens ajudando-os a compreender sua própria realidade, a reivindicar seus direitos e buscar soluções para suas problemáticas.


Ganhando voz

Jovens participam ativamente dos atos políticos realizados no estado. Foto: Divulgação / UJS-AP.

A UJS é o maior coletivo da juventude na América Latina e se concentra por meio dos movimentos estudantis, da União Nacional dos Estudantes (UNE), União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), Diretório Central dos Estudantes (DCE’s), Centros Acadêmicos e dentro de mandatos espalhados pelo Brasil. No Amapá, é concentrada dentro das universidades e nas causas sociais. “A gente está se organizando dentro das câmaras, dos órgãos públicos e de todos os espaços que podemos ocupar para ter uma finalidade política, e chegar naquilo que estamos buscando”, completa Meris Fabiola, presidente da UJS-AP.


Esse grupo de jovens busca se relacionar com os mandatos, pois precisam de suporte já que não são todos que olham para a realidade do estudante. “O reitor não escuta a gente, mas escuta um deputado, escuta um senador”, informou. Outra problemática relatada, é o fato de que muitas vezes, no meio político, as pessoas não a escutam as mulheres e jovens, principalmente. “Acaba que a gente sofre violência de gênero, LGBTfobia dentro desses espaços políticos, além de falas racistas e homofóbicas”, relata.


Meris também pontua que a “política não é feita pra pensar no pessoal, e sim no bem comum”, por conta disso estão sempre dispostos a dialogar com os mandatários, debatendo e ouvindo, independente do partido, pois acredita que se é para mudar, é preciso que a UJS não esteja dentro de uma bolha. Para discutir as pautas, eles acabam se reunindo com a Secretaria da Juventude para expor a organização do movimento.


“A gente precisa de uma renovação, porque as pautas que são importantes para gente, podem não ser para eles. Eles não têm noção da nossa realidade, um exemplo disso foi durante a campanha de dignidade menstrual, é um item de necessidade básica, mas que acaba sendo um custo para famílias as carentes. Um absorvente de sete reais pode acabar se tornando um custo a mais”, destaca.


Recentemente, o movimento estudantil se reuniu com a Secretaria da Juventude para debater pautas que seriam relevantes para a população, “foi uma reunião importante para estreitar os laços com órgão importantes”, finaliza.


Quem é a UJS

A União da Juventude Socialista (UJS) é uma organização brasileira que possui a finalidade de formar jovens participativos politicamente e que atuem em prol de um ativismo progressista no país.



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