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O TRANSPORTE DE GADO URBANO EM MACAPÁ

Atualizado: 28 de fev.


Foto: André Silva

“Todo dia isso agora. Eu não vou”, assim proferiu um prestador de serviço público da empresa Expresso Marco Zero, que cobre a linha Universidade e liga as zonas norte e sul da capital Macapá. Esse ônibus, inclusive, é o único que adentra os bairros Novo Horizonte, Lago da Vaca, Jardim Felicidade II e Jardim Felicidade I. Este último, aliás, é o derradeiro da rota antes que ele retorne ao centro para mais uma volta. Isso torna a vida de quem depende desse transporte muito difícil quando é impelido pelo motorista a descer antes do ponto de parada abrangido pela rota fixa e prevista pelo transporte, mesmo que este já esteja em vias de encerrar o turno. E o que aconteceu, mais uma vez, dentre muitas, na noite de 10 de abril de 2023 foi exatamente isso.


Estudante do turno da noite na Universidade Federal do Amapá e liberada mais cedo, depois de mais de 30 minutos de espera no ponto de parada em frente à UNIFAP, enfim consegui tomar o único ônibus que me deixa próxima de casa. É verdade que após um determinado horário a linha Jardim-Centro-Zerão presta apoio à parcela da população que habita nos bairros já mencionados anteriormente; contudo, esse amparo só ocorre a partir das 21h, 21h30, e neste dia eu havia sido liberada às 19h. Ao subir no coletivo, que rapidamente encheu em razão da demora, o condutor como de costume não informou que aquela era a última viagem daquele carro e que a intenção dele era seguir somente até parte da rota.


Assim como eu, outras pessoas também tomam aquela linha com a intenção de alcançarem seu destino diário. No decorrer do caminho, até determinado momento, o transporte seguiu admitindo a entrada de outros passageiros, mas lá pela altura do bairro São Lázaro, ele passou a avisar para quem desejava subir que seguiria para o encerramento daquela viagem e, caso a pessoa descesse antes do ponto final definido por ele, era permitido que permanecesse e cruzasse a catraca, do contrário, ele fechava as portas e prosseguia. Dessa forma, o ônibus foi esvaziando aos poucos e nas proximidades do bairro Jardim Felicidade II ele perguntou até onde cada um iria e informou aos poucos passageiros que ainda estavam no carro, um total de três, que iria somente até a frente de um comercial chamado Goiás.


Ao ouvir que dois dos três passageiros iriam além daquele ponto, ele começou a esbravejar de forma bastante grosseira e a afirmar que não seguiria viagem. “Isso é um absurdo. Todo dia isso agora”, disse ele diversas vezes. Em decorrência da série de comentários, um rapaz que desceria pelo menos umas três ou quatro quadras depois resolveu descer, mas eu permaneci. Ao perceber que eu não manifestei a intenção de fazer o mesmo que o rapaz, ele passou a correr, a conduzir de maneira agressiva e a protestar enquanto me encarava pelo retrovisor. Ao ouvir o sinal de parada, ele brecou o veículo bruscamente antes do ponto, o que me fez perder o equilíbrio. Em seguida, mal tirei os pés da escada que dá acesso ao carro, ele acelerou. Tudo feito com visível e proposital ignorância, como uma espécie de retaliação.


Situações como essas são comuns e bastante recorrentes, especialmente com o público feminino a depender do horário, o que é bastante curioso se for levado em consideração que há um projeto de lei que obriga condutores de transportes coletivos a flexibilizarem locais de parada no que se refere a subidas e descidas para mulheres a partir das 22h. Esse não foi o caso do ocorrido, já que desci por volta das 20h30, 20h40, mas com certeza envolve outros liames, como a prestação de um serviço minimamente satisfatório, pois é válido lembrar que o serviço, apesar de público, não é gratuito.


Mesmo que o motorista tivesse informado desde o primeiro ponto de ônibus, ainda no bairro Zerão, que aquela seria a última viagem feita por aquele condutor, naquele transporte e naquele turno, é preciso levar em consideração que o Universidade é a única linha que faz o percurso em questão. Outro aspecto a se considerar é o apoio prestado por outra linha da mesma empresa apenas a partir de um determinado horário, ou seja, não há essa disponibilidade o tempo inteiro para quem assim o desejar. Eu, assim como qualquer outra pessoa, não poderia – nem deveria! – passar duas horas em um ponto de parada esperando por um veículo se há um outro, que já está disponível naquele momento, simplesmente porque quem o conduz não estar disposto a cumprir um dever inerente à profissão e completar a rota até o último passageiro para depois, enfim, seguir para a garagem.


Um terceiro ponto igualmente importante diz respeito à falta de segurança a qual os usuários do transporte coletivo estão expostos em decorrência da demora entre uma linha e outra. Qualquer linha, diga-se de passagem. É sabido que o número e assaltos é expressivo e que muitos outros fatores também corroboram para isso, junto à falta de capacidade das empresas de transporte urbano em atender à demanda atual da população, e a precariedade da iluminação pública tem grande contribuição nesse problema que tem tomado proporções cada vez maiores.


O quarto mote põe em foco a questão da dispendiosidade do serviço, pois nos força a ter que pagar por mais de um transporte por viagem para poder alcançar o destino final, e tudo isso devido à falta de veículos que supram a necessidade do quantitativo de usuários na capital. Ou seja, quer dizer que o usufrutuário, que também é contribuinte, pode dispor de um valor a mais todos os dias para utilizar mais de um ônibus por destino – o que no final do mês faz uma diferença enorme no orçamento previsto – porém o prestador de serviço não pode cumprir a função que lhe é destinada por colocar seus interesses pessoal acima do interesse público? Parece que sim.


Ao término da viagem – sim, viagem porque a rota é grande – após o arranque malcriado do motorista, não foi possível anotar ou fotografar a placa e o prefixo do carro. Ainda assim, porém, acessei o contato via whatsapp da Companhia de Trânsito e Transporte de Macapá (CTMAC) e prestei denúncia sobre o ocorrido, fiz questão. Nela informei o sucedido, a frequência com que isso ocorre, o que foi dito, destacando, inclusive, as características físicas do prestador de serviço, o dia e o horário do acontecido, pois caso alguma providência seja tomada, será possível reduzir o número de possíveis profissionais atuantes naquele momento, por meio da escala de serviço da empresa naquele dia, para se chegar a apenas um.


É válido destacar que a intenção não é expor o profissional envolvido, mas sim levantar a reflexão acerca do serviço prestado e o tratamento dispensado a quem faz uso do transporte público em Macapá. Embora não seja necessário, é bom destacar que o prestador de serviço é apenas um reflexo da empresa na qual trabalha e, provavelmente, ele não deve ser o único a pensar e agir dessa forma. Então que tipo de serviço estas empresas têm oferecido à população? Mas, principalmente, que tipo de serviço nós, usufrutuários, temos aceitado? Ele nos é satisfatório? Atende as nossas necessidades? É necessário falar. É preciso dedicar um pouco mais de atenção à questão do transporte público na capital, um tema antigo cuja solução nunca se encontra e que atravessa os anos sem perspectiva de melhora, quer seja no que se refere à estrutura, quer seja no que diz respeito ao material humano e suas multifaces. O transporte de gado urbano em Macapá precisa acabar.


Disque-denúncia oficial CTMAC: (96)98100-0799

Projeto de Lei Nº 0016/2017 de autoria do Deputado Pastor Oliveira.


Tássia Malena - Acadêmica de Jornalismo / Unifap

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