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Mudanças climáticas podem aumentar as chances de câncer de pele

Previsões climáticas indicam calor extremo em 2024, e especialistas reforçam a necessidade dos cuidados com a saúde.


Por Marcelo Beijamim e Pablo Martel


Trapiche Santa Inês de Macapá-AP. Foto: Marcelo Beijamim.

Segundo o Instituto de Pesquisa Científica e Tecnológicas do Estado do Amapá (IEPA), o clima do estado é fortemente impactado pelos fenômenos climáticos El Niño e La Niña, caracterizados, respectivamente, pelo aquecimento e resfriamento anormais das águas do Oceano Pacífico, que causam um impacto global no clima. Essas oscilações naturais têm influência significativa sobre a quantidade e distribuição das chuvas, o que molda o padrão climático da região.


Tradicionalmente, o estado apresenta um período chuvoso bem definido de oito meses, de dezembro a julho, e um período seco de quatro meses, de agosto a novembro. No entanto, recentes observações indicam que a estiagem está se prolongando, e as consequências desse fenômeno são identificadas na intensidade das secas e na proliferação de queimadas.


De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), as mudanças climáticas provocam ao menos 150 mil mortes ao ano, número que pode dobrar até o ano de 2030. Os impactos dessas mudanças são evidentes em diversos aspectos ambientais e de saúde. O meteorologista do IEPA, Jefferson Vilhena, explica os efeitos que uma estiagem prolongada pode causar em uma região com pouca incidência de chuva.


“A estiagem prolifera as queimadas, e o tempo fica cada vez mais seco. Menos chuvas e mais dias sem chuvas. Isso pode provocar um aumento da incidência da radiação solar e vários tipos de proliferação de doenças. Os rios, por conta da estiagem do ano passado, estavam fragilizados. Esse ano não houve chuva suficiente para eles todos voltarem à normalidade, somente alguns conseguiram voltar, outros não conseguiram chegar à cota de normalidade.”, esclarece Jefferson.


Especialistas apontam que essa condição não só aumenta a radiação solar, mas também pode contribuir para o surgimento e agravamento de doenças respiratórias e de pele. A médica dermatologista, Danielle Beserra, explica sobre os impactos que podem causar malefícios ao corpo humano.


As radiações UVA e UVB são as causadoras do câncer, porque alteram o DNA da célula, e através dessa alteração vai-se criando células irregulares, anormais. Com essa formação de células anormais, aparece o câncer.”, esclarece a dermatologista.


Praia do Goiabal de Calçoene-AP. Foto: Marcelo Beijamim.

De acordo com o Núcleo de Meteorologia do IEPA, durante os períodos de estiagem, especialmente em outubro, os picos de calor são uma preocupação. Embora temperaturas elevadas também sejam registradas em meses de chuva, a intensidade das ondas de calor durante a estiagem é mais significativa. Até agora, os recordes de temperatura registrados foram 36,5°C entre 2014 e 2015, e as temperaturas atuais se aproximam desses extremos. A tendência é que este ano tenha um novo recorde de calor, principalmente no mês de outubro.


Diante dessas previsões, especialistas afirmam que, durante esse período, são necessários cuidados para se proteger contra os raios UVA e UVB. A falta de precauções adequadas e a exposição excessiva ao sol são fatores determinantes para o desenvolvimento até mesmo do câncer de pele. Esse foi o caso da jornalista Gilvana Santos, diagnosticada com câncer de pele na região do rosto.


Não tinha nenhuma proteção. Adorava pegar sol, piscina, praia. Sempre que podia viajar, usava o protetor no corpo por conta de queimadura, porque a minha pele é muito branca. Mas o rosto, como eu usava chapéu, eu achava que ele não queimava, que não havia a incidência dos raios solares, mas no final das contas, tem. Foi a inflamação do sinal que fez com que eu percebesse que tinha algo errado. Começou a inflamar e não cicatrizou mais.”, relata a jornalista.


