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Regi Silva: o artesão que transforma em arte madeiras descartadas

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  • há 5 horas
  • 4 min de leitura

O resultado das obras une sustentabilidade e criatividade, dando vida a móveis e objetos únicos que carregam a essência da natureza.


Por Dhiuúlia Dhiordanny Melo*


Reginaldo Silva posando ao lado de uma de suas obras. Foto: Ladson Santos.
Reginaldo Silva posando ao lado de uma de suas obras. Foto: Ladson Santos.

O artesanato muitas vezes é visto como uma expressão local e íntima de cultura, mas para Reginaldo Silva, também conhecido como Regi Silva, é uma arte que une sustentabilidade, criatividade e reaproveitamento. Ao descobrir o eco design sustentável enquanto estudava arquitetura, ele se apaixonou pela ideia de dar uma nova vida a madeiras descartadas.


Hoje, aos 56 anos, o ex-professor e atual artesão amapaense tem se dedicado fielmente à técnica do artesanato em madeira, transformando tocos que ficam à margem de ruas, estradas e rios em peças únicas, que são reconhecidas mundialmente. Nessa entrevista, Reginaldo compartilha um pouco de sua experiência trabalhando com materiais naturais e sustentáveis, e nos convida a refletir sobre a importância da arte e do reaproveitamento na preservação do meio ambiente. Pois, como ele mesmo diz, o verdadeiro artista é a natureza, e é a partir dela que ele encontra a inspiração para suas obras.


Dhiúlia Melo – Você pode nos contar um pouco mais sobre a sua trajetória, o que levou o senhor a ser um artesão?


Reginaldo Silva – Sim, essa vida de artesão foi uma coisa muito rápida, assim. Eu comecei estudando arquitetura e dentro do curso eu descobri o eco design sustentável. O que é o eco design sustentável? É fazer casa sustentável, fazer chalé sustentável, pegar materiais sustentáveis, é fazer manejo e etc. Então [...], dentro dessa área toda, eu descobri o artesanato. É onde eu tô me encontrando realmente, sabe? Essa questão do artesanato, porque o Estado do Amapá hoje é um estado muito rico em relação a madeira, principalmente madeiras tombadas que são descartadas pelas madeireiras, madeiras das margens da rodovia, estantes de roças, na área rural e também dentro a floresta e mais da orla marítima. [...] As melhores madeiras, hoje, estão na nossa região norte, a região amazônica. Então, o que é que nós temos que fazer? Lapidar. Na realidade, o verdadeiro artista aqui, é a natureza, que ela já lapida. O que a gente pode fazer? Só dar um complementozinho e sair para vender o nosso produto. E é uma maneira muito boa de se ganhar dinheiro com isso.


Dhiúlia Melo – Como é o processo de escolha? Como você identifica as melhores peças para transformar em arte?


Reginaldo Silva – Boa pergunta! Às vezes eu vou para algum evento, dentro da área urbana mesmo, que fique dentro da cidade, quando eu tô parando mais na cidade, e no meio do caminho eu encontro um pedaço de madeira, e lá eu descubro que ali dá para fazer uma arte. E eu pego, boto na mala do carro, na caminhonete e levo para casa, e lá eu transformo ela numa arte. É uma coisa muito prática hoje você transportar, transferir a tua mente para um produto desses. Ali você tem muitas maneiras de criar, por exemplo, criar uma banqueta, uma tábua de cortar carne, fazer um quadro, fazer um símbolo, fazer uma mesa rústica pequena ou grande, etc.


Dhiúlia Melo – E há alguma técnica ou ferramenta que você usa para trabalhar com essa madeira?


Reginaldo Silva – A questão das máquinas, algumas pessoas perguntam: “você é maluco?” “Porque maluco?”, “Ah, tu tem uma movelaria”. “Não, não tenho movelaria, eu não sou moveleiro, eu sou um artesão”. Então, o meu material é todo artesanal, exemplo, vou te citar algumas máquinas que eu trabalho: uma plaina manual, tudo manual, elétrica, uma lixadeira manual, uma furadeira manual, também uma motosserra pequena, quando não é elétrica, é também a combustão. Então, são coisas mais simples, assim, que a gente desenvolve o nosso projeto de coisas grandes. Tu trabalha com três, quatro ferramentas para um negócio desse tão bonito, tão bacana e eu digo: “é criatividade! A gente se inspira pra fazer esses trabalhos, sabe?”.


Dhiúlia Melo – E além da madeira, você usa algum outro material nas suas obras?


Reginaldo Silva – Eu agora estou fazendo, assim, muita pesquisa. Eu vi que unir dois itens é muito bom, que é o rústico com o moderno, né? Agora eu estou vendendo mais as mesas e não estou fazendo os bancos das mesas, aí as pessoas compram as cadeiras e colocam nas mesas, as cadeiras modernas. Hoje, o rústico com o moderno, ele casou muito bem, ficou muito legal, tá muito bonito. Claro, não é igual e não têm a durabilidade que um material rústico têm, mas fica muito lindo, fantástico, o trabalho. A gente também tá envolvendo barro e plantas ornamentais para fazer um complemento desse trabalho que a gente tem hoje, que fica muito legal.


Dhiúlia Melo – E você acredita que a sua arte tem o poder de conscientizar as pessoas justamente sobre esse desperdício e a importância do reaproveitamento que você faz?


Reginaldo Silva – Então, muito boa pergunta que você me fez. Eu trabalho, realmente, conscientizando as pessoas que, hoje, ela comprar uma peça minha, que ela vai estar ajudando a natureza, sem dúvida nenhuma. É justamente com as palestras que a gente faz na faculdade, nas escolas, é justamente pra conscientizar ela a comprar mais desse trabalho, a prestigiar esse trabalho. Porque, no momento que ela compra, ela vai estar, sem dúvida nenhuma, tirando um pedaço de madeira do meio da rua ou das margens da rodovia.


Dhiúlia Melo – Para finalizar, eu queria que você me falasse quais são os seus planos ou se tem alguma ideia nova que você gostaria de explorar na sua arte?


Reginaldo Silva – Bem, meu plano para o futuro está bem próximo, eu tô esperando entrar recursos para a gente ministrar cursos de arte em madeira para pais de família, para a juventude que tá em situações vulneráveis. Não só para eles, mas também quem gosta de desenvolver um projeto, que seja um hobby, para as pessoas que estão se aposentando, saíndo de órgão, de dentro de gabinete e quer fazer uma coisa diferente, complementar até mesmo a renda. O nome do projeto se chama “Estátua Viva”. Então, a gente vai levar para população amapaense, para o Brasil e o mundo esse projeto para que eles possam ter consciência, justamente, de como se ganha dinheiro com um produto desses, que tá bem aí exposto na natureza para a gente.



*Entrevista produzida na disciplina de Redação e Reportagem II, ministrado pelo professor doutor Alan Milhomem.

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