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Conheça Jhimmy Feiches, artista em destaque na nova geração da MPA

Atualizado: 8 de abr. de 2023

Desde os 12 anos, o artista tem interesse pela dança, canto e atuação. Além disso, ele é professor de língua inglesa.


Por Camila Biank


Inovar e explorar todas as formas de narrativas de vidas amapaenses é um dos focos do cantor. Fonte: Reprodução / Instagram @jhimmyfeiches

O Estado do Amapá possui uma diversidade cultural marcada pela mistura de povos indígenas, africanos e portugueses. E como reflexo dessa variedade cultural, surgiram artistas musicais com diversos talentos. Esse é o caso do cantor, compositor, professor de língua inglesa e indígena, Jhimmy Feiches. Desde os 12 anos, o artista teve interesse pela arte de cantar, dançar e atuar.


Jhimmy começou no meio musical mesmo com sua timidez e conseguiu alcançar o sucesso e conquistar várias pessoas com suas produções. Hoje, com 29 anos, é reconhecido por um público que o admira. O cantor resiste diante de desafios e dificuldades e, atualmente, possui 13 faixas musicais autorais gravadas. Com relação às composições, o cantor diz que já perdeu a conta.


“Eu acho que foi muita revolta e garra para ser cantor. Eu tenho interesse por arte desde criança, eu assistia na TV e queria fazer musical. Eu gosto muito de dançar, atuar e cantar, então eu queria algo que pudesse me proporcionar as três coisas. Aí eu comecei a fazer teatro aos 12 anos de idade, era meu professor de teatro que me proporcionava essas experiências de dançar e cantar. E foi aí que eu me apaixonei pela música e, aos 16 anos de idade, comecei a cantar nas produções de teatro. Meu professor fazia uns rolês grandiosos e eu cantava ao vivo nas peças, e foi aí que eu acabei me interessando muito mais pela questão musical do que só o teatro, até porque a música já me proporciona muito disso, eu posso dançar quando eu estiver cantando, eu posso atuar quando eu estiver no palco. Então, eu posso fazer o que eu sempre quis estando na música”, relata o artista.


Em 2016, Jhimmy Feiches lançou a música Bring Me Down, que mais tarde ganhou a forma de um vídeo clipe. Recentemente, o cantor lançou o álbum Dentro D’água a Gente Não Chora, que busca falar mais sobre suas raízes, histórias vividas, crenças e, sobretudo, do amadurecimento, sobre a importância de conhecer sua própria identidade e o sentimento de pertencimento.



Na música principal do álbum, o cantor faz um resgate sonoro no tambor que lembra o Marabaixo, uma dança de origem africana que a anos chegou no Amapá e, hoje, é um símbolo cultural e histórico do estado. Além disso, o artista também usa referências da linguagem indígena em algumas estrofes.


Feiches faz parte da nova geração musical do Amapá e chegou para inovar com novas sonoras, mas diz que os maiores nomes da Música Popular Amapaense (MPA), como Zé Miguel, Patrícia Bastos, Amadeu Cavalcante e Osmar Júnior, são referências para ele. Inovar e explorar todas as formas de narrativas de vidas amapaenses é um dos focos do cantor, e seu ritmo musical transita entre Pop e MPA.


“Eu consumo muita música pop, então eu queria muito mesclar tudo o que eu sou no meu trabalho. Eu acho que a questão regional ela é muito importante, só que é importante também que as pessoas percebam que existem muitas formas de fazer música autoral, e é muito bacana quando as pessoas percebem isso, sabe? Tipo, caramba, teu trabalho tem uma questão regional muito bonita”, revela o cantor.


Ainda segundo o artista, essa forma de produção difere um pouco dos nomes consagrados da MPA, como Zé Miguel, Joãozinho Gomes e Amadeu Cavalcante, mas esta é marca de Jhimmy Feiches, que imprime em suas produções referências do que ouve de música internacional e da música pop nacional.


Jhimmy Feiches fez um feat com a célebre participação da cantora amapaense Patrícia Batos. Fonte: Reprodução / Instagram @jhimmyfeiches.

“Vocês vão ver que umas tem até uns arranhões em inglês, e eu gosto de misturar muito, mas sempre pensando naquela questão de causar esse reconhecimento. Quem houve aqui em Macapá consegue se imaginar ou se ver nessas situações. E não é uma coisa tão específica quanto morar na beira do rio e pescar, porque isso é vida amapaense, mas vida amapaense também é morar num prédio, ir ao shopping, ir à escola, e é importante que a gente explore todas as possibilidades de vidas amapaenses, sem perder a nossa identidade regional”, explica o artista.


Personalidade


Jhimmy Feiches caracteriza-se pela pintura de uma linha vermelha que atravessa seus grandes e singelos olhos. A maquiagem que o cantor faz o lembra de um pássaro nativo da região, conhecido como Bico-de-Lacre, que quando criança via no quintal da casa de seus pais, além de lembrar as representações indígenas.


