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Reabilitação de mulheres dependentes químicas enfrenta desafios em Macapá

Foto do escritor: AGComAGCom

O atendimento público não tem projetos ou ações específicas e, no atendimento particular, apenas uma clínica é especializa ao gênero.





Por: Maian Maciel


A dependência química é um assunto bastante delicado. O vício pode acometer todos os nichos da sociedade, independente se é negro ou branco, rico ou pobre, homem ou mulher. Ainda é um assunto tabu, sobre o qual não se fala muito quando o dependente químico está na família. Dúvidas surgem sobre como agir, coibir ou cuidar. Além disso, há falta de espaços para acolhimento dessas vítimas, o que acaba sendo um dos grandes problemas para quem resolve buscar ajuda em comunidades de reabilitação. E, principalmente para as mulheres, não há espaços com trabalho especializado voltado ao gênero.


Continuamente, devemos ressaltar a conscientização dos direitos das mulheres e a sensibilização das pessoas sobre a falta de medidas protetivas a elas, que são vítimas de violências, diariamente, assim como de outros tipos de vulnerabilidades sociais.


O tratamento no serviço público é feito através do CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), que é o núcleo de apoio do Governo do Estado, para onde são encaminhados os tratamentos de pessoas que sofrem de problemas com o álcool e as drogas, seja por meio das Unidades Básicas de Saúde ou pelo Centro POP, um centro de referência especializado para população em situação de rua.


O número de homens atendidos no CAPS é muito mais elevado que o de mulheres. Entretanto, em 2016, durante discurso no Dia Internacional contra o Abuso e o Tráfico Ilícito de Drogas, Yury Fedotov, diretor executivo do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC) declarou que, mundialmente, um em cada três usuários de drogas é mulher, mas um em cada cinco usuários de drogas em tratamento é mulher. Estudos da Fiocruz já indicaram que mais da metade das usuárias financiam o vício com a prostituição, o que também implicará no aumento à violência de gênero e doenças sexuais. “Elas relatam mais problemas intrapsíquicos, como depressão, sentimentos de isolamento social, pressões familiares e problemas de saúde. Homens justificam-se pelos efeitos da intoxicação propriamente dita, além de dificuldades profissionais e financeiras”. (http://www.usp.br/aunantigo/exibir?id=7873&ed=1392&f=7)


O recorte de gênero faz-se necessário. No Centro POP de Macapá, a profissional socióloga Karolyna Duarte realiza um trabalho voltado ao cuidado de mulheres que buscam largar os vícios. “Toda política pública deve ser feita pensando a transversalidade. Ou seja, como um indivíduo é afetado por diversos fatores e as políticas devem ser permeadas por isso. Então quando pensamos no cuidado da pessoa que faz uso abusivo de substâncias psicoativas devemos levar em consideração outros fatores: se essa pessoa é mulher, se tem transtornos mentais, se está em situação de rua. De forma que sim, é muito importante que a Rede de Atendimento pense na realidade específica da mulher usuária de drogas” diz Karolyna Duarte, do Centro POP.


A profissional acrescenta dizendo que a iniciativa de acolhimento e tratamento a essas mulheres dependentes químicas foi muito importante para que elas se sentissem ouvidas e valorizadas. O momento de cuidado com a estética das pacientes, assim como em outras ocasiões, proporcionava a essas cuidadoras o diálogo sobre violência doméstica e o uso de drogas. No nosso estado, não existe uma rede de comunidades acolhedoras credenciadas. Assim, o tratamento ou é o Centro POP ou o CPAS Álcool e Drogas. Em Alagoas, a Rede Acolhe do Governo registrou um aumento de 51% por parte das mulheres, em 2019. Dados do mesmo ano indicam o álcool como a droga mais utilizada e que mais gera dependência química. (http://www.seprev.al.gov.br/sala-de-imprensa/noticias/2019/dezembro/numero-de-mulheres-com-dependencia-quimica-em-busca-de-tratamento-cresce-51-em-2019)


Existe na cidade uma comunidade terapêutica (CT), entidade voltada para auxiliar pessoas dependentes químicas, que se lança desde o mês de agosto lilás ao acolhimento de mulheres vítimas de dependência das drogas. É um espaço de reabilitação com o recorte de gênero, uma estrutura específica e especializada para que possam ser feitos os tratamentos e acompanhamentos a esse público feminino, já que as consequências do vício podem atingir de maneira mais severa o organismo e a saúde mental das mulheres, podendo causar transtornos que precisem de acompanhamentos típicos a elas.


“Hoje, no Estado não há lugar de internação e de tratamento a dependentes químicos do sexo feminino. A comunidade Terapêutica Nascente vem com essa proposta, ter uma residência terapêutica e respeitando todas as crenças religiosas e o direito da pessoa”, diz Luiz Henrique Oliveira, psicanalista e neuropsicólogo clínico. Devido à demanda alta de atendimentos a mulheres dependentes químicas e a falta de espaços para realizar os procedimentos necessários, a comunidade terapêutica começou a internação com pacientes homens, como em todos os CT’s. Porém, observando casos específicos, a comunidade Nascente começou a dar mais ênfase ao atendimento feminino e pretende tornar-se exclusiva para o gênero. A comunidade se propõe em um plano terapêutico individual, com base nos 12 passos do AA (Alcoólicos Anônimos) e NA (Narcóticos Anônimos).


A dependência química está classificada pela Organização Mundial de Saúde, desde 2001, entre transtornos psiquiátricos, considerada doença crônica que pode ser tratada e controlada simultaneamente como problema social. O uso abusivo de álcool tem gerado violências físicas, sexuais e emocionais que envolvem grupos sociais, especialmente a família. As violências extrapolam o ser individualmente e acometem toda a sociedade, incluindo vítimas crianças quando se tornam testemunhas de atos violentos domésticos ou sofrem enquanto vítimas diretas. Trata-se de uma urgência de saúde mental pública o cuidado com o uso de álcool e drogas, acolhendo e fazendo o recorte de gênero necessário para não se agravar mais os casos que já existem.


SERVIÇOS

v Centro POP: R. Cândido Mendes, 430- Central

(96) 3225-6643

v Caps AD: Av. Profa. Cora de carvalho,1731- Central

(96) 3223-6533

v Comunidade Terapêutica: Rua Anajás, 303, Bairro Açai

(98) 98418-7070 ou 0800202071

 
 

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