Curta o Curta e Cinema na Escola destacam-se por integrar a linguagem cinematográfica ao aprendizado e promover reflexão entre os estudantes.
Por Breno Pantoja
Edição: Anna Clara Trindade
O cinema, para muitas pessoas, é sinônimo de distração, lazer e entretenimento, entretanto, a sétima arte vai muito além disso. Atrelada à educação, promove discussões culturais, políticas e históricas que são importantes para o ensino e para a construção de pensamentos individuais e coletivos.
O papel do cinema na educação brasileira é uma temática em constante evolução, ancorada por leis que buscam integrar as artes visuais no currículo escolar. A Lei N° 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), reforça a presença das artes visuais, dança, música e teatro como componentes essenciais no ensino. Este cenário destaca a necessidade contínua de reflexão e aprimoramento das políticas educacionais para promover o acesso efetivo ao cinema e a outras formas artísticas nas escolas brasileiras.
Nesse contexto, iniciativas como os projetos Cinema na Escola e Curta o Curta são exemplos notáveis de como o cinema aliado à educação pode proporcionar experiências e estimular o pensamento crítico entre os estudantes.
Por meio desses projetos, o aprendizado vai muito além da sala de aula, transformando a linguagem cinematográfica em instrumentos de ensino e reflexão.
Projeto Curta o Curta
Desde 2012, o Festival Estudantil de Cinema Curta o Curta tem sido um marco inspirador na Escola Estadual Raimunda dos Passos Santos, localizada na Avenida Lourenço Araújo de Sá, 2162, no bairro Horizonte, em Macapá. Trata-se de um projeto interdisciplinar que envolve a produção de curtas-metragens pelos alunos, oferecendo um novo olhar sobre suas realidades.
Sob a orientação dos professores Pedro Silva e Neusa Olivia Lima, o Projeto Curta o Curta evoluiu para um coletivo abrangente, não apenas ao produzir curtas e documentários, mas também ao promover um cineclube. A colaboração com parceiros-chave, como o Cine Perifa e o Instituto Federal do Amapá (Ifap), tem enriquecido o projeto com oficinas de audiovisual e aulas de teatro ministradas.
A professora Neusa Olivia destaca que, ao verem seus próprios feitos na tela, os alunos encontram um espaço para se reconhecerem e se valorizarem. “Ao se verem na tela, podem se sentir melhor consigo mesmos, e mesmo para aqueles que atuam nos bastidores, há o sentimento de ter feito parte de todo o trabalho complexo que envolve a criação de um filme”, afirma, destacando a importância da autoestima no processo educacional.
As discussões durante a elaboração dos roteiros, permeadas por questões cotidianas dos alunos como moradores de um bairro periférico, são essenciais. Questões sociais emergem e evidenciam realidades muitas vezes negligenciadas. A inclusão desses temas enriquece o processo criativo e promove reflexões sobre a realidade em que vivem.
Além disso, o cinema também é uma porta de entrada para debates filosóficos. Os filmes produzidos pelos alunos exploram questões existenciais e éticas. “Questões de cunho filosófico, que podem surgir de alguns filmes, ampliam ainda mais o horizonte de nossos alunos”, complementa a educadora.
A disponibilização das produções na internet amplia o alcance do trabalho da escola e abre espaço para compartilhamento de experiências e disseminação de ideias. Documentários e reportagens sobre eventos escolares, além de registrarem momentos importantes, promovem a visibilidade do trabalho realizado pelos alunos.
“O audiovisual não se limita ao entretenimento, é também uma ferramenta de denúncia e busca por mudanças reais”, conclui a professora, ressaltando a importância da arte como agente de transformação social. Assim, a escola não forma apenas alunos, mas cidadãos críticos engajados, prontos para enfrentar os desafios do mundo contemporâneo com criatividade e determinação.