O Observatório do Clima aponta que as mudanças climáticas põem em risco a saúde de 70% das pessoas, principalmente a classe trabalhadora, exemplo que potencializa os riscos associados à falta de proteção ao se expor a radiação solar. A realidade enfrentada por eles, especialmente entre comunidades vulneráveis, como trabalhadores rurais e ribeirinhos, que frequentemente não têm acesso a recursos adequados de proteção, é preocupante. Para evitar novos casos, é necessária a conscientização e sensibilização sobre a importância da proteção solar e a acessibilidade a cuidados médicos para prevenir e tratar doenças relacionadas ao câncer de pele.


A jornalista Gilvana, após diagnosticada com câncer de pele, passou a tomar determinados cuidados:


Se vou à praia, procuro ficar embaixo de guarda-sol com muito protetor solar. Mergulhou, passa de novo o protetor solar. Eu não vivo mais sem ele. No início, como eu estava muito impactada, eu usava até chapéu. Se ia para o comércio, ia de chapéu; se ia para a feira, ia de chapéu. [Hoje estou] mais relaxada, mas o protetor solar, sempre”, finaliza. 


Jefferson Vilhena analisando o clima do estado do Amapá Foto: Marcelo Beijamim.

As previsões climáticas para 2024 indicam uma continuidade da estiagem, com algumas chuvas esparsas em agosto e início de setembro. A partir de setembro, a estiagem pode se intensificar, com possíveis efeitos negativos sobre as queimadas e a saúde pública. De acordo com dados do IEPA, a estiagem será de intensidade dentro da faixa normal a ligeiramente acima da normalidade, e potencializa o agravamento dos problemas associados à saúde e ao meio ambiente.


Estudos reiteram que, ao longo dos anos, as mudanças climáticas moldam o ambiente e a saúde pública de formas complexas e interligadas. A influência do El Niño e La Niña, as alterações nos padrões de chuva e a crescente intensidade dos períodos secos, juntos, representam desafios significativos, desde o aumento das queimadas até o impacto na saúde. 


De acordo com a Organização das Nações Unidas (Onu), a conscientização e a preparação por meio de investimentos são essenciais para enfrentar os impactos climáticos e proteger a saúde e o bem-estar de todos. Nessa matéria, a jornalista Gilvana Santos compartilhou sua experiência pessoal com o câncer de pele, relato que serve como um lembrete poderoso da necessidade de cuidados e precauções contra os riscos associados à exposição solar.  Ela também deixou algumas recomendações para se prevenir e garantir a saúde da pele.

 

Quais característica o corpo apresenta quando está com alguma lesão ocasionada pela alta exposição ao sol?


Há vários tipos de lesão de pele, podem ser avermelhadas, escuras. Não existem sintomas sistêmicos, então, você não vai ter dor de cabeça. O máximo que acontece é que as lesões podem abrir, ulcerar e sangrar. E no caso do câncer de melanoma, pode acontecer metástase, nesse caso os sintomas dependem do órgão atingido na metástase.


Até quanto tempo a pele pode estar exposta ao sol?


15 minutos por dia é o suficiente nos braços ou pernas. A exposição ao sol já é suficiente para que o nosso corpo produza vitamina D em quantidade necessária. E não precisa ser o corpo inteiro e nem precisam ser horas de exposição.


Qual é a diferença de uma lesão de pele para câncer de pele?


Existem alguns sinais como irregularidade das bordas, assimetria da lesão, alteração de cor. Então, uma mancha que a princípio tinha uma cor, depois começa a ter duas, três cores, como preta, castanha e vermelha. Lesões que não fecham tão facilmente são algumas das características.


Qual profissional deve ser procurado quando perceber alguma lesão?


Devem procurar o médico dermatologista, especialista no cuidado com a pele.


Quais as medidas de proteção ao sair no sol?


Evitar exposição excessiva, usar protetores solares ou roupas [que cubram o corpo].


Qual tratamento e chances de cura?


O tratamento inicial é a cirurgia, a retirada completa da lesão. Dependendo do tipo de câncer, existe radioterapia, quimioterapia, imunoterapia, mas a princípio, o tratamento é cirúrgico. Quando retirado no início, a cura geralmente é 100%, pois é retirada completamente a lesão. Agora, o câncer melanoma, que é mais grave, também tem possibilidade de cura quando retirado no início, mas depois que já está avançado, a probabilidade [de cura] é menor.




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