Fernando Pereira/AGCom
O dia da mentira sempre era aguardado com muita ansiedade pelas crianças do meu bairro, principalmente pela oportunidade de pregar peças nos amigos pelo simples e puro prazer de brincar com algo que todos sabem que é errado. Fingir sobre mudar de casa, estar de mal por motivos inexplicáveis, começar namoros fictícios para enganar os amigos eram formas de aproveitar o dia primeiro de abril. Apesar de tudo, esse dia nunca foi de extrema importância para mim ou para meus amigos e não creio que seja tão importante para você. Sentimento diferente de quem viveu na origem do significado do primeiro de abril.
Tudo começou no século XVI, o ano novo na França era comemorado no dia 25 de março e as comemorações eram encerradas no dia 1º de Abril, porém, no ano de 1564, o Rei Carlos IX determinou que, oficialmente, o país passasse a seguir o calendário gregoriano, passando as comemorações para o dia para 1º de janeiro. Assim, algumas pessoas começaram a fazer brincadeiras e a ridicularizar aqueles que insistiam em continuar a considerar o dia 1º de abril como ano novo, sendo considerados bobos por seguirem algo que agora já não era mais verdade.
No Brasil, essa brincadeira tomou corpo e se tornou tradição popular em Minas Gerais, pelo periódico “A Mentira”, que tratava de assuntos efêmeros e sensacionalistas do começo do século XIX, com a sua primeira edição publicando a ‘’morte’’ do imperador Dom Pedro II, tendo que desmentir dois dias depois da sua publicação, já que muita gente acreditou na notícia, que foi publicada em 1º de Abril de 1848. Nos últimos anos, alguns grandes veículos de comunicação entraram na brincadeira e publicaram fake news para assustar seu público, como a noticia da descoberta de pinguins voadores, em 2008, pela renomada BBC do Reino Unido.
O fato é que quanto mais o tempo passa na minha vida, elaborar mentiras para esse dia torna-se menos interessante. Talvez, por isso os jornais, revistas e sites, compostos por adultos que trabalham para pregar essas peças, reúnem expectadores, que aguardam com bom humor as brincadeiras feitas por essas grandes empresas para dar boas risadas das notícias veiculadas ou de produções que, provavelmente, nunca vão acontecer, como costumam fazer o mercado dos videogames e cinema, por exemplo.
Relembrar o tempo de infância é sempre bom, e isso pode ser até um novo patamar de mentiras para quem eventualmente às produz. Imagine a sensação de pregar uma peça em todo um continente ou até mesmo no mundo inteiro? Parece ser bem divertido. Mas hoje o dia da mentira passou a ser relativo e foi reduzido a fake news e falsas propagandas, adaptando-se ao formato social que vivemos.
Hoje é bem difícil algum amigo ou parente preparar algo para enganá-lo, já que a vida passou a ser muito corrida e por complexidade do dia a dia, pouca gente usa seu tempo pra esse tipo de coisa. Realmente, o primeiro de abril da minha infância talvez nem exista mais, sendo mais uma prova de que sociedade vive em constante mudança nas suas abordagens culturais, e o dia da mentira pode ser mais uma prova disso.
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