AGCOM: Saudações! Apresentamos a primeira edição da coluna “Fala, Tu!”, um espaço pensado para leitores da AGCOM expressarem suas opiniões, compartilharem obras e comentários. Podem ser cartas, crônicas, poesias, charges, fotografias, ilustrações, desenhos ou qualquer outro gênero textual. Esta semana, a coluna será dividida em duas partes: uma hoje, quarta-feira (12/05), e outra sexta-feira (13/05). Nesta primeira contamos com textos de Renan Corrêa, D4rk Poeta e Gabriel Guimarães:
ROSAMUNDO
Por: Renan Corrêa
Rosamundo abriu os olhos numa quarta-feira de cinzas — o céu de todo nublado, o ar friíssimo. Chorou três quartos de hora. Ao meio-dia, sentiu o peito inflar-se duma quentura de causar lágrimas: estava amamentado. Rosamundo correu veloz a quilometragem que separava a casa de seus pais e a de seus avós; sentiu frio, sentiu dores na sola dos pés, nos joelhos, faltou-lhe o ar, sobrou-lhe medo. Bateu à porta às dezessete horas. Fez o caminho de volta à garupa duma magrela, cortando ar no peito, cristalizando o sal da face. Rosamundo chegou em casa às dezoito horas. Era tarde. O pai, sumido. A mãe, já fria. Quanta frieza tocou a fina face de Rosamundo! Jurou injúrias ao mundo.
Era uma vastidão de desaparecer o íntimo que fosse, aquele descampado que dava para a estrada de terra. Pensou... Um outro dele, com outro nome, era possível? Se era! Tinha de ser. Rosamundo deitou o corpo na magrela. Sumiu, feito o pai.
Quebrou-se o silêncio daquela friíssima quarta-feira de cinzas. Rosamundo Neto cobriu a face frente ao pai, que o sorria vergonhoso. (Voz de mulher, jeito de mulher? Nem se fala nesta história, que, de tempo, faltou.) Já vinha Rosamundo Neto da casa dos avós. Era tarde. O pai, sumido. A mãe, já fria. Rosamundo Neto via, reconhecia, a sina cíclica de sua vida, feito marca transmitida no sangue. Vislumbrou aquela vastidão de desaparecer o íntimo, resignou-se. Sepultou a mãe — Carmélia Maria, chamou, firme. Inflou o peito numa tristeza cansada; em meio suspiro, atinou-se. Sentou-se manso à porta de casa; assim, naquela terça e depois, em tantas outras, esperou o pai, Rosamundo Filho.
TEU FANTASMA
Por: D4rk
Eu te sinto
Te recito
E revivo
Teu fantasma
Em minhas lembranças
Em meus poemas
eterno fantasma
Que mora em minha alma
dança com minha aura
Tu partiu mas essa sua parte permaneceu
E com isso a saudade cresceu
Como tudo isso aconteceu?
E agora estou aqui
Sem ti
Talvez até sem mim.
~e a cada 1 pessoa mais fantasmas chegam e ficam como pequenos pedaços delas~
MAL DE VOCÊ
Por: Gabriel Guimarães
— Oh, que covardia essa,
a dos teus olhos,
de existir em comunhão com a boca.
À semelhança de tuas poses,
de conjurar feras dos cabelos,
de seduzir a minha esfera
e mutar-se em meliante,
raptando-me o silêncio do meu desejo.
— Que covardia, repito, a dos teus olhos.
Quando lancinantes dilaceram meu sono
e transformam meus sonhos em malícias,
manias sãs; malícias & manias de você.
— E que gozo traz aos meus ouvidos?
O vislumbre sonoro da tua fala?
A imagem trêmula da tua boca?
Lembranças daquela noite.
Noite em que dissestes poemas,
poemas inaudíveis, inaudíveis
rente a tua voz.
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