O artista também assume a personalidade do simples jovem José, o professor de língua inglesa que é cheio de carisma e simplicidade. Ele leciona para crianças que não sabem quem é Jhimmy Feiches. Parece uma narrativa de filme um tanto conhecido. Sim! é a mais célebre produção da Disney, Hannah Montana - O filme. Feiches possui esta dualidade de personagens, assim como Miley, a protagonista do filme, com duas realidades. Uma de cantora pop que todo mundo ama e conhece e a outra de uma simples adolescente estudante impopular na escola.

A linha pintura vermelha no rosto é a marca de Jhimmy. Fonte: Reprodução / Instagram @jhimmyfeiches.

O cantor diz aos pequenos que Jhimmy Feiches é o irmão mais velho de José. É uma das formas de separar melhor os dois estilos de vida para não confundir a mente dos baixinhos. Mas, de toda maneira, Jhimmy e José amam do mesmo jeito as crianças e adoram ambas as profissões.


Outra característica do artista é a busca pelo reconhecimento e valorização da cultura e das artes regionais, como as produções musicais.


“Eu acho que é o sentimento de pertencer, sabe? Que é o que faltou para mim quando era mais jovem, assim como falta para muitas pessoas. E isso não é uma coisa que vai acontecer ao mesmo tempo para todo mundo, esse sentimento de pertencimento. Eu, penso no meu trabalho como uma forma de passar uma identificação para as pessoas que ouvem, por isso que é muito importante para mim, que os nortistas se identifiquem com eles, sabe? Antes de outras pessoas de outras regiões, porque as produções são músicas de um nortista para nortista, não que eu queira me limitar à região norte”, pontua Jhimmy.


Independência artística e falta de apoio


Em Macapá, tornar-se artista, seja de qualquer ramo, ainda é um desafio, uma vez que há uma falta de recursos e amparos governamentais mais incisivos no desenvolvimento dos trabalhos artísticos e culturais. A maioria dos artistas locais é independente e precisa de uma primeira renda para manter a vida artística.


“A minha experiência e a experiências das pessoas que eu convivo, a gente tem que ter um trabalho formal para bancar a nossa vida artística, a gente não consegue viver da vida artística aqui no Estado, existem pessoas, mas assim, é muito difícil. O que acaba ajudando a gente são editais. Acabam dando uma força para a gente em alguns trabalhos, mas poucos artistas em Macapá conseguem se manter sendo artistas. Eu tenho um trabalho formal que eu sou professor de inglês e isso me ajuda com as despesas da minha vida artística. Infelizmente, a gente nem faz tantos shows para que pudesse cobrir nossas produções, eu sonhei muito alto ao fazer um álbum físico, tão alto que eu achei que eu não conseguiria realizar, porque a demanda de realização de shows autorais aqui em Macapá ainda é muito baixa”, diz Feiches.


Essa reclamação não vem só de Jhimmy. O cantor Ruan Mikael, de 26 anos, também relata as dificuldades semelhantes e reclama da falta de reconhecimento das produções musicais regionais. O cantor diz que faz quase tudo sozinho.


Mikael também relata a falta de apoio aos artistas locais. Fonte: Foto de arquivo pessoal.

“Para mim é a maior dificuldade, em si, a questão do reconhecimento. Eu já tenho alguns trabalhos no qual eu faço sozinho, eu produzo, componho, masterizo, gravo. Tudo de uma forma bem amadora ainda, entre aspas, sabe? Então, eu faço conforme a minha realidade. Mas a dificuldade, eu sinto muito isso, a questão do desamparo social em si. Os órgãos públicos de alguma forma não fomentam essa questão artística musical, é bem escassa aqui na nossa cidade”, afirma Mikael.


Jhimmy Feiches explica que, em Macapá, a Secretaria de Cultura do Estado do Amapá (SECULT) e a Fundação Municipal de Cultura de Macapá (FUMCULT) são os órgãos responsáveis por oportunizar, preservar e incentivar a cultura amapaense. Embora esses órgãos ajudem os artistas, ainda assim há dificuldades enfrentadas por eles, visto que, para serem promovidos para apresentarem-se em algum evento no Estado, precisam sugerir projetos e um portfólio com todos os trabalhos já realizados, que garantam que eles sejam artistas. Entretanto, nem sempre essas pessoas têm recursos para a realização dessas produções.


Em nota, a SECULT apenas informou que “tem por finalidade formular, planejar, coordenar e executar a política cultural governamental nas áreas de museologia, arqueologia, etnologia, antropologia, preservação do patrimônio histórico material e imaterial, bem como estimular a produção artística do Estado do Amapá. A SECULT fomenta a cultura do estado do Amapá e realiza diversos editais de fomento de cultura”, mas não explicou como isso ocorre e como ajuda os artistas na preparação para participar destes editais.


Além disso, a secretaria se limitou a dizer que desenvolve o Sistema Estadual de Informações e Indicadores Culturais (SEIIC), que tem a finalidade de gerar informações e estatísticas da realidade cultural do Estado, constituindo cadastros e indicadores culturais.


Conheça algumas produções de Jhimmy Feiches e Ruan Mikael:



*Reportagem produzida na disciplina de Webjornalismo ministrada pelo professor Alan Milhomem.





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