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Um despertar para natureza e o encanto do misticismo

Foto do escritor: AGComAGCom

A prática da bruxaria e seus mistérios.


Por Giovane Brito

Altar de rituais de bruxaria | Foto: Giovane Brito

O desconhecido sempre gerou estranhamento durante a história da humanidade. Pessoas consideradas fora dos padrões impostos pela sociedade foram e são vítimas de formas de preconceitos explícitos e velados ao longo dos anos. A forma de contornar o preconceito enraizado nas pessoas e promover o respeito ao diferente é através do conhecimento e informação.


Durante os séculos, inúmeras formas de repressões a pessoas tidas como anormais ocorreram. Entre os anos de 1692 a 1963, foi o período da famosa caça às bruxas de Salém. Mais de 200 pessoas foram acusadas de praticar bruxaria em nome do demônio. Pessoas inocentes morreram devido ao surto de histeria e medo do desconhecido pela população daquela época.


Uma história que ultrapassou os limites do tempo e gerou um prato cheio para produções hollywoodianas, enraizou no imaginário popular as bruxas: mulheres feias com suas vassouras e seus grandes caldeirões de bruxaria – prontas para fazer o mal a todos que passarem à sua frente.


Mas será que as bruxas existem na realidade? E se existem, elas são exatamente o que são representadas nas grandes produções cinematográficas? No município de Santana, no estado do Amapá, vive uma jovem de 22 anos, formada em técnico em radiologia e atualmente trabalha como garçonete em um estabelecimento local. A mulher chamada Kelly Cristina da Silva, identifica-se como praticante da bruxaria.

Kelly Cristina é praticante de bruxaria | Foto: Arquivo pessoal de Kelly

Era uma tarde com um calor além do convencional. O clima estava próximo dos 35ºC e pouco se via pessoas pelas ruas de Santana. Poucos eram os corajosos que enfrentaram o sol das 15 horas. Kelly estava em sua casa, disposta a compartilhar seus conhecimentos sobre a prática de bruxaria.


Sua casa estava um pouco escura com a iluminação apenas dos raios de sol entrando pela janela. Passava uma sensação de fim de tarde e calmaria. Ao fundo, podia-se ouvir os latidos de seus cachorros brincando no quintal. A jovem com o cabelo amarrado em um coque devido ao calor, acomodou-se em seu quarto e estava preparada para explicar sobre sua ligação com a natureza.


"Eu sou uma pessoa muito ligada à natureza, sou muito materna, protetora, fiel, carinhosa, muito carente e chorona. Acredito que isso é uma boa descrição das minhas características", conta a jovem. Ela faz uma comparação com seu animal favorito e a identificação de suas características: "As baleias são muito inteligentes e também são animais muito maternos, são animais unidos e que se cuidam. Se eu fosse um animal, provavelmente seria esse", complementa.


Quando questionada sobre como a natureza está inclusa em sua vida, a jovem logo cita a crença em signos e afirma firmemente que o signo está ligado a tudo em sua vida. "O signo fala muito que eu sou ligada à natureza. Eu sou ligada também à lua pelo meu signo, eu sou da água, e já envolve aí a bruxaria que eu pratico. Ela envolve muito a natureza. Então, eu tenho que estar sempre ligada à natureza e ao meu espiritual para poder fazer a prática", conta a jovem empolgada.


A jovem bruxa conta que sua crença está conectada à Deusa mãe, representada pela lua, e ao Deus pai, representado pelo sol. Duas divindades cultuadas pelas pessoas que acreditam e praticam a bruxaria. Quando questionada sobre como seria a bruxaria na prática, Kelly solta um sorriso e diz que todo mundo alguma vez na vida já praticou bruxaria. "As pessoas praticam a bruxaria sem saber. Por exemplo, você acende um incenso em casa para afastar energias ruins ou acende uma vela para rezar por proteção para cuidar de alguém, com boas intenções, até mesmo quando chega o primeiro dia de todo mês e a pessoa assopra canela na porta da casa para dar prosperidade. Todas essas formas de crenças são bruxaria", afirma.


A bruxaria não é um ritual em que um grupo de pessoas se reúne em círculo e realiza rituais. Vai além disso. Acender uma vela, incenso, usar amuletos pela casa como forma de proteção são algumas das formas de praticar a bruxaria.

Anotações sobre plantas no grimório | Foto: Giovane Brito

A jovem bruxa conta que sempre foi muito ligada à natureza desde sua infância, mas foi aos 19 anos que recebeu seu chamado para o mundo da bruxaria, ou como os praticantes gostam de chamar, o despertar para a prática. Segundo ela, esse despertar pode acontecer por sinais da própria natureza ou a própria Deusa mãe é responsável por provocar esse chamado.


Relembrando de seu passado e de seu primeiro contato com a prática de bruxaria aos 19 anos, ela relata a importância da crença em sua vida. "Quando comecei a estudar sobre, foi o ano em que eu estava muito conectada com os conhecimentos. Foi o período em que eu estava mais conectada comigo mesma, e isso me faz um bem enorme", relata.

O grimório e anotações importantes para realizar rituais | Foto: Giovane Brito


Para facilitar seu estudo sobre a crença da bruxaria, ela utilizou um livro em branco chamado de 'grimório' para fazer suas anotações sobre suas descobertas místicas.


“O grimório é um livro que a pessoa pode personalizar e escrever as anotações de tudo que a gente faz sobre a prática da bruxaria. Então, eu tive esse grimório e foi muito importante para auxiliar nos meus estudos. Anotava sobre a influência das cores, cores de vela e as fases da lua que se deve levar em conta na hora de realizar um ritual. Elas influenciam muito no nosso dia a dia”, explica Kelly, folheando seu antigo grimório.


Mesmo com suas práticas inofensivas, a ignorância enraizada nas pessoas ainda banaliza essa crença pagã. A bruxa Kelly fala firmemente sobre esse assunto e desabafa: “Eu acho que as pessoas que praticam a bruxaria têm uma consciência muito maior em relação ao preconceito, porque elas sabem que as pessoas não fazem aquilo de maldade. Sabe, elas fazem aquilo porque é o que elas conhecem, é o limite delas sobre o conhecimento”, afirma. Para ela, a melhor forma de desconstruir o preconceito é promover o entendimento sobre a prática, tirando o olhar cinematográfico da prática da bruxaria.


*Perfil produzido na disciplina de Jornalismo Literário, ministrada pela professora Laiza Mangas.


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