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Ciranda Materna e Casa Viva discutem a potência criadora da mulher

Atualizado: 28 de out. de 2022

Em parceria com a Casa Viva, o projeto Ciranda Materna retorna os encontros presenciais e planeja futura instalação de arte.

Por Gabriela de Matos e Giovanna Moramay Lins

(Foto: Gabriela De Matos/AGCOM)

“Mulher - Potência Criadora”, foi o tema da roda de conversa realizada pelo coletivo Ciranda Materna, neste mês de maio. Em parceria com a Casa Viva, que retoma os encontros presenciais, em momento para troca de relatos entre todas as mulheres presentes, a maternidade como foco e aliada à discussão sobre a criatividade da mulher. Um encontro para mães não podia deixar de ter crianças e elas estavam lá pelo espaço da Casa Viva. Foram discutidos temas recorrentes do movimento político do Ciranda Materna como parto humanizado, saúde mental das mães, além de questões delicadas como violência obstétrica e depressão pós-parto.

Com a movimentação para o retorno de ações presenciais, a multiartista Moara Negreiros @moarapinta, que participou de algumas das primeiras reuniões do Ciranda em 2014, entrou em contato para promoção de uma roda de conversa e realização de uma instalação de arte com tema “Mulher - Potência Criadora". Moara define que a ideia da mulher como uma potência criadora vai além da criação dos filhos, que se estende para a mulher como potência criativa. Mãe de dois filhos, Felipe e Ravi, a artista explica que é importante refletir sobre a mulher que existe além da maternidade e do lar, que dão luz não só a filhos mas também paixões, projetos, histórias. A arte é essencial para conhecer a mulher que se é. A instalação é uma forma de celebrar essas mulheres por inteiro, sem separá-las da maternidade e sem as definir por ela.

Moara Negreiros, multiartista. (Foto: @moarapinta/instagram)

Ciranda Materna

O Ciranda Materna nasceu em 2014, fundado pelas irmãs Camila e Amanda Lagos, sendo primeiramente uma rede de apoio para mães e gestantes e com o objetivo de promover debate sobre a maternidade de forma realista, prezando pela informação e humanidade. O grupo atua como uma organização não-governamental, promovendo ações de conscientização, como direitos da mãe sob a própria gestação e desmistificação do parto normal. Ocasionalmente, promove palestras e cursos com profissionais da saúde, parteiras tradicionais, doulas e ativistas.

A militância política do grupo foi essencial para regulamentação das doulas, no Amapá, e sua permissão como acompanhante dentro dos hospitais, conforme Lei Nº 1946 de 20/10/2015. Mas, a principal atividade promovida pelo Ciranda é, tal como sugere o nome, suas rodas. Em sua maioria, as participantes começaram a participar do Ciranda Materna ainda gestantes, posteriormente levam os filhos para os encontros. O coletivo foi para essas mulheres um lugar de liberdade e acolhimento, onde esses assuntos tabus podem ser desconstruídos e entendidos.


Ciranda Materna na Marcha das Mulheres de 2020. (Foto: @cirandamaterna.ap/instagram)

As rodas de conversa do Ciranda Materna não têm roteiro, elas fluem junto com os relatos e depoimentos das mães presentes. Podem ser definidos temas previamente, mas eles são mero ponto de partida e não limitam o que é compartilhado. Essa natureza livre e transitória é intrínseca ao grupo desde sua criação. As reuniões são abertas. Atualmente, sob coordenação de Priscila Resque e Adriana Baldez Lima, a retomada dos encontros presenciais no “pós-pandemia” vem acompanhada de uma repaginação para uma nova fase do projeto.

Priscila Resque e Adriana Baldez Lima, coordenadoras do Ciranda Materna. (Foto:@cirandamaterna.ap/Instagram)

Adriana explica que, com o passar dos anos, a passagem de diversas mães pelos encontros, a consolidação de participantes mais antigas e a dificuldade de conciliar ações com rotina de tantas mulheres diferentes, mesmo antes da pandemia, resultou em um período “morno” para o Ciranda. Ao perceber a emergência espontânea regularmente de temas como criação de filhos, adaptação na escola e até mesmo adolescência, foi resolvido que era necessário uma reaproximação com as gestantes, com as recém-mães, para mesclar essa “velha guarda” e as pautas originais.

