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Acessibilidade e autonomia: o trabalho do CAP e as pessoas com deficiência em Macapá

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    AGCom
  • 29 de ago.
  • 4 min de leitura

O Centro oferece atividades de educação física, informática, Braile, orientação e mobilidade.


Por Ana Júlia Pontes


Nas atividades de educação física são trabalhadas noções de lateralidade, equilíbrio e espacial. Foto: Ana Júlia Pontes.
Nas atividades de educação física são trabalhadas noções de lateralidade, equilíbrio e espacial. Foto: Ana Júlia Pontes.

Calçadas quebradas, espaços de transporte público sem orientação sonora, a ausência de sinalização tátil e a pressa impaciente de quem enxerga. A vida de uma pessoa com deficiência visual em Macapá não é fácil. No entanto, dentro dos muros do Centro de Apoio Pedagógico à Pessoa com Deficiência do Amapá (CAP) existe resistência e autonomia. É nesse espaço que os professores e alunos se preparam diariamente para desafiar uma cidade que ainda não os reconhece como prioridade.


Ao conversar com professores e alunos do Centro para entender como eles transformam conhecimento, corpo e mente em ferramentas para vencer os obstáculos da falta de acessibilidade na cidade, a professora de Educação Física, Ana Cláudia Medeiros, 49 anos, afirma que “o primeiro passo é conhecer o próprio corpo. A partir do momento em que ele aprende a identificar onde está seu corpo, onde estão seus pés, sua mão, seu eixo, ele se movimenta com mais segurança. Ele dança, mas também se movimenta pela cidade com mais firmeza”.


Esse conhecimento serve como parâmetro essencial para as pessoas com deficiência, desenvolverem autonomia diante das dificuldades da cidade. Ana Cláudia esclarece que no CAP são realizadas diversas atividades para auxiliar as pessoas com deficiência. “Trabalhamos com a noção espacial, lateralidade e equilíbrio. O aluno precisa entender seu corpo no espaço antes de enfrentar a rua. Por isso, inserimos pequenas práticas e atividades que desenvolvem o imaginário como ferramenta para á parte da consciência corporal e contribui para a percepção auditiva”, detalha a profissional de educação física.


O aluno da turma de educação física Izaac Ribeiro, 31 anos, relata que tudo mudou na vida dele após as atividades no CAP. “Antes eu me sentia travado, com medo de cair. Aqui comecei a me mexer, a dançar, a correr. Meu corpo ganhou confiança. Aprendi a me locomover nos lugares, mesmo com a cidade tendo muitos obstáculos eu não fico parado”, garante.


Ao ser perguntado sobre a sua percepção de como a sociedade interage com pessoas com deficiência visual, Izaac reflete: “algumas pessoas têm empatia, mas falta informação. Esse é um dos leões que temos que aprender a lidar todos os dias. Às vezes, as pessoas tentam ajudar, mas é difícil, pois acabam por atrapalhar ainda mais. Costumo me locomover muito por carros de aplicativos e tem motoristas conhecidos que entendem, mas alguns não e acabam por cometer alguns erros graves que nos colocam em risco de vida”. 


Após adquirir a deficiência devido a um acidente de trabalho, Walmir Nascimento, 62 anos, passou a frequentar o CAP e fazer parte das aulas de educação física, informática e orientação e mobilidade. No Centro, ele encontrou uma nova forma de existir. “Foi libertador quando comecei a participar das aulas e aprender a locomover novamente. No início, eu dependia da minha esposa, mas consegui aprender a fazer tudo sozinho. A entender os sons da rua, a usar o computador, marcar consulta sozinho”, conta feliz. 


Apesar da independência, Walmir reclama da falta de acessibilidade em Macapá. “De jeito nenhum a cidade é acessível. As calçadas são armadilhas. Tem buracos, degraus, postes no meio da passagem. É difícil pegar ônibus. Mesmo que consigamos entender os sons e usar pontos de referência, mas a cidade não é planejada, pensadas para as pessoas que não enxergam”, afirma.



Trabalho no CAP

Segundo à pedagoga e doutora em perturbações do desenvolvimento, Rosinete Rodrigues, 55 anos, o Centro tem papel duplo no trabalho com as pessoas com deficiência. “O CAP prepara os alunos para o mundo. Mostramos que eles podem circular e estudar e trabalhar. Mas também dialogamos com as famílias, com as escolas e com a sociedade. A acessibilidade, ela só acontece de fato quando a sociedade e a cidade entendem que precisa mudar”, destaca. 


Além disso, a doutora ressalta que os desafios para garantir acessibilidade são estruturais e culturais. “O despreparo das estruturas públicas e o preconceito sutil são grandes obstáculos. Muitos pensam que pessoas com deficiência devem ser assistidas, não protagonistas. Isso está errado. Aqui tentamos ao máximo desenvolver desde muito pequenos, sujeitos ativos. Leitores, dançarinos e programadores”, conta. 


Essa formação no CAP começa cedo. Joselina de Oliveira, conhecida como professora Josi, ensina o pré-braille e destaca a importância da educação desde pequeno. “O pré-braille é a base. Trabalhamos com a motricidade fina, para ajudar com a sensibilização dos dedos, com a coordenação bilateral. Só depois disso o aluno consegue ler e escrever com o Braille de forma funcional”, detalha.


Segundo ela, o impacto do ensino é profundo. As crianças evoluem todos os dias. Chegam sem noção de espaço e em pouco tempo estão indo ao mercado com os pais e até reconhecem o valor das cédulas de dinheiro. Mas há desafios nessa formação, pois nem todas as famílias têm condições de levar as crianças semanalmente às atividades do CAP. “Os pais vêm não tendo condições financeiras e em alguns casos não podem trazer toda semana e isso prejudica o desenvolvimento da criança”, finaliza a professora Josi. 


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