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Conheça a luta antimanicomial em Macapá

O movimento surge no Brasil após a reforma psiquiátrica, no fim dos anos 70, com o objetivo de fiscalizar, questionar e expor práticas desumanas dentro das instituições psiquiátricas.


Por Matheus Gomes e Ian Reis


Muro do Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS AD) de Macapá. Entre os usuários, o espaço é um exemplo de humanidade no atendimento especializado em saúde mental. Foto: Matheus Gomes.


Conhecido como um dos mais expressivos movimentos de transformação na área da saúde no Brasil, a reforma psiquiátrica brasileira teve início no fim dos anos 70 com a mobilização de familiares de pacientes e apoio de funcionários do sistema de saúde. O momento foi considerado uma nova era para os tratamentos dentro de instituições psiquiátricas.


Vinculada a essa reforma, nasce a luta antimanicomial, tendo como principal intuito garantir o direito à cidadania e a defesa dos direitos humanos. Em Macapá, o movimento surgiu entre 2013 e 2014, após questionamentos populares sobre os métodos ineficazes no tratamento de dependentes químicos e a falta de estrutura da rede amapaense de saúde mental.


A mobilização para a criação do movimento na capital contou com a participação de adictos, familiares e trabalhadores dos serviços públicos de saúde mental, como o Centro de Centro de Atenção Psicossocial (CAPS AD).


Reunião de membros da luta antimanicomial Amapá e usuários do CAPS Gentileza. Foto: arquivo luta antimanicomial Amapá.


Não houve um fato em específico que impulsionou a construção da luta, mas segundo Israel Oliveira, membro fundador e atual responsável pelo movimento na capital, o preconceito, a dificuldade de acesso e o sucateamento dos serviços da rede atenção psicossocial foram fatores culminantes. Ele conta que as unidades CAPS em Macapá ainda não conseguem suprir a demanda atual.


“O nosso quantitativo habitacional já é suficiente para ter quatro CAPS 24 horas e mais duas ou três da modalidade que existem aqui. Então, se a gente for comparar, por exemplo, com Belém, que é bem aqui do lado, a nossa política de saúde pública está atrasada pelo menos uns 200 anos”, questiona Israel sobre sua relação com o CAPS.


CAPS AD está localizado na Av. Profa. Cora de Carvalho, 1731 - Central. Foto: Elmano Pantoja.


O espaço do CAPS AD hoje serve como referência no tratamento, ainda que limitado, de adictos e portadores de doenças mentais. A unidade atende em média 450 pacientes mensais e conta com uma equipe de 45 profissionais.


Kazuo Yoshidome, de 25 anos, artista e estudante de teatro na Universidade Federal do Amapá (UNIFAP), conta que na época em que era militante da União da Juventude Comunista (UJC) frequentou algumas reuniões da luta antimanicomial. Por ser usuário do CAPS, ele participou da organização de uma campanha no mês da luta antimanicomial, que acontece geralmente em maio. Intitulada “trancar não é tratar”, a ação contou com pinturas de murais coletivos, confecções de lambes, manifestações, rodas de conversas e debates.


“Foi a partir disso que eu me aprofundei no conhecimento da luta antimanicomial, de entender a importância da RAPS [Rede de Atenção Psicossocial] e do CAPS, de entender que os manicômios ainda existem em formato de comunidades terapêuticas”, diz Kazuo.


“Muitas vezes eu não tinha o que comer e eu só consegui me alimentar porque eu vim aqui no CAPS. Muitas vezes eu não tinha dinheiro para comprar remédio e consegui aqui. E é isso, eu acredito que tem que investir mais no CAPS e menos em comunidades terapêuticas. Trancar não é tratar”, complementa o estudante.


Usuários do CAPS AD esperando o horário de fechamento da unidade, que acontece diariamente às 18h. Foto: Matheus Gomes.


Usuário do CAPS AD segurando seu livreto de poemas e músicas. Foto: Matheus Gomes.


Como fazer parte do movimento


Israel explica que o movimento possui uma carta de princípios que é apresentada aos interessados em conhecer a luta. Se houver interesse e concordância com os princípios apresentados, inicia-se o acompanhamento e, posteriormente, a distribuição de tarefas de acordo com a possibilidade de cada ativista.


“Uma das comissões que a gente tem, mas no momento não está funcionando por falta de pessoal mesmo, mas que temos a pretensão de ativar ela assim que possível, é a comissão de formação política que a pessoa vai se apropriar do porque ela vai lutar. Só está no movimento, solto, sem ter um objetivo é o que acaba desmobilizando muitas lutas e a gente tá tentando superar isso”, conclui Israel sobre a necessidade de formação política para a melhoria da luta.


Encontre a Luta antimanicomial do Amapá


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