Administrar o coletivo durante a pandemia foi um desafio, no entanto, de reuniões por videoconferência com a presença de quatro pessoas até lives do Instagram assistidas por trinta internautas. Agora, enfim, chega o momento em que as ações presenciais são possíveis novamente com as redes repaginadas e ativas. Um feito que só foi possível através da colaboração e do senso de irmandade desenvolvido pelo trabalho do Ciranda.

Um dos principais incentivos para a volta das rodas de conversa do Ciranda Materna veio de Paula Homobono, mãe de Guilherme e do recém-chegado Bernardo. Paula trabalha como analista de sistemas, mas é também uma influencer de notoriedade como criadora do perfil @maenortista. Seu perfil compartilha a vivência como mãe. Após ter uma experiência ruim com uma cesariana, na sua primeira gravidez, passou a pesquisar e estudar as possibilidades de um parto humanizado para seu segundo filho, mesmo escutando de todos que era “impossível”.


Paula Homobono, criadora do perfil @maenortista. (Foto: Giovanna Moramay Lins/AGCOM)

Paula acabou descobrindo o Ciranda Materna nas redes sociais, raramente atualizadas, na época, e animada com a possibilidade de uma rede de apoio focada em protagonismo materno e parto humanizado, mandou mensagens privadas para todas as mulheres relacionadas ao coletivo, perguntando quando seria a próxima Ciranda. Paula não só inspirou a ONG a voltar à ativa de vez, mas também inúmeras mulheres através do seu relato de parto, postado no Instagram, provando que de fato a cesariana estava sendo imposta apenas por ser o “procedimento padrão”, omitindo informações que influenciaram na sua escolha. Ela deu à luz ao segundo bebê, em 2021, em parto normal auxiliado por uma doula, dentro do hospital.


Ravena Remédios, crocheteira e estudante. (Foto: Moara Negreiros @moarapinta/Instagram)

O ato de trocar relatos, experiências, auxiliar umas às outras no processo de criação de um ser-humano já proporciona uma experiência transformadora para muitas participantes. A estudante de letras e crocheteira Ravena Remédios, confundida por muitos como “Ravena da Gama” devido ao nome da sua loja virtual @ravenadagama. Ela compartilha a própria experiência em ser a “tia louca”, antes da gravidez, e “aí a tia louca virou mãe”. “ aprendi a ser mãe com outras mães, ouvindo outras mulheres nas reuniões” e, isso a ajudou no processo de perceber que sua filha Alice também tinha muito o que lhe ensinar, “a maternidade em si é uma troca”.


Rayane Penha, cineasta. (Foto: Moara Negreiros @moarapinta/Instagram)

O Ciranda Materna, não se restringe somente a mães e é fundamentalmente um coletivo feminista. Ações como a campanha de arrecadação de absorventes realizada para combater a pobreza menstrual. Rayane Penha, cineasta @_raypenha participou do início do projeto, inclusive realizando um curso de doula. “o grupo de ativismo mais marcante e importante que já participei”, conta.

Amanda Moura Barreiros (@4mandampur4), mãe de Maria, escritora, professora e palestrante feminista convidada para coordenar a roda de maio, lançou um livro no encontro. “Meu filho mais novo, um trabalho de amor que só me traz despesas” é como ela descreve a obra de forma bem-humorada. O livro reflete sobre a condição da mulher na sociedade. Lucros da venda são convertidos em doações para vítimas de violência doméstica. Como o livro de Amanda, o Ciranda, em sua essência, é um trabalho colaborativo entre mulheres em prol de outras mulheres.


“Mulheres Livres” é a coletânea de Amanda Moura Barreiros (Foto: Moara Negreiros @moarapinta/Instagram)

A troca de relatos e aprendizado é a essência do trabalho realizado. Durante a reunião são discutidos o conhecimento médico, o caráter humano, social, filosófico e espiritual.

A união e a criatividade permeiam o futuro do coletivo. Com as crianças brincando ao redor, enquanto as mães compartilham anedotas, conselhos, traumas, se organizam e se apoiam, Adriana profere “é preciso uma aldeia para criar uma criança”. O ditado é popular com razão.


(Foto: Moara Negreiros @moarapinta/Instagram)

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