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Lixo eletrônico: um problema ignorado em Macapá

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    AGCom
  • 1 de nov.
  • 5 min de leitura

Pilhas, celulares, computadores e eletrodomésticos são jogados fora de maneira incorreta.


Por Amanda Cruz, Crystofher Andrade e Talita Paiva*

Lixeira a céu aberto com resíduos eletrônicos no Centro de Macapá – Foto: Rafael Carneiro.
Lixeira a céu aberto com resíduos eletrônicos no Centro de Macapá – Foto: Rafael Carneiro.

O avanço acelerado da tecnologia, muda a cada dia a forma de viver, de trabalhar e de se comunicar. Mas, junto com as inovações que facilitam a vida, cresce também outro problema: o lixo eletrônico. O Brasil está entre os países que mais consomem dispositivos eletrônicos no mundo e isso tem um preço.


Em 2019, o país foi considerado o quinto que mais gerou resíduos eletrônicos, produzindo dois milhões de toneladas. O dado é do relatório The Global E-waste Monitor 2020, elaborado pela Organização das Nações Unidas (ONU), em parceria com instituições internacionais.

É considerado lixo eletrônico todo equipamento que atingiu o limite de uso e não pode mais ser reutilizado ou reciclado. Isso inclui aparelhos como celulares, tablets, computadores, videogames, controles, entre outros. Esses produtos são compostos por plástico, vidro, metais e substâncias químicas.


Boa parte da população desconhece a utilidade e o poder de reaproveitamento desses materiais, por isso acaba descartando-os de forma inadequada. Quando despejados em locais impróprios ou misturados ao lixo doméstico, esses elementos podem contaminar o solo e a água, e ainda causar danos à saúde das pessoas, plantas e animais.


“Um celular quebrado pode, com o tempo, liberar metais tóxicos que chegam aos lençóis freáticos. Se esse lixo for queimado, pode liberar gases tóxicos. No caso de Macapá, há ainda o risco desse lixo parar nos canais ou diretamente no rio Amazonas, afetando peixes e a biodiversidade”, afrima Argemiro Bastos, doutor em Biodiversidade e Biotecnologia.


Lixo eletrônico em Macapá

Televisores usadas jogados em calçadas no Centro da cidade – Foto: Rafael Carneiro.
Televisores usadas jogados em calçadas no Centro da cidade – Foto: Rafael Carneiro.

Em meio a falta de informação sobre o problema, muitos moradores de Macapá não sabem onde descartar aparelhos antigos. “Eu costumo separar os eletrônicos que não funcionam mais, alguns vendo para assistências, mas admito que, às vezes, não sei como descartar, então coloco em uma sacola separada de outros resíduos e jogo no lixo normal”, explica Adryan dos Santos, estudante de Ciências da Computação.


A lei municipal nº 2.435 de 2021, instituí a coleta seletiva de lixo eletrônico e tecnológico não apenas na zona urbana, mas também na zona rural de Macapá. Já legislação estadual nº 3.246 de 2025, define uma política de coleta contínua de lixo eletrônico de pequeno porte, que abrange escolas públicas e privadas em todo o Amapá.


O descarte inadequado de itens como pilhas e baterias, que contêm metais pesados e prejudiciais ao meio ambiente, é proibido em todo o estado. A lei nº 581 de 2000, estabelece regras rígidas sobre o descarte de resíduos tóxicos nos lixos doméstico ou comercial.


A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) determina que todas as cidades brasileiras elaborem e coloquem em prática o Plano Municipal de Gestão Resíduos Sólidos (PMGRS). A medida busca organizar a maneira como os resíduos são gerenciados e descartados em cada município, buscando soluções eficientes e sustentáveis.

Secretaria Municipal de Zeladoria Urbana não informou sobre planejamento para descarte de lixo eletrônico – Foto: Rafael Carneiro.
Secretaria Municipal de Zeladoria Urbana não informou sobre planejamento para descarte de lixo eletrônico – Foto: Rafael Carneiro.

Apesar da legislação existente, Macapá não conta com um plano municipal e tampouco com um sistema efetivo de coleta para o lixo eletrônico. Como resultado, grande parte é jogado fora sem qualquer tipo de separação ou reaproveitamento.


Sandro Moraes, dono de uma assistência técnica afirma nunca ter recebido informações do poder público, visto campanhas ou conhecido projetos educativos voltados ao descarte correto de lixo eletrônico.


“Não entram em contato conosco. Tento utilizar o máximo de resto de carcaça e o que não consigo jogo no lixo normal, como telas quebradas, bateria de relógio, restos e enfim. As empresas privadas cobram para vir coletar o lixo eletrônico. Nunca ouvi falar e não conheço ninguém que faça coleta desses materiais”, explica.


Alternativas descontinuadas?

