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Lado B: o consumo de vinis em Macapá

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    AGCom
  • há 3 minutos
  • 7 min de leitura

O empresário e apaixonado por música, Charles Chaar, conta em entrevista sobre sua paixão por discos e como é esse mercado na capital amapaense. 


Por: Ágatha Corrêa e Édala Costa*


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(Charles Chaar, dono da loja Lado B Discos)


Foto: Ágatha Corrêa


De acordo com a Pró-Música Brasil, os discos de vinil correspondem a 76,4% das vendas de mídias físicas no momento. Embora seja um formato físico "antigo" e muitos da nova geração não tenham tido contato com as vitrolas, o ressurgimento dos discos tem se transformado em uma nova tendência entre os jovens. Charles Chaar, 38 anos, proprietário da loja Lado B Discos, localizada na orla de Macapá, no bairro Santa Inês, mostra como esses formatos de mídias se ajustam às novas gerações e contribuem para a difusão e a preservação cultural.


Édala Costa: Quando o seu interesse por colecionar discos começou?


Charles Chaar: Começou desde quando eu era criança, eu sempre tive uma hipnose quando via a agulha riscando o vinil e dali emitindo um som. E, a partir da minha adolescência, com meus 10, 11 anos, eu procurei recuperar os discos de família que a gente tinha, para colecionar, mas não tinha onde ouvir. Na época, o CD estava muito em voga, fazia muito sucesso, muito mais do que os discos, e eu procurei preservar essa memória musical da família, né? Foi daí que surgiu, de fato, o interesse.


Ágatha Corrêa: Para você, o que desperta o interesse das pessoas no vinil?


C.C: Eu acho que hoje tem um pouco da cultura pop contribuindo muito forte para isso. A gente vê através de propagandas e dos filmes, né? Outro dia, encontrei duas crianças numa feira de rua que eu estava fazendo, e levei uma toca-discos para tocar. Uma olhou para a outra e perguntou: “Você já viu isso tocando alguma vez?” Aí a outra criança respondeu: “Já”. Aí perguntou: “Onde?” E ela “no filme”. Achei muito curioso e, ao mesmo tempo, como mostra que esse interesse surge através da cultura pop. 


Édala Costa: Como você observa essa alta procura por mídias físicas por parte dos jovens?


C.C: .Eu acho que isso tem muito mais a ver com uma necessidade de pertencimento do que com uma necessidade capitalista, digamos assim, né? Eu costumo dizer que a gente trabalha com alegria. Vendendo alegria, proporcionando alegria através da música, do vinil, de CDs. É uma forma de encarar a vida, porque, como diria o poeta, a vida sem música seria um erro. Então, eu vejo que o interesse parte por esse retorno ao tato, pelo visual. Não é só o digital que hoje chama atenção. E essa volta às raízes de uma cultura meio retrô que é vista hoje em dia, faz muito sentido, porque é de uma época em que as pessoas paravam para ouvir um álbum inteiro, ler as letras das músicas. Então, acredito que tem um pouco disso tudo.



Ágatha Corrêa: Na era digital, como a mídia física se sobressai no quesito de preservação cultural?


C.C: Primeiro, eu acho que a mídia física, ela não veio concorrer com a mídia digital. Eu acho que a mídia digital é muito válida, sobretudo para a mídia física, porque a física pode se deteriorar com o tempo. Aí a gente vai ver, por exemplo, fita cassete, ainda não trabalho com esse tipo de mídia aqui, mas eu considero uma das mais frágeis. Quando você sobe para o digital, você perpetua a preservação mesmo, né? Já o vinil, eu acredito que é uma das mídias mais duráveis, não à toa a gente tem aqui disco de época e, também, discos novos, que também têm uma validade indeterminada. Então, eu acho que a mídia física vai contribuir para que as pessoas tenham o seu acervo pessoal, sua discoteca, e perpetuar isso através de gerações, ou seja, é dessa forma que a mídia física contribui de fato para a longevidade da música. Mas, eu acredito que a digital, ela é nesse sentido de maiores garantias para a preservação, digamos assim, desse acervo, já que o físico também tem a sua limitação, dependendo da mídia, você vê, ele é muito mais frágil que o vinil.


Édala Costa: Quais são os cuidados para preservação do acervo da Lado B Discos?


C.C: Todos os discos que chegam aqui na loja, somente os de época, passam por um processo de higienização. Nós temos um produto que utilizamos para higienizar os discos, as capas, e eles são embalados depois dessa higienização. São capas plásticas novas, tanto interna quanto externa, isso faz com que o disco aqui no nosso acervo se preserve por muito mais tempo. Eu costumo dizer para as pessoas que o começo da loja foi assim: eu queria ter uma loja de discos em que eu pudesse ter acesso àqueles discos como se fossem meus. Eu cuido dessa forma quando eu compro o disco na rua, eu limpo, coloco capa plástica nova, porque se eu for pegar um disco de época e retirar o disco lá de dentro, aquela capa já está se desfazendo, então eu cuido para mim, o que eu ofereço para os outros. Então, ofereço proteção, ofereço conservação e a gente faz essa triagem para ver se o disco está bom, não

está bom, se não estiver bem nem entra no nosso acervo. Então, desde o nosso começo, a gente teve esse cuidado, dessa limpeza, dessa higienização. E a gente já está chegando, talvez até o final do ano, a 20.000 exemplares já cadastrados, desde quando a gente começou.


