top of page
  • Foto do escritorAGCom

Da luz pela educação à luz das telas: Santanense desbrava o mundo do audiovisual

Igor Cardoso, diretor e artista regional, explora a arte através das lentes, seja do celular ou da câmera.


Por Luhana Baddini e Fabiana Saraiva

Igor dirigindo um set de filmagem. | Foto: Reprodução / Instagram.

O diretor prodígio de 23 anos, Igor Luiz Cardoso Santana, apesar de seus 1,59m de estatura, possui grandes ambições na sétima arte. De riso solto e tímido, Igor é um jovem inspirador que veio do interior santanense e enfrenta o desafio de produzir audiovisual na Amazônia desde a pandemia. Embora seja intimista, sempre soube qual era seu lugar, a direção cinematográfica.


Desde criança, Igor tem uma relação muito próxima com a educação, foi incentivado pelos pais à leitura, teve sua infância rodeada de livros e de cultura. Esse contato com o mundo cultural moldou os interesses de Igor pelas imagens, que começou ainda na escola. Ele desenvolveu um talento para o desenho e o aproximou ainda mais da arte, para depois desaguar na produção e na teoria cinematográfica.


A família Cardoso veio do interior do Pará, das ilhas do Afuá e a educação sempre foi importante para sua família. “Eu sempre defendi os meus valores, o acesso a ela e o poder de quebrar barreiras e construir caráter, por mais clichê que isso soe. Minha mãe é a mulher mais gentil que conheço e meu pai um grande educador, sempre nos mantivemos unidos. Sou infinitamente grato pelos meus pais professores, me ensinarem a fome pela vida acima de tudo”, afirma Igor.


Estudioso e amante de períodos históricos e de tudo que guiou a humanidade nos últimos 150 anos, Igor pensa ser o cinema a linguagem que melhor articula as demais artes. Com os olhos brilhando, ele conta que sua primeira motivação para fazer cinema no Amapá foi em 2020, em uma exibição do curta-metragem “Açaí”, no Festival de Imagem e Movimento (FIM).


Ele percebeu ali que poderia produzir com qualidade onde mora. Assim, surgiu a ideia para o filme no período de pandemia. “Encontrei os amigos certos, tão cheios de vontade quanto eu, e em um curto período de tempo produzimos o Ausência. Um curta feito de maneira totalmente independente, com 0 reais e o esforço conjunto de artistas que flertavam com diferentes áreas”, conta.


Igor é diretor de “Ausência”, filme que já percorreu diversos festivais, inclusive no exterior. A obra retrata uma jovem em um processo de depressão. "O curta-metragem baseado na vivência na pandemia/apagão, um breve estudo dramático sobre as presenças e as ausências”, relata. A produção foi escolhida como um dos competidores na Mostra Fôlego, do Festival Imagem-Movimento (FIM), principal evento de cinema do Amapá.


Em sua segunda jornada no cinema regional, Igor está trabalhando em um documentário a respeito das políticas públicas para o audiovisual, como Trabalho de

Conclusão do Curso de Artes Visuais na Universidade Federal do Amapá. O pequeno cineasta sonha grande e, atualmente, está trabalhando em seu novo documentário, que mostra seu engajamento na área junto ao média-metragem “Hy Brazil: Ilha dos Abençoados”, do qual possui roteiro de sua autoria.


Esse período de criação e preparação para os editais culturais, que tanto fala em seu documentário, servirão como gás para seu novo filme, que tem previsão de rodar neste mês de dezembro. “Agora, anos depois de me introduzir à cena local, percebi a extinção de grande parte desses programas e uma sobrevida, quase que totalmente, através de iniciativas independentes e que pouco ou nada tem a ver com os aparatos do estado”, pontua.


O documentário conta com entrevistas inéditas de pequenos e grandes realizadores, órgãos responsáveis, atores, produtores, diretores e estudantes. São pontos de vista que se entrelaçam em muitos níveis e ajudam a desenhar um mapa de aspirações e de tragédias. Algo para ser observado daqui a muito tempo, quando olharmos para trás e vermos que só agora, nesta década, o cinema amapaense começou a dar passos mais significativos rumo à industrialização e produção de obras cinematográficas.


Paralelo a isso, o cineasta se prepara para os editais culturais que virão esse ano, para produção do média-metragem “Hy Brazil”, do qual a equipe formou um coletivo e um cineclube chamado Cine Pupunha. Este clube deu seus primeiros passos recentemente e vem provocando uma movimentação na mídia e chegando na “boca do povo”. É um projeto sediado na Unifap e no Baluarte Cultural, espaço para discutir e apreciar, em um primeiro momento, filmes brasileiros e amapaenses.


Nos intervalos de um cigarrinho e outro, Igor nos conta: “Essas pessoas, a quem sentimos que o cineclube serve, podem descobrir novos meios e paixões a partir do pensamento crítico e do empirismo que advém dessa experiência. Por que o cinema é importante? Porque pensar, fazer e falar sobre a sétima arte é e sempre será uma experiência coletiva”, afirma.


Os filmes experimentais de Igor buscam memórias pessoais e coletivas baseadas em referências do cinema e da arte. O cineasta diz se sentir animado com sua nova produção, pois sente estar em um período de novas ideias e formas de se identificar com o que é produzido aqui no Norte.


“Hy-Brazil é uma pequena contribuição para esse contexto. Toda a equipe é advinda de programas culturais que nos introduziram de algum modo aos filmes locais, como Açaí e Utopia. Vimos de perto seus realizadores, pegamos o trem andando e decidimos assumir as rédeas do que tange essa ação”, relata Igor.


O filme se encaixa no gênero do realismo fantástico, sobre o misticismo local e as relações humanas no contexto amazônico, desenvolvendo uma narrativa a partir da perspectiva de diferentes personagens, suas memórias e vivências com o sobrenatural.


Igor vê a chance desse projeto tratar problemas e percepções concretas sobre a realidade, adicionando um pano de fundo de ficção distópica e ligando o tom melancólico à decadência e a nostalgia da cidade, a partir da existência de uma ilha e de seus fenômenos inexplicáveis. "O cinema não é objetivo, pelo contrário, é uma das artes mais subjetivas e acredito que nossas experiências e pensamentos podem influenciar diretamente a realidade através das histórias que ele conta", finaliza.


*Perfil produzido na disciplina de Redação e Reportagem II, ministrada pelo professor Alan Milhomem.



0 comentário
bottom of page