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TupiniQueen – da gaveta para os palcos

Atualizado: 8 de abr. de 2023

Drag Queen amapaense Olivia Ponderatto e seu criador, Evandro Cunha, revelam as duas faces de um artista que se confundem e se conectam entre a arte e a vida.


Por Charles Campos, Crislen Freitas e Jeanne Maciel


Olivia Ponderatto, surgiu na internet em 2017 com performances de interpretação e dublagens. Foto: Olivia Ponderatto/Arquivo pessoal

A respiração funda e os movimentos acelerados indicavam a ansiedade de mais um dia sentindo a arte extravasar o pensamento. Entre um cigarro e outro, o rosto se tornara uma tela em branco e logo mais assumiria uma personalidade extrovertida, expansiva e marcante. Aquele era o dia de um dos eventos mais importantes na comunidade Queer do Amapá, a Parada LGBTQIA+. Mais tarde, a drag queen Olívia Ponderatto estaria presente no evento.

A drag é criação de Evandro Cunha, um jovem amapaense no auge dos seus 27 anos. Olívia, por outro lado, tem apenas 4 anos de vida. A artista surgiu na internet em 2017 com performances de interpretação e dublagens. A drag queen, agora, acumula pouco mais de mil seguidores rede social Instagram, mas foi nos palcos que a conhecemos.


Enquanto acompanhamos a transformação no quarto do artista, ele nos mostra não apenas sua história, mas cada pedacinho de um processo que mistura criatividade, reflexão e perfeccionismo. “Eu comecei a arte no meu quarto, brincando e me divertindo com meu melhor amigo e pra gente sempre foi algo muito dentro de casa”, relembra enquanto se concentra para traçar um contorno bem marcado no rosto.


A “saída da gaveta”, como diz Evandro, aconteceu em 2018, quando conheceram o grupo Drags Tucujus, que agora está inativo. “Elas faziam encontros, saíam para bares e locais da cidade [..] foi um divisor de águas porque ficamos ‘nossa, vamos sair também', aí começamos a dar vida as nossas drags”, conta.


Mas para começar do começo, perguntamos como Olivia foi desenhada em sua cabeça. A expressão no rosto de Evandro, que quase não podia ser revelada pela falta de sobrancelhas, já cobertas nesse momento, foi de alguém apaixonado pelo seu próprio caminho. “Iniciei no mundo da arte desde cedo. Sempre gostei de música, videoclipes, assistia muitos filmes, lia revistas. Tudo que envolvia arte me interessava muito”, diz.


Publicitário e designer de formação, a criação era algo quase destinado, mas a virada de chave na arte drag veio do mundo pop com ascensão de reality shows com a temática e estrelas da música como Pabllo Vittar e Glória Groove. “Sempre fiquei muito disperso em saber qual arte, porque eu sabia que iria fazer algo. Aí assistindo uma série de competição de drag queen, a RuPaul Drag Race, me apaixonei de verdade porque reúne diversas artes dentro de uma. Atuação, design, artes visuais, performance e muitas outras coisas”, explica Evandro.


Drag Queen é o nome dado ao artista que se veste de maneira estereotipada, conforme o gênero masculino ou feminino, com a finalidade artística ou entretenimento. Evandro é um homem gay e cisgênero, ou seja, que se identifica com sua identidade de gênero atribuída no nascimento. Ao contrário do que muitas pessoas que não conhecem o meio pensam, o personagem não tem relação com identidade de gênero e nem mesmo com a orientação sexual.


Quando traz Ponderatto à vida, ele diz viver “intensamente a representação da feminilidade dentro da personagem”. Observamos que, mesmo não estando inteiramente montada, essa personalidade criada transparece em sorrisos escrachados e expressões fortes. Mas se engana quem pensa que a artista é apenas alegria.


Atrás de toda performance, Olivia diz ter um propósito muito maior que o entretimento. “O nome dela que vem de ponderar, pensar, refletir, questionar”, revela. “Aqui nos bastidores eu produzo performances, contextos, manifestos e tudo isso é pensando em que feridas vamos cutucar, sobre o que vamos nos posicionar”, afirma com empolgação.


Com Ponderatto inteiramente caracterizada, questionamos: mas Evandro tem um pouco de Olivia? O artista reflete, mas responde rapidamente. “Olivia e Evandro são distintos, mas extremamente conectados. A gente tem muita coragem, mas acredito que a Olivia tem mais coragem que o Evandro”, finaliza.


*Perfil produzido na disciplina de Redação e Reportagem II ministrada pelo professor Alan Milhomem.



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