Roberta Scheibe é professora efetiva da Universidade Federal do Amapá e avalia que, apesar das conquistas, ainda há muito a se melhorar no curso de Jornalismo da instituição.
A greve docente das universidades federais foi encerrada em 27 de junho deste ano, como um epicentro de debates não só por questões salariais, mas por melhores condições de trabalho e estrutura. No Amapá, entre os cursos da Universidade Federal (Unifap), o colegiado de Jornalismo – o único presencial da área da comunicação no estado – conta somente com cinco professores efetivos e três substitutos. Os docentes viram o momento como decisivo para expor a realidade enfrentada por professores e alunos na formação de profissionais da comunicação.
Coordenadora do curso, a professora e jornalista Roberta Scheibe integra o quadro efetivo da Unifap desde 2010 e participou da construção do primeiro Projeto Pedagógico de Curso (PPC) de Jornalismo, com a primeira turma iniciada em 2011. Com idas e vindas de professores, entre efetivos e substitutos, a docente leu uma Carta Aberta à população amapaense na Tribuna da Câmara Municipal de Vereadores de Macapá, no dia 7 de maio deste ano. No documento, o colegiado destacou as condições enfrentadas para lecionar em quatro turmas com poucas salas de aula, laboratórios e técnicos.
Para a Agência Experimental em Comunicação (Agcom) da Unifap, Roberta faz uma avaliação sobre a importância da greve para dar visibilidade às lutas e às dificuldades enfrentadas pelos profissionais e acadêmicos. Além disso, a coordenadora destaca os avanços obtidos e o que ainda falta para melhorar as condições de trabalho e ensino dentro da universidade.
Agcom: Poderia nos dar um contexto sobre as dificuldades que o curso de Jornalismo já enfrentava na Unifap?
Roberta: Eu e outros professores estamos desde o início do curso, em 2010, e a primeira turma entrou em 2011. Apesar de o curso estar começando, enfrentamos muitas dificuldades estruturais: não tínhamos salas apropriadas, a coordenação funcionava em uma sala da rádio, hoje conhecida como TV Universitária, e as aulas eram ministradas na (sala da) pós-graduação. Foi um período desafiador. Depois de um tempo, outros professores se juntaram a nós por meio de um segundo concurso. Algumas coisas o professor Aldenor Benjamim conseguia por meios próprios para estabilizar o curso e promover melhorias. No entanto, no início, esses foram os maiores desafios enfrentados pelo curso.
Pensando nesses problemas enfrentados, como está a situação atualmente?
O curso de Jornalismo, infelizmente, ainda enfrenta várias dificuldades. A falta de infraestrutura adequada é uma das principais questões. O curso sofre com a escassez de professores, o que afeta diretamente a produção acadêmica. Eu, por exemplo, faço parte do projeto “Não Pira, Respira” e tivemos que diminuir a atuação por outras tarefas do curso que precisavam de prioridade. Temos cinco professores efetivos atualmente e todos estão divididos em coordenações que se sobrecarregam. Sem falar na ausência de técnicos, salas, ar-condicionado, suporte técnico, que resultam na desmotivação tanto para alunos quanto para o corpo docente. Então, para chamar a atenção e buscar melhorias urgentes, a greve foi uma medida necessária.
Qual impacto o fim da greve causou para o curso e para os professores
Como servidora, eu esperava um aumento um pouco maior. No entanto, entendo o momento político que o Brasil está vivendo, com muitos problemas sociais, políticos e econômicos. Já tivemos um pequeno aumento no início, que foi o auxílio alimentação e, em alguns casos, o próprio auxílio transporte. Também teremos um aumento salarial que ocorrerá ao longo de dois ou três anos, de forma gradativa. Além disso, o auxílio creche teve uma atualização, assim como o auxílio natalidade. No momento, foram esses auxílios que foram ajustados.
Qual o valor das ferramentas midiáticas na construção desse cenário grevista?
A gente entendeu isso também como uma forma de chamar a atenção para a nossa causa. Tanto é que fomos à tribuna para isso; enfrentamos as críticas e os elogios que vieram com a nossa decisão. Talvez, a intenção da reitoria pudesse ser interpretada de outra forma, embora não fosse nossa intenção criar um embate. Queríamos apenas demonstrar nossa posição, especialmente porque já havíamos feito várias reuniões com a reitoria sem obter respostas significativas. A mídia desempenha um papel importante, pois em alguns casos pode resolver questões rapidamente. Por exemplo, a Record TV veio, me entrevistou e também entrevistou os alunos. Também mostrou a situação da água, que foi trocada depois da cobertura, o que já é um pequeno avanço.
Agcom: Com essa greve em busca de melhorias acadêmicas, o que a classe docente espera para o futuro?
Espero que seja para renascer das cinzas, está difícil para todo mundo. Enquanto servidora, eu acho que valeu a pena, a gente conseguiu uma parte do que queria, mas todo mundo ajudou. Enquanto instituição, também acho que foi boa no sentido de chamar atenção para os nossos problemas. Algumas pessoas entenderam, outras pessoas acham que é só perder aula: “Ah, mas a minha filha vai perder aula”, mas não sabe que o filho tá sentado suando porque o ar condicionado não funciona. Então, tudo é demorado para as coisas acontecerem.
Entrevista escrita para a disciplina de Laboratório de Produção Jornalística ministrada pela professora Laiza Mangas.
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