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  • Foto do escritorGiovanna Moramay

Cena musical independente de Macapá

Atualizado: 28 de out. de 2022

Maniva Venenosa, Jhimmy Feiches e Poetas Azuis contam desafios locais.


Por Giovanna Moramay Lins


Maniva Venenosa se apresentando (Foto: Giovanna Moramay Lins/AGCOM)


A cena artística independente amapaense resiste com todos os mecanismos disponíveis, apoio mútuo e muito amor pelo que faz. É o caso do grupo musical Maniva Venenosa, conhecido por sua mistura original de ritmos latinos, como reggaeton e dembow, com rap e música amapaense.

A banda formada por Kash, Brank’s e Priisca atua de forma independente, com direito a todos os obstáculos que acompanham a profissão. O trio não vive somente de música e conciliar trabalhos de carteira assinada, estudos e a vida artística só é possível através da comunidade.


Maniva Venenosa (Foto: Giovane Brito/AGCOM)


“É uma cena bastante grande até, tem vários artistas que fazem parte desse processo de ajuda mútua, de construir uma rede de apoio, de um fortalecimento. Macapá é bastante complicado por essa falta de fomento à cultura, nós como artistas também temos esse papel de cobrar essas políticas públicas”, explica Brank’s. “É uma luta pelos artistas futuros, que ainda estão pensando em cantar, ainda estão fazendo cursos de musicalização, essa galera também ganha com a nossa luta e eu acho que a nossa batalha é justamente essa, lutar para cantar e também ajudar a fomentar o desenvolvimento da cultura no estado”, completa.


Esse sentimento é compartilhado por Jhimmy Feiches, que fora dos palcos trabalha como professor de inglês. “Eu acho que o motivo que é tão difícil ser artista aqui em Macapá é que existem incentivos, mas são incentivos muito pontuais. Não existe uma constância para que esse ciclo continue, esse ciclo de ser artista e ser pago por isso, não ser algo de só uma ou duas vezes por ano, pois artista não paga conta só uma ou duas vezes por ano”, Jhimmy destaca ainda a falta de incentivo como motivo a muitas pessoas desistirem ou mudarem de estado.


Jhimmy Feiches no palco (Foto: Giovanna Moramay Lins/AGCOM)


Uma forma de conseguir mais trabalhos e reconhecimento é através da SECULT - Secretaria de Cultura do Estado do Amapá. A SECULT funciona como uma “agência de talentos” estadual. Artistas credenciados podem ser indicados para trabalhos através do órgão público, além de artistas poderem pedir financiamento, que é necessário apresentação de projeto e portfólio para liberação.


Clícia Maia, chefe de unidade da SECULT, explica a atuação do órgão como “um instrumento de realização. A SECULT não organiza eventos próprios, apenas direciona. Se houver um evento e precisarem performances ao vivo, artesãos, atores, nós indicamos os artistas que temos credenciados, ou então, se um artista estiver procurando financiamento para algo individual vamos avaliar o projeto apresentado e, se liberado, fiscalizar que tudo foi usado de acordo com o que foi acertado”.


Não é todo projeto que passa e nem todos que passam conseguem o orçamento esperado. A competição pelos poucos eventos culturais que ocorrem na cidade é acirrada, assim os artistas precisam elaborar outros meios de proceder.


“Ser artista no estado do Amapá é um ato de coragem e resistência. As pessoas estão habituadas a compreender o artista como uma pessoa solo, produto pronto, mas ele faz parte de uma cadeia produtiva, para aquele artista chegar em cima do palco teve trabalho também de um fotógrafo, de um designer, um maquiador, foi necessário arrumar equipamento, figurino, transporte, tudo isso é um gasto do artista”, conta o compositor e poeta Pedro Stkls, prestes a lançar seu primeiro EP como parte do duo Poetas Azuis pela produtora cultural Duas Telas. “O que me inspirou a ser um agente da cultura, trabalhar para construir outras carreiras é que eu quero estar num lugar muito bom, mas que outras pessoas também estejam, os artistas do Amapá são muito talentosos e a gente precisa dessa força”, ressalta o artista.


Pedro STKLS dos Poetas Azuis/ Fotos: Arquivos


A maioria dos artistas locais se movem com uma força para a representação através da arte. Jhimmy destaca-se como uma pessoa lgbt e índigena, de família ribeirinha, “sempre me emociona conseguir atingir as pessoas com a minha música, representar quem eu não conheço com as minhas experiências”.


“Nós, como militantes do hip-hop, sentimos uma obrigação com a nossa quebrada, com as pontes, de mostrar que a música pode ser uma opção e representar o que as pessoas vivem, ser um escape que pode livrar um moleque de cair no crime ou caminhos errados”, declara Kash.


Como única integrante mulher do Maniva, Priisca completa, “acho que ter uma mulher negra em um grupo com homens, que fazem rap e tem essa mensagem, eleva muito as coisas. Ter essa representatividade em músicas que tem origem negra dá todo um valor ao que estamos fazendo. Trazemos aqui um clamor por mais políticas públicas para que possamos continuar fazendo isso”, declara Priisca.


A cena musical independente na cidade Tucuju se sustenta nesta rede de ações entre artistas. Muito afeto pela arte e muito exemplo pela vida em comunidade.


SERVIÇOS:

Agenda ‘Maniva Venenosa’: apresentação no Bar do Vila, localizado na Av. Mendonça Furtado, 586 - Central, Macapá. Dia 27, quinta-feira, às 20:00.


Agenda ‘Jhimmy Fetiches’: hoje, às 20h, Jhimmy irá participar de uma live para discutir sobre o legado cultural amazônida e da perspectiva enquanto artista nortista para o futuro.


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