Ágatha Corrêa: No acervo da loja, há algum disco, CD ou DVD que você tem alguma memória afetiva? Caso sim, qual?


C.C: Sim, existe o primeiro disco de chorinho do Amapá que é “Amilar Brenha e o choro das crianças”, produzido em 1986, gravado em Belém do Pará, onde meu pai faz parte desse disco, tocando Afoxé no grupo "Os Piriricas". A maioria do pessoal que fez parte dessa gravação já morreu, o próprio Amilar Brenha, que veio do Maranhão, meu pai, Carlos Silva, morreu em 94, quando ele tinha mais ou menos 7 anos (o disco), enfim, é o Bira Elson, um monte de gente. É um disco que eu mostro para as pessoas, e infelizmente por ter poucas cópias, eu não repasso, não revendo, mas é uma memória afetiva. Enfim, muitos que já passaram por aqui também fazem parte da minha memória afetiva, porque também eu cresci ouvindo. Mas eu já não tenho, diria, um apego como eu tenho a esse disco específico, que é

uma memória muito particular e familiar.


Édala Costa: Você trabalha com música?


C.C: Não, eu tenho projetos de relançar música regional em vinil, e para isso, eu dependo muito dos artistas locais localizarem a fita master, que é a principal gravação daquele disco, assim como tenho o Amadeu Cavalcante com o "Sentinela Nortente", o Osmar Junho com o disco dele, o Zé Miguel, Val Milhomem, entre outros. O mais recente projeto que a gente quer lançar, inclusive com o financiamento coletivo onde a pessoa tenha direito a ter seu disco depois, é o “Planeta Amapari” de Joãozinho Gomes, Val Milhomem e Zé Miguel, que foi lançado em 96 somente em CD, mas tem grandes sucessos ali, seria muito interessante também ter esse disco em vinil. Conversei com os três, e os três concordaram e quem sabe daqui para o ano que vem, quando esse álbum completar 30 anos, a gente tenha um lançamento desse álbum via Lado B.


Ágatha Corrêa: Quais experiências mais marcantes o trabalho na Lado B Discos te proporcionou?


C.C: Olha, muito contato com artistas, eu digo assim, o pianista da Gal Costa já esteve aqui quando a Gal foi fazer show em Belém e a gente combinou. Enfim, eu nem sabia quem ele era, mas a gente arrumou um piano e trouxe para ele tocar, e ele passou a tarde toda tocando aqui com a gente ou a equipe do Mano Brown. Então, sempre que tem algum show grande de fora, ou os músicos ou hosts participam, de certa forma, ali da produção daquele show ou alguém coleciona, vem aqui na loja. Geralmente não atendo ligações 011, achando sempre que é de São Paulo, mas em muitos casos eles mandam mensagem no WhatsApp, e eu abro tipo baterista dos Detonautas, enfim. Mas, eu acho que o mais relevante é o que a gente tem feito esse ano, que é, uma vez por mês, um encontro de colecionadores de discos de vinil. Então cada pessoa traz dois discos e conta da importância de cada um desses álbuns, seja para a história da música ou para a sua história pessoal. E assim a gente fica conhecendo ainda cada vez mais e aprofundando e conhecendo novos músicos, novos artistas, novas músicas também, porque cada um tem direito a colocar uma faixa de cada álbum nessa rodada, e tem o coffeebreak, então é um momento bem legal, de aprendizado e de troca.


Édala Costa: De que forma você sente que o mercado de discos é intergeracional?


C.C: Eu vejo de uma forma muito interessante, porque eu olho com muita curiosidade e vejo uma surpresa muito boa ter as novas gerações gostando desse contato do vinil. Outro dia eu presenteei o meu cunhado com um toca-discos, esperando fazê-lo feliz porque está completando 50 anos. Mas a alegria maior que a gente atingiu foi o enteado dele, de 12 anos, que ficou alucinado, ficou apaixonado e quem mais escuta o toca-discos é ele. Então, eu vejo como um momento em que a pessoa para ali para escutar música, para ver um aparelho que é dedicado àquilo, muito diferente de tudo aquilo que ele já está acostumado, seja celular, TV, internet, através de computador para escutar uma canção. A mídia física prende, a mídia física chama a atenção da nova galera e eu acho que isso é muito legal. É uma oportunidade entre as gerações de troca de conhecimento, de vivências e de novas experiências.


Ágatha Corrêa: Há algo mais que você gostaria de acrescentar?


C.C: Eu gostaria muito que essa loja fosse mais conhecida. E eu agradeço antes de tudo, vocês terem vindo aqui, terem me escolhido para essa entrevista. Porque o meu objetivo é que cada vez mais pessoas possam conhecer também aqui, possam saber que existe. Muita gente chega surpresa aqui, é que nunca pensou que teria. Então, só queria acrescentar esse agradecimento, dizer que os encontros de colecionadores de discos não são um encontro fechado, são abertos. A gente sempre marca previamente uma data e combina direitinho, porque a loja, apesar de pequena, cabe muita gente, muita gente participa. Também temos muitas parcerias novas, com cafeterias e fornecendo alguns discos para tocar nesses ambientes, contribuindo para esse momento de pausa e de apreciação das pessoas, em um momento em que as pessoas possam relaxar. E, por fim, a gente sempre está participando de feiras e esses novos projetos daqui para o ano que vem, se Deus quiser, vamos executar, como o lançamento de discos, essa é uma grande novidade.


*Entrevista produzida na disciplina de Redação e Reportagem II, ministrada pelo professor Dr. Alan Milhomem.


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