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Chicandreg desponta como um potencial para a moda amazônica no Amapá

Artista utiliza a técnica de upcycling para produzir peças que reforçam o poder da moda amazônica e ressaltam a importância da diversidade.


Por Paulo Rafael Silva

Chicandreg exibe uma de suas peças exclusivas | Foto: arquivo pessoal

André Dantas, Chicandrag ou Chica Strala é um artista tão diverso quanto seus nomes. O cearense chegou no Amapá em 2021 e tem construído uma carreira de sucesso no meio artístico local. Através de sua marca Stralactatika, fundada em 2020, carrega o propósito de transformar materiais precários em peças que imprimem um conceito de moda inclusiva, livre e sustentável.


Artesão, bartender, modelo e ator, Chicandreg tem 25 anos e estuda Teatro na Universidade Federal do Amapá (Unifap). Conciliando seus trabalhos, atualmente faz parte da pasta de moda do Sebrae, o que possibilitou seu primeiro desfile, realizado no evento Modamazon, em conjunto com a marca Babalon Store. Em entrevista, o artista conta como a vivência no Amapá tem afetado sua produção e quais são suas perspectivas para sua marca.


Como você descreveria o conceito de moda amazônica que é reproduzido nas suas peças?


Eu busco imprimir o conceito de moda amazônica nas minhas peças através da estética presente na floresta e nos rios, e também nas pessoas. Assim como a floresta toca diversas cidades e países, a Stralactatika busca mostrar essa versatilidade e variedade também nos materiais utilizados.


Você acredita que a sua marca centraliza a sustentabilidade?

Sim, pois a minha maior matéria prima são peças que já existem no mundo e que seriam descartadas, inclusive de forma irregular. Dar nova vida a essas peças já é sustentável por si só, mas o ato de fazer e provar ser algo útil e potente também serve de forma didática em treinar o olhar para novas possibilidades.


Voltando para a questão social, como você acredita que a moda pode impactar a vida das pessoas que te acompanham?

Eu não separo a marca Stralactatika da marca Chicandreg, que é como eu me apresento. É como se a Strala fosse uma outra parte de mim materializada que permite que a Chica floresça e os que estão ao meu redor também. Então, o impacto que procuro causar é no sentido de ser livre para poder usar e ser o que quiser. E ser aplaudido por isso.


Qual a sua percepção do mercado da moda quando falamos sobre a produção de uma moda queer dentro da Amazônia?

Eu vejo ainda de uma forma infelizmente muito escassa, até mesmo o recorte de uma produção de moda dentro da Amazônia, uma moda queer então é quase nula, mas não por falta de fazedores de moda, mas por falta de incentivo e estrutura. Mas tenho esperança e acredito num crescimento e fortalecimento dessa produção.


Na sua arte existe uma tentativa de conectar a moda com os saberes locais do Amapá?

Sim, embora ainda tendo pouco mais de um ano morando aqui, sinto que me conectei de forma aqui que nunca me conectei com nenhum outro lugar antes, e buscar os saberes daqui é algo que me motiva muito no momento de criar.


Falando sobre a sua carreira, como a vinda para o Amapá afetou na sua produção artística?

Afetou de forma muito significativa, foi a primeira vez que expus meus produtos de forma pessoal para venda e foi uma experiência que deu significado a todo esse tempo que me trouxe até aqui. Além de que, as parcerias que fiz aqui contribuíram grandemente para a ascensão da marca, pois a Strala se constrói através do afeto, e aqui eu tive e tenho tido muito.


Como funciona o seu processo de criação na escolha dos elementos que serão usados para a produção das peças?

Eu sou uma pessoa muito acumuladora. Então, eu tenho sempre comigo, desde que saí do Ceará, uma caixa com coisas aleatórias que foram ganhadas, achadas e que tenham alguma potência estética que eu acredite que um dia possa servir para algo. Então, quando morei em Florianópolis ganhava muito material de amigas que quando faziam aquela limpeza no guarda-roupa achavam coisas que seriam interessantes pra mim, como brincos enormes, mas que estavam faltando um pedaço, ou um colar que estava com o fecho quebrado. E então juntando esse material que recebo, com o material que carrego comigo nascem as minhas peças. Hoje em dia é uma caixa bem grande com tudo junto, então uma prática que tenho para criação, que funciona inclusive se estiver sem idéias, é pegar essa caixa, tirar tudo que tem dentro e ir olhando o que tem em cada sacola, e cada caixa dentro de cada caixa, e aí uma coisa vai juntando com a outra e no final tudo se strala.


Como você se sente tendo uma marca em ascendência no meio artístico amapaense?

Eu me sinto incrivelmente grato, sinto que cheguei no lugar certo e na hora certa. Sinto como se estivesse me preparando a vida toda pra esse momento, juntando inclusive com a minha graduação em Teatro na Unifap. São coisas que, como falei antes, se misturam entre a Strala e a Chica, pois uma precisa da outra. Então, essa questão do meio artístico eu vejo de uma forma mais ampla, fazendo uma junção de tudo. Então pra mim é uma honra ver uma cena acontecendo e a minha história sendo feita no meio de tantas outras que também são muito incríveis e também merecem ser contadas.


Qual sua percepção da exportação da moda amazônica para outros estados e países?

A minha marca faz parte da pasta de moda do Sebrae AP, então existe já de certa forma uma projeção para algo nesse sentido internacional, porém confesso que é algo que ainda não me debrucei muito sobre o assunto para ver como funciona. Já no quesito nacional, acredito que já estamos conseguindo fazer a entrega dos produtos.


Como você enxerga a sua marca no futuro?

Eu enxergo a minha marca no futuro grandiosa no sentido de executar essa rede de afeto de uma forma nacional e também internacional. Que eu possa acessar vários lugares com a minha arte e que possa sensibilizar esse olhar do outro para novas possibilidades a nível mundial. É esse o meu objetivo, poder levar a Strala para todos. Tanto a marca quanto a força. Porque ser Strala é sobre viver intensamente e saber que é preciso um pensar diferente. Um pensar urgente sobre as causas do planeta, sobre as causas da própria cidade em que vivemos. E para enxergar um futuro, é preciso enxergar o hoje e também o que já passou. E para que haja esse futuro é preciso Stralar agora.


*Entrevista produzida na disciplina de Redação e Reportagem II, ministrada pelo professor Alan Milhomem.


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