Em 2022, uma das primeiras iniciativas voltadas à destinação correta desse tipo de resíduo foi a criação de ecopontos. A implantação foi anunciada no site da Prefeitura de Macapá e considerada um passo inicial para a aplicação da PNRS, conforme previsto na Lei nº 12.305 de 2010.


Macapá tinha se tornado a primeira cidade do Amapá a aderir ao Sistema de Logística Reversa de Eletroeletrônicos. Esse mecanismo permite o retorno de produtos usados, como eletrodomésticos, ao ciclo produtivo. Em vez de irem para o lixo comum, esses itens são encaminhados para reciclagem ou reaproveitamento de peças.


Três anos depois, a reportagem buscou informações sobre o funcionamento dos ecopontos. Na Secretaria Municipal de Zeladoria Urbana, uma das responsáveis pela iniciativa, nenhum servidor soube informar se os espaços estão ativos. Questionados sobre a existência de um Plano Municipal de Gestão de Resíduos Sólidos, os representantes prometeram agendar um novo momento para esclarecer o assunto, o que não ocorreu até o fechamento da reportagem.


A equipe também esteve na Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Desenvolvimento Sustentável e Ordenamento Urbano (Semam), onde funcionava um dos ecopontos inaugurados em 2022. No entanto, o espaço não funciona mais e não houve esclarecimentos sobre a desativação.


Os ecopontos foram implantados em parceria com o Tribunal Regional Eleitoral do Amapá (TRE-AP). No prédio do TRE-AP, localizado na Avenida Mendonça Júnior, 1504, no Centro de Macapá, está o único espaço que ainda funciona e recebe somente pilhas e baterias.

Ecoponto do TREA-AP continua em funcionamento desde 2022 – Foto: Emilly Almeida.

Soluções sustentáveis


O descarte irregular de lixo eletrônico é um desafio ambiental em todo o país. Para enfrentar o problema, iniciativas sociais e acadêmicos começaram a surgir, inclusive em Macapá. Uma é o Centro de Recondicionamento de Computadores (CRC) da Universidade Federal do Amapá (Unifap).


O CRC é parceiro do programa nacional Computadores para Inclusão, do Ministério das Comunicações (MCom). O espaço recebe equipamentos que seriam descartados, reaproveita as peças e monta novos computadores. Além disso, oferece cursos gratuitos e oficinas para recuperar equipamentos, conscientizando a população sobre o descarte correto desses resíduos.


CRC da Unifap recebe, recondiciona e doa computadores e eletrônicos que seriam descartados — Foto: Crystofher Andrade.
CRC da Unifap recebe, recondiciona e doa computadores e eletrônicos que seriam descartados — Foto: Crystofher Andrade.

Outro projetos acadêmico também destaca a importância da educação ambiental


O projeto de extensão Unifap Lixo Zero do curso de Ciências Ambientais conscientiza sobre o consumo e o descarte, para promover práticas sustentáveis e a gestão de resíduos sólidos. Para isso são feitas ações de coleta de materiais recicláveis, formação de agentes e oficinas, como as de reutilização de materiais. O projeto também colabora com cooperativas de catadores e busca influenciar a implantação da coleta seletiva.


“Dentro do projeto, buscamos rever nossos padrões de consumo e novas formas de economia, principalmente entre os jovens. A juventude tem se preocupado cada vez mais com o meio ambiente e ajuda a repensar nossos valores e o futuro que queremos para todos”, destaca Clara Capiberibe, integrante do projeto e estudante de Ciências Ambientais.

Acadêmica de Ciências Ambientais, Clara Capiberibe, fala sobre o projeto Lixo Zero – Foto: Rafael Carneiro.
Acadêmica de Ciências Ambientais, Clara Capiberibe, fala sobre o projeto Lixo Zero – Foto: Rafael Carneiro.

A Justiça Federal no Amapá também atua na causa. Todo mês, o órgão faz a coleta de papel, plástico, vidro, óleo de cozinha e lixo eletrônico em ecopontos de Macapá. Criado em 2021, o projeto incentiva a limpeza urbana e o descarte adequado de resíduos. No caso do lixo eletrônico, o material é separado em recipientes metálicos e levado para destinação segura.


Entre 2019 e 2021, cerca de 2 mil ecopontos foram criados no Brasil para receber resíduos eletrônicos. Nesse período, 1,3 mil toneladas de aparelhos foram retiradas do meio ambiente. Hoje, o país conta com mais de 3,4 mil pontos de coleta, mas no Amapá essas unidades ainda permanecem escassas.


“Sem planejamento, não há como resolver o problema. Cada cidadão descarta como pode, o que fica sem controle. Faltam pontos de entrega voluntária e campanhas educativas. Políticas públicas ajudam a mudar isso, mas precisamos ir além do descarte. A educação ambiental é o verdadeiro ponto de partida”, explica Argemiro Bastos.


Leis sobre o assunto:





*Reportagem produzida na disciplina “Jornalismo Ambiental”, ministrada pela professora Esp. Aline Ferreira.

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