Equipe AGCom
Em entrevista para o Repórter Universitário, a professora do curso de ciências sociais da unifap e doutora em ciência política, Camila Risso, nos contou em entrevista especial sobre o fenômeno que são as Fake News.

O que são Fake News?
São as famosas notícias falsas amplamente veiculadas e desligadas da apuração dos fatos. É uma falsificação de notícias. O fenômeno da Fake News não é novo, ele acompanha a história da imprensa, a peça de teatro “O mercado de notícia’ de 1625, do teatrólogo Ben Jonson, já fala sobre a propagação de notícias falsas e de como fazia parte do mercado na imprensa. Em função da internet, redes sociais e aplicativos de mensagens, a proporção que as fake news atingem na contemporaneidade é absolutamente outra.
O que é necessário para evitar essa disseminação de notícias falsas?
Fala-se ultimamente numa educação digital, numa educação para a informação, algumas dicas simples são importantes para a gente saber se está lidando com uma fake news. A primeira, básica, é não ler só o título da notícia e não repassar ela se não tivermos acesso a todo o seu conteúdo. Tendo esse acesso, é importante se atentar para a linguagem, se é muito coloquial ou mais jornalística em que você percebe que foi feita por um profissional. Outro ponto importante é ver quem é o autor da reportagem, que tipo de credibilidade ele tem, qual o veículo que está propagando essa notícia, a que site pertence, a que jornal ou a que órgão da imprensa. É importante olhar a data de publicação da notícia, muita gente não olha, às vezes uma notícia é verdadeira, mas está sendo replicada como fake news porque é trazida de volta. São coisas simples, qualquer um pode fazer e eu garanto que reduz a probabilidade da gente cair numa fake news.
Qual o principal interesse de quem espalha as Fake News?
O principal interesse é atingir o conceito fundamental da imprensa, que é a ideia de credibilidade. A noção de credibilidade conduz o jornalismo e as notícias falsas vão minando a ideia de credibilidade, feito isso, a disseminação de fake news serve também para o assassinato de reputações, em que pessoas que tenham certa reputação no ambiente público tenham essa credibilidade questionada por notícias que não são verdadeiras.
Como as notícias falsas podem afetar as eleições de 2018?
Todos os grandes órgãos de imprensa estão preocupados com isso, eles estão quase como numa “cruzada” contra as fake news. O conceito de credibilidade é tão fundamental para a imprensa quanto é para a política, então você minar a credibilidade de um grande ator da política pode ter fortes consequências nas eleições tanto que O Tribunal Superior Eleitoral já está montando cartilhas para tentar lidar com a ideia de fake news. A forma como vai se lidar com isso nessas eleições, com as redes sociais e os aplicativos de mensagem, é crucial para o desenrolar dela. Nós temos que tomar cuidado também porque apesar da imprensa tradicional estar nessa cruzada, no meio dela, pode estar envolvido uma ação contra qualquer tipo de imprensa alternativa. São dois lados de uma mesma história. Nas eleições, veremos a dimensão do que esse conceito de notícias falsas vai influenciar nas eleições brasileiras.
Como a academia tem que lidar com a questão de Fake News?
A relação entre mídia e política precisa ser objeto de pesquisa, tanto na comunicação social quanto na ciência política. Acho que a ciência política demorou um pouco para abrir os olhos de que esse é um objeto privilegiado para a gente. Os meios de comunicação são uma forma de poder e a ciência política sempre lida com o poder, como se distribui ele, quais são suas relações. Inegavelmente, os meios de comunicação, as mídias digitais, são um espaço onde se dão também a relação de poder. Temos também o dever de disseminar informação científica e qualificada e abrir o debate sobre temas que são relevantes, além de discutir temas que são subjacentes disso, a universidade tem essa tarefa. Me preocupa nós discutirmos um fenômeno e não debater o que está por trás dele, para mim, as fake news tem a ver com a questão do individualismo [...]
No amapá já existe a interferência direta das fake news?
A gente vê as disseminações nas redes sociais de alguns tipos de fake news e também em blogs de notícias. Aqui no Amapá é preciso um pouco mais de pesquisa de como é a disseminação de notícias dentro do próprio estado, pelo menos no campo da ciência política, porque eu acho que vocês da comunicação social estão muito mais avançados que a gente. Mas nós da ciência política ainda pesquisamos pouco. A agenda de pesquisa aqui ainda está aberta e precisamos chegar nela. Então eu acho que no Amapá não é diferente dos outros estados do Brasil, onde a fake news tem sim repercussão grande e que pode ter bastante influência no debate eleitoral que está aí batendo na nossa porta.
Confira a nossa entrevista completa no programa Repórter Universitário: https://www.youtube.com/watch?v=uZ06fdtc_xs&t=846s
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