O curta como ferramenta educativa
Johnny Gabriel Reis formou-se no Ensino Médio ano passado e foi aluno da Escola Raimunda dos Passos. O estudante participou do projeto e ganhou em várias categorias com o curta-metragem Ovaitice, na 10ª Edição do Festival Curta o Curta.
Veja a produção na íntegra do curta-metragem Ovaitice:
Segundo ele, o projeto contribuiu para mudanças positivas no ambiente educacional, e o Curta o Curta lhe possibilitou uma conexão com colegas e professores, pois todos precisam da colaboração uns dos outros para concretizar o projeto.
“O projeto estimula a criatividade. Criar cenários e situações que geram emoção ao público, sem qualquer tipo de barreira, adaptando à nossa realidade”, destaca Johnny. O estudante afirma que foi uma boa experiência, pois gostou de pensar nas cenas, elaborar roteiro e, nas produções, foi desde diretor até protagonista. Para mais informações sobre o projeto, veja o perfil no Instagram e o canal no Youtube.
Projeto Cinema na Escola
Há uma década, o professor da Universidade Federal do Amapá (Unifap), Dr. Rafael Costa, iniciou um projeto de extensão universitária focado em debater cinema com os acadêmicos. Recentemente, ele revitalizou essa iniciativa, agora direcionada às escolas, por meio do Programa de Formação, Capacitação, Aperfeiçoamento e Idiomas (Profid). O objetivo é levar a sétima arte a lugares de maior vulnerabilidade social e proporcionar debates e acesso a filmes fora do circuito comercial.
O projeto acontece em sábados letivos com atividades culturais, utilizando o cinema como ferramenta de educação. O docente destaca a escolha de filmes diversos, evitando os convencionais presentes em plataformas de streaming, para oferecer novas perspectivas aos estudantes.
“As escolas têm muitos sábados letivos e, geralmente, são para atividades mais lúdicas, então, nesse sentido, o projeto visa preencher esses dias letivos. A ideia é trazer filmes mais antigos, que possuem um olhar diferente, uma linguagem diferente”, relata o professor.
A primeira ação ocorreu na Escola Estadual Prof. José Ribamar Pestana, no município de Santana, no dia 4 de janeiro deste ano, exibindo o filme Cinema Paradiso.
“O objetivo do projeto é não apenas mostrar o filme, mas também discutir questões cinematográficas, desde a produção até a linguagem e narrativa. Cinema Paradiso foi escolhido por sua abordagem humana e sua capacidade de discutir a evolução do cinema e a gente teve uma boa recepção por parte do público”, explica o coordenador do projeto.
O professor anuncia que a próxima escola a receber a programação será a Escola Estadual Prof. Francisco Walcy Lobato Lima, também em Santana, na última semana de fevereiro. As ações continuarão ao longo do primeiro semestre em Santana e se estenderão à capital no segundo semestre.
O que a Secretaria Estadual de Educação fala sobre cinema nas escolas?
Para coordenadora de educação básica da Secretaria de Estado da Educação (Seed), Arnanda Oliveira, o cinema contribui muito para o desenvolvimento de habilidades dos jovens, sejam elas na questão da percepção, da reflexão e análise de situações do cotidiano, ou mesmo no refinamento de habilidades relacionadas ao audiovisual.
Ela afirma que, para levar o cinema às escolas amapaenses, primeiramente precisa muito da disponibilidade dos professores e dos coordenadores pedagógicos no sentido de compreender a necessidade de se desenvolver as artes dentro da rotina escolar.
“O cinema é uma arte que pode e deve ser desenvolvida com frequência na rotina escolar. A gente pode ampliar as parcerias com os setores que fomentam o audiovisual, porque é uma estrutura que precisa ser adequada para poder fazer essa oferta para o estudante”, ressalta a coordenadora.
Ouça a fala da coordenadora sobre em quais setores da educação o cinema pode ser desenvolvido e qual sua contribuição para a formação dos estudantes:
*Reportagem produzida na disciplina de Webjornalismo ministrada pelo professor Alan Milhomem.
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