Referência nacional e destaque entre 69 Universidades, a UMAP faz a diferença com aulas e atividades voltadas à terceira idade.
Por Gabrielly dos Santos Mourão

Retornar aos estudos, explorar novas experiências, fazer amizades e trocar conhecimentos são alguns dos atrativos para quem ingressa na Universidade da Maturidade Permanente (UMAP), da Universidade Federal do Amapá (Unifap). A UMAP oferece um espaço de estudo e convivência para pessoas com 60 anos ou mais, oferecendo muito mais do que conhecimento acadêmico. Criado em 2009, o projeto de extensão promove saúde, aprendizado e integração para os idosos.
De acordo com dados do IBGE de 2020, aproximadamente 29,2 milhões de pessoas no Brasil tem 60 anos ou mais, representando cerca de 14,7% da população total. No Amapá, a população idosa (60 anos ou mais) está em torno de 170 mil pessoas, representando cerca de 10,5% da população do estado.
A UMAP foi pensada com o intuito de buscar a participação dos idosos na vida acadêmica, O projeto vem como um meio de resgatar essa parte da população que após os 60 anos é esquecida pela sociedade. O espaço oferece laboratórios de informática, auditórios e ambientes projetados para atender às necessidades de aprendizado e socialização dos idosos.

Gerson Gurjão, coordenador do projeto, destaca que o projeto surgiu após a criação do Estatuto do Idoso e viram nisso a necessidade de trazer o idoso para dentro da universidade para que ele pudesse dar continuidade ao seu conhecimento do dia a dia e compartilhar sua experiência de vida com o conhecimento técnico dos professores. O coordenador lembra o impacto do primeiro Edital da UMAP, “a gente esperava formar duas turmas de 40 alunos, mas, para nossa surpresa, tivemos mais de 600 inscrições. Hoje, mantemos duas turmas de 50 alunos cada e em todo edital nossas turmas são sempre lotadas”, relatou.

No total, o curso dura dez meses, com mais de 12 disciplinas, que contém desde o direito do idoso até saúde preventiva e informática. “Essas disciplinas são básicas para a vida toda”, afirma Gurjão. "Informática, por exemplo, ajuda o idoso a lidar com as tecnologias e o mundo digital, enquanto saúde preventiva e direitos são fundamentais para o envelhecimento com qualidade na vida deles”, conclui.
O Prof. Dr. Romualdo Rodrigues Palhano, é um dos professores que são voluntários do projeto e leciona na UMAP desde a sua criação em 2009, ele ressalta a importância do projeto para essa parcela da sociedade. “O idoso, muitas vezes, sente-se isolado após a aposentadoria. Sempre ouço deles que ficar em casa não é bom. Esse curso oferece uma oportunidade de sair desse ciclo e viver algo transformador”, afirma.
Palhano destaca o impacto transformador do projeto na vida dos idosos “desde disciplinas práticas, como teatro e artes visuais, até saúde e informática. Eles participam com tanto entusiasmo que criamos uma turma só para os alunos que concluem o curso e voltam. Para eles, o curso é a melhor coisa do mundo. Estou adapto meus conhecimentos para oferecer o melhor para eles, e vejo isso refletindo na alegria e na motivação deles”, explica.

Transformação e aprendizado constante
A UMAP também se destaca pelo perfil dos seus alunos. Muitos possuem carreiras extensas em áreas da saúde, exatas e na educação. A troca de conhecimentos entre esses profissionais experientes e os professores gera um ambiente único. “Nossos professores são mestres e doutores, justamente porque nossos alunos trazem consigo uma bagagem de vida muito ampla. Isso transforma as aulas em espaços de verdadeira troca de saberes, pois se colocamos qualquer professor os alunos podem acabar engolindo-o com os seus conhecimentos”, explica Gurjão.
O projeto fez tanto sucesso na vida dos seus alunos que mesmo depois dos 10 meses de aula e de se formarem, muitos idosos não queriam sair do projeto, e com isso Gurjão viu que era necessário criar uma turma para os “Regressos”. Por isso, temos alunos que já estão há anos na UMAP, como é o caso da Dona Sueli Vidal, de 69 anos, que está completando quase uma década sendo aluna da instituição.
Autônoma desde cedo, dona Sueli sempre arregaçou as mangas para trabalhar, nunca deixando de vender os seus produtos de beleza. Motivada pela sua filha, ela encontrou na universidade um novo rumo para a sua vida. “Minha filha viu na televisão que estava tendo inscrição para a UMAP e ela me disse que eu tinha que participar. E, eu fui e me inscrevi. Já fiquei no mesmo dia para estudar e foi quando me apaixonei pelas aulas de teatro e as de Direito, onde aprendi coisas que nem meu filho, que estudou Direito, sabia”, conta Sueli que não esconde de ninguém a saudade que tem das suas aulas de teatro.

A UMAP não só agregou conhecimento para ela, mas também a ajudou a fazer amigos e se sentir parte de algo maior. “Aqui, eu encontrei amizades que eu nem pensei que ainda conseguia fazer. O projeto já faz parte da minha vida como vocês nem imaginam, tanto que eu me formei aqui na UMAP, mas continuo vindo para aulas”, declara carinhosamente seu afeto pelo projeto.
Para Dona Sueli, e outros idosos como ela, a UMAP é um refúgio contra o isolamento social, permitindo que seus alunos mantenham uma rotina ativa e se sintam valorizados.
Até mesmo após a pandemia, a UMAP não saiu de cena e conseguiu se adaptar ao modelo híbrido, com aulas presenciais e online, respeitando as limitações de muitos alunos que vêm de condições socioeconômicas vulneráveis.
Referência nacional
Hoje, a UMAP se destaca entre as 69 universidades brasileiras que possuem programas voltados para a terceira idade. Além de inspirar outros projetos, ela representa um marco de inclusão e respeito à pessoa idosa. Nas palavras de Gurjão, "A UMAP não é apenas uma universidade, mas uma nova forma de vida para muitos. Aqui, o idoso não é só mais uma pessoa em casa; ele é valorizado e encontra um espaço de integração e conhecimento".
A Universidade da Maturidade Permanente do Amapá não apenas transforma vidas; ela promove uma revolução silenciosa no papel do idoso na sociedade e na vida deles, mostrando que a terceira idade é, sim, um tempo de novas conquistas e que a educação é um direito que não tem idade.

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