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Foto do escritorLorena Lima

Relatório de Violência Povos Indígenas 2020 registra pequena redução nos casos de discriminação

Especialista aponta gravidade do preconceito na vida dos povos indígenas.

Mobilização em Brasília será mantida até domingo para pressionar legisladores e o governo (Foto: Carl de Souza/AFP)

Por Hevila Alves e Lorena Lima


Em outubro deste ano o Conselho Indigenista Missionário (CiMi) publicou o Relatório de Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil com dados de 2020, ele registra 15 casos de violência contra os povos indígenas, representando uma pequena redução. Em 2019 foram registrados 16 casos, e apesar disso, a problemática do racismo colonialista ainda é muito presente no cotidiano.

O documento cita casos como o veto de 22 artigos do Projeto de Lei 1142/2020, sobre prevenção do contágio e da disseminação do vírus nos territórios indígenas, pelo presidente da República Jair Bolsonaro

Michelli Alves Machado, pedagoga indígena explica que “o problema não é a pandemia, a questão é que somos indígenas. Se essas pessoas pudessem exterminar ou apagar a população indígena, elas fariam isso sem pensar duas vezes. Estão usando o vírus apenas para aflorar o ódio e preconceito que estão dentro delas”. No trecho ela comenta os discursos de ódio nas redes sociais contra a reserva indígena de Dourados, em Mato Grosso do Sul.

Não importa se o racismo é velado ou escancarado, a construção social fez desse povo não só excluído, mas também, um povo esquecido e totalmente desvalorizado, sem o direito de viver suas próprias crenças e culturas com liberdade, privados historicamente de instrumentos básicos de ascensão social, o racismo é tão perverso que por vezes e feito o uso indevido de artefatos e itens da cultura indígena como se fossem fantasias, o que denota o pouco respeito que temos pelos povos nativos. Além disso, até o simples espaço para debater questões raciais que indígenas enfrentam lhes é negado.

(Foto: Uol)

Desde o princípio da invasão dos europeus às Américas, não se perguntava aos povos indígenas quem eles eram, como eles pensavam, o que definia a cultura deles. O branco europeu já tinha seus próprios entendimentos, e exclusivamente a partir da sua visão de mundo começou a explorar o novo mundo e as pessoas que ali habitavam. Naquele momento eles foram definidos como povos sem lei, sem estado e sem Deus, eram pensados a partir da ausência de coisas que existem na sociedade dos brancos, eles não eram pensados a partir do que compõe eles mesmos. Isso perdurou pelos séculos que se passaram, e os indígenas são vistos até hoje como uma cultura que está oposta à civilização, como afirma o antropólogo e assessor indigenista do Instituto de Pesquisa e Formação Indígena (IEPÉ) Renan Reis de Souza.

Essa discriminação existe porque é muito recente a ideia de que os povos indígenas nas suas particularidades, na sua diversidade cultural e linguística são elementos de enorme valor para a sociedade. Da mesma forma que é muito recente esse entendimento de que os povos indígenas com a sua cultura e o seu modo de vida são os grandes protetores do meio ambiente. “Como a gente vive em uma sociedade capitalista, isso não é interessante porque a floresta em pé não rende. Os povos indígenas não têm uma tradição de fazer muito dinheiro, como sistema está baseado no lucro, e o estado se baseia no lucro, as empresas têm as florestas como fonte de lucro se torna interessante para esse pensamento hegemônico que esses povos indígenas não sejam livres, não tenham suas terras e não tenham suas diversidades culturais, e suas particularidades”, explica.

Através do Marco Temporal algumas pessoas querem reconhecer como ocupação tradicional somente aqueles lugares que os indígenas ocupavam na época da promulgação da Constituição Federal. Para o antropólogo, isso significa legitimar todo o processo de invasão e retirada dos indígenas de seus territórios. “Eles estão há 500 anos para existir pelo direito a suas terras e pelo direito à cultura, e existem os grupos que se opõem a eles que são muito poderosos de dinheiro. Imagina uma região enorme da floresta amazônica onde moram 4 mil indígenas lutando contra bilhões de investimento de elétrica”.

(Foto: Jornal Tornado)
Sônia Guajajara em Acampamento Terra Livre 2019. (Foto: APIB)

É obrigação do estado defender os povos indígenas contra o racismo, e contra todo tipo de violência, a sociedade deve proteção aos indígenas porque aqui é terra deles. A gente tomou, eles têm direito a essa terra. “Os povos indígenas são grandes defensores do meio ambiente. Se a gente não tiver eles fortalecidos todo mundo vai ter que pagar o preço”, destaca o antropólogo Renan Souza.

A luta contra o racismo tem um protagonismo muito forte no movimento negro. O diálogo entre o movimento negro e o indígena existe, mas ele precisa ser fortalecido. Muitas pessoas não entendem que o que os indígenas passam é racismo, isso precisa ser esclarecido e noticiado. Infelizmente o estado não tem atuado contra o racismo nem contra os povos indígenas e tão pouco contra a população negra. O estado é conivente com essa violação de direitos.


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