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Resiliência e singularidade: a inspiração por trás de Paula Nobre

Conheça a história da jovem que, mesmo com suas limitações, nunca deixou de acreditar e lutar por seus sonhos.

Por Crystofher Andrade e Talita Paiva.


Paula Nobre na escola. Foto: Clara Pantoja

Superação e resiliência são palavras comuns do dicionário de Paula Nobre, de 18 anos. Embora um pouco intimista, sua garra e força são destaques na sua maneira de levar os desafios da vida. A estudante do ensino médio nasceu com paralisia cerebral devido a complicações no parto e, desde muito cedo, enfrenta inúmeras dificuldades no dia a dia.


A deficiência afeta o lado direito do corpo da estudante, tornando os movimentos do braço e da perna bastante reduzidos. Com a fala calma e baixa, Paula Nobre explica que a condição foi descoberta ainda no parto.


“Os médicos, depois de muito estudo, diagnosticaram que aconteceu na hora do meu parto, porque era para eu nascer dois dias antes, e a minha mãe perdeu muito líquido, então teve que ser cesárea. O parto estava previsto para ser normal, mas não teve como. Em nenhum momento durante a gestação foi detectada, então foi concluído que foi no parto que eu tive a paralisia. A deficiência veio da paralisia, porque atingiu meus neurônios motores, afetou o meu lado direito,” explica.


A infância de Paula foi marcada por inúmeras visitas ao hospital, onde foi acompanhada por médicos e realizou tratamentos para garantir melhor qualidade de vida. Mas apesar de todas as barreiras, a jovem relembra que foi uma das melhores fases da sua vida.

"Foi uma infância bem feliz, brincava muito. Com meus sete anos, morei um tempo numa chácara, meus pais queriam que eu passasse mais tempo com a natureza e funcionou. Eu amei aquele período", conta.


Desde muito cedo, Paula passou a conviver com a deficiência e, consequentemente, com desafios impostos no dia a dia, como o preconceito. A estudante do ensino médio relembra de quando ouvia comentários maldosos, brincadeiras e atitudes que a afastavam das pessoas.


“Já sofri muito preconceito por ser quem sou. Desde que eu era pequena até os dias de hoje, mas agora me respeitam mais, comparado a antes. Quando eu era menor, existiam olhares, falas. Minha paralisia atingiu o motor, logo, eu não consigo falar tão bem. Os músculos da minha língua são adormecidos, e aí sempre tem aquelas perguntas maldosas, que me deixam mal quanto a isso”, relata a garota.


A paralisia cerebral é um desafio para Paula e para muitas pessoas que convivem com a deficiência física. Por ter dificuldades de andar, falar e realizar movimentos corporais, a jovem acaba dependendo quase inteiramente da mãe, Kercia Alves Nobre.


No cotidiano da estudante, a falta de acessibilidade nas ruas e em determinados espaços tornam-se um obstáculo. Para ela, a falta de estrutura para Pessoas com Deficiência (PCD) é um problema.


“Eu passo por muitos problemas. Tem lugares que só têm escada. Na rua, por exemplo, não tem local de prioridade, e bicicletas e carros passam muito perto de mim. É um direito meu ter acesso a um ambiente seguro e adequado para a minha segurança”, destaca a estudante.


Segundo dados do Censo Escolar 2022, do Ministério da Educação, 26,9% das escolas públicas não possuem qualquer tipo de item de acessibilidade, como rampas, corrimãos, elevadores ou pisos táteis. Além da escola, outros locais também não contam com recursos acessíveis para essa população, ou quando possuem, não estão em funcionamento.


“É muito difícil você chegar a um local e não ter nem sequer uma rampa, um elevador, um local para estacionar o carro. Meu corpo dói, minhas pernas doem, então a falta de acessibilidade dificulta a vida de uma PCD”, conclui.


Apesar das adversidades, foi nos filmes de comédia romântica e em pinturas de tela que Paula Nobre encontrou um “refúgio”. A dinâmica humanizada da arte e da cinematografia ocupou um espaço especial em seu coração e a ajudou a levar a vida de forma mais leve. Também se apaixonou por tecnologia e ciência, e essa paixão ela herdou do pai. Participar da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace) marcou sua vida: “Essa experiência foi muito divertida e interessante”, relembra.


Agora, prestes a concluir o ensino médio, Paula se prepara para realizar um de seus maiores sonhos: ingressar na faculdade. Com os olhos brilhando e um riso solto e espontâneo, ela conta como está vivendo essa temporada.  


“Meu maior sonho sempre foram meus estudos, principalmente entrar em uma faculdade. Estou no terceiro ano na escola e já estou estudando sobre isso. Ainda não caiu a ficha de que estou chegando nessa fase. Ter uma nova rotina de estudos e a vida adulta batendo na porta me deixa ansiosa, mas confiante”, declara a estudante.


Sair da adolescência e entrar na fase adulta da vida pode ser difícil para muitos jovens. Ao olhar para trás e ver tudo o que conseguiu, coisas simples – para muitos – é motivo de entusiasmo para Paula. Apesar de tudo que passou, ela conta que aprendeu a lidar com as dificuldades, sempre contando com a família e com os amigos, como rede de apoio.


“Existem muitas coisas que eu nunca imaginei que iria fazer por conta da paralisia, e talvez se não fossem pelos meus pais, minha família, meus amigos, eu não conseguiria e não sei se tentaria, por tantas barreiras. Por exemplo, eu sei andar de bicicleta sem rodinhas, eu sei amarrar o cadarço do meu tênis. É uma coisa tão simples para muitas pessoas, mas para mim é uma conquista,” comenta a jovem, com orgulho.


A estudante sempre faz questão de lembrar a resiliência e coragem de todos os dias na luta por mais acessibilidade e inclusão. Apesar das adversidades, ela destaca que todos têm força para vencer os desafios.


“Eu diria para a minha ‘eu’ do passado ter mais paciência e coragem. Eu sou uma jovem de 18 anos que vem lutando por essa causa. Você pode, você deve, você tem que fazer tudo o que você quiser. Não coloque a deficiência à frente da sua pessoa. Mesmo passando por muitas dificuldades, não desista. Você consegue”, concluí.


Perfil escrito para a disciplina de Laboratório de Produção Jornalística


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