Sempre que chega novembro, me pergunto, como promover a consciência negra? Falar da violência é cotidiano no racismo estrutural. Não pode ser mais sobre isso, ou não apenas isso.
Conheço mulheres negras muito maravilhosas. Muito mesmo. São amigas, com quem me encontro e somos felizes. Pra isso, precisamos simplesmente nos encontrar e falar, contar histórias e rir feito pombagiras. A gente se elabora na troca, compartilhando e atravessando a intimidade de cada uma. Esta é a metodologia deste projeto, a própria vida sendo contada pra, lembrar, pra sorrir e ser feliz. Mulheres que contam sobre suas identidades negras e sua trajetória de saber. Estudaram, se politizaram, se entregaram, se reconheceram, se encantaram, se enxergaram, se questionaram, experimentaram e escrevem seus destinos.
Saber dessas trajetórias, sentir o coração e o estômago a partir das falas dessas mulheres trará mais consciência negra ao mundo. Elas são brilho e fazem saber suas belezas por esta websérie. Elas são reais e vivem no nosso tempo, caminham pelas mesmas ruas e cruzamos olhares. Experimentaram décadas e já criaram gerações.
A tomada de consciência negra reflete em nós não apenas esta outra criatura e sua história. Mas, também em nós mesmos, passamos a buscar por nossas identidades e relações raciais.
Inevitavelmente, procurar quem se é, faz emergir a ancestralidade no ser. De onde eu venho, por onde passei, quem esteve comigo; ressalta as marcas da minha pele e os traços do meu rosto. Mãe, tias, avós, bisavós, irmãs, amigas, deusas e yabás são nossas raízes femininas que sustentam o mundo até nossos dias.
WEBSÉRIE FALA PRETA
Desde 2020, o projeto de Websérie Fala Preta vem sendo elaborado, captando imagens e gravando entrevistas. Passou a pandemia, passou o apagão e, enfim, vem à exibição. Tínhamos que esperar, pois desde o princípio ele foi elaborado para a semana da consciência negra, nem antes nem depois. Gravamos com seis mulheres e ainda há muitas outras. É um trabalho experimental, que começou sem se saber o projeto que se tornaria e depois agregou outras pessoas com seus olhares sensíveis e conhecimentos técnicos.
O objetivo é enaltecer as amigas, negras, lindas, corajosas, amáveis, decididas, controversas, combativas, ousadas e sabidas. Criar o espaço para falar, encontrar ouvidos para escutar e descobrir sobre todos e todas nós. Eu me conheço e reconheço sempre que estamos juntas, nas convergências e nas diferenças.
Sou só gratidão a Alexsara, Elane, Teca, Laura, Simone, Lívia por abrirem suas casas e nos receberem; a Bia e Kris, que apostaram no começo dessa história; a Thales, que orientou estudantes para editar nossa websérie, além de fazer aquela abertura linda; a Lorena e Léo que aprenderam até a editar pra finalizar esse trabalho na AGCom.
Vida longa a Websérie Fala Preta. Salvem as pretas velhas! Salvem as pretas!
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