Com uma equipe multiprofissional, a iniciativa contribui para a qualidade de vida das pessoas diagnosticadas com as doenças neurodegenerativas.
Por Maria Clara Araújo
Edição: Winicius Tavares
Desde 2018, uma iniciativa coordenada por professores e acadêmicos da Universidade Federal do Amapá (Unifap) vem melhorando a qualidade de vida das pessoas diagnosticadas com doenças neurodegenerativas. Com 15 áreas de atuação envolvidas, o Projeto de Extensão Reviver tornou-se referência no tratamento e acompanhamento de portadores de Parkinson e Alzheimer no estado.
A coordenadora do projeto e do Laboratório de Química Farmacêutica Medicinal (PharMedChem), Profª. Dra. Lorane Hage, explica que o Reviver possui um caráter multiprofissional e multidisciplinar no atendimento e acompanhamento dos pacientes, estendendo-se também para os cuidadores e familiares.
“O projeto atende toda terça e sexta. Nas terças-feiras, realizamos atendimento nas áreas de educação física, psicologia e neuropsicopedagogia para ambas as patologias. Nas sextas-feiras, trabalhamos com os cursos de fisioterapia, farmácia, enfermagem, medicina e com um setor rotativo que abrange as áreas de nutrição, terapia ocupacional, fonoaudiologia, odontologia, serviço social, música, dança e outros profissionais que realizam atendimento pontual e sob demanda”, conta a coordenadora do projeto.
Parkinson e Alzheimer
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Parkinson é a segunda doença neurodegenerativa mais frequente no mundo, atrás apenas do Alzheimer. Apesar do caráter neurodegenerativo, ambas patologias possuem características, sintomas e manifestações diferentes.
O Parkinson é um distúrbio neurológico degenerativo que afeta os movimentos do corpo, e os sintomas são classificados como motores e não motores. Já o Alzheimer é um transtorno neurodegenerativo progressivo que se manifesta pela deterioração cognitiva e da memória, com sintomas neuropsiquiátricos e com alterações comportamentais.
“O Parkinson tem como principal sintoma o comprometimento motor, então percebemos a questão da rigidez, tremores, contrações musculares, instabilidade postural e outras características. No caso do Alzheimer, falamos de um comprometimento bem mais cognitivo, então vem os sintomas de esquecimento, dificuldade de exercer funções do dia a dia, confusão mental, agitação e uma série de questões que variam dependendo do estado da pessoa”, explica Lorane Hage.
Saúde e bem-estar social
Márcia Correia é filha e cuidadora de Maria do Carmo Correia, diagnosticada com Parkinson há mais de 15 anos. Nos primeiros anos, ela conta que a mãe não aceitava o diagnóstico da doença e sentia vergonha dos tremores, da forma que andava e dos demais sintomas. Participando do projeto há dois anos, Márcia conta que as mudanças psicológicas e físicas em Maria já são notáveis.
“O Reviver veio para mostrar que a minha mãe pode ter qualidade de vida, pode viver bem mesmo com as adversidades e que o diagnóstico não vai impedir ela de ser feliz, de ter uma rotina ativa. Além disso, eu como cuidadora e filha me sinto muito mais feliz ao participar, conhecer pessoas com experiências parecidas e encontrar apoio tanto para minha mãe quanto para eu mesma”, relata Márcia Correia.
Ela também pontua que o trabalho desenvolvido pela Unifap, equipe e coordenadores é essencial para todos os participantes do projeto e serve de inspiração para os desafios enfrentados por aqueles diagnosticados com doenças neurodegenerativas.
“Eu espero que mais pessoas abracem essa causa, que surjam mais políticas públicas voltadas para pessoas diagnosticadas com Parkinson e Alzheimer no Amapá e no Brasil. Espero de coração que tenham mais famílias e cuidadores capacitados para cuidar dos outros, que mais profissionais vejam a beleza desse projeto e que todo esse trabalho seja fortalecido cada dia mais”, finaliza Márcia.
Portador de Parkinson e participante do Reviver, Roberto de Brito conta que andava arrastando os pés quando iniciou o tratamento. Atualmente, ele comemora os avanços que teve na redução dos tremores, com energia e disposição suficientes para realizar sonhos, como o de se casar novamente.
“Estou me tratando há dois anos e só melhorei desde que iniciei aqui. Minha mão não treme como antes e até faço academia. Esse é um projeto muito bom, tem algumas coisas que as instituições e governos erram e acertam, mas esse aqui foi um grande acerto. Depois que fui diagnosticado, também descobri que tenho diabetes e hipertensão, então tive que parar de trabalhar e isso me causou certa tristeza, mas aqui foi o lugar onde eu consegui me animar, me integrar e melhorar bastante”, conta Roberto.
A profissional de Educação Física Jaqueline Barbosa afirma que se sente muito realizada com o trabalho que realiza no projeto, no qual o acompanhamento dos pacientes se torna uma colaboração mútua para garantir o bem-estar e a qualidade de vida de ambos. Os exercícios são pensados para melhorar a execução de atividades cotidianas e promover um momento de interação e socialização entre os participantes.
Veja ao vídeo de um dos atendimentos realizados no projeto:
Jaqueline Barbosa não esconde sua felicidade em participar do projeto e acompanhar o desenvolvimento dos integrantes. "Sou realizada e fico muito feliz com cada conquista, cada melhora na mobilidade, na questão da força e também com todo o esforço que eles fazem para realizar as atividades, pois isso contribui para uma rotina mais saudável e, consequentemente, um dia a dia mais feliz”, relata Jaqueline.
RevParkinson
Em fase final de testes com participantes do projeto, o aplicativo móvel RevParkinson é uma plataforma digital que busca auxiliar na adesão ao tratamento farmacoterapêutico das pessoas que vivem com Parkinson. O objetivo do app é melhorar a qualidade de vida, promover a gestão do tratamento medicamentoso e acompanhar a evolução de sinais da doença.
O aplicativo surgiu como um produto idealizado pela doutoranda do programa de Pós-Graduação em Inovação Farmacêutica (PPGIF), Prof.ª Me. Viviane Cardoso, sob a orientação da Prof.ª Drª. Lorane Hage, do curso de Farmácia e coorientação do Prof. Dr. Rafael Pontes Lima, do curso de Ciência da Computação. Ouça o áudio para saber mais sobre o app:
Atendimentos
O Projeto Reviver realiza atendimento e acompanhamento toda terça e sexta-feira, no ambulatório da Universidade Federal do Amapá (Unifap), das 8h30 às 11h30, possuindo a capacidade máxima para 50 pacientes por ano. As inscrições são realizadas por meio de editais divulgados no site oficial da Unifap e nas redes sociais do projeto. Acompanhe as atividades e siga @projetoreviverunifap no Instagram.
*Reportagem produzida na disciplina de Webjornalismo ministrada pelo professor Alan Milhomem.
Comments