Idealizado por uma psicoterapeuta amapaense, a ação já possui cerca de 170 inscritos no Brasil e aguarda mais profissionais voluntários.
O Projeto Transcender à Vida LGBTQIA+ surgiu com o intuito de promover atendimento à população LGBT+ em situação de vulnerabilidade social ou com baixa renda, tendo em vista que muitas vezes o Sistema Único de Saúde (SUS) falha com essa população. É um projeto de alcance nacional, abrange pacientes de diversos estados e, atualmente, conta com um time de quatro psicoterapeutas voluntários, sendo três destes amapaenses.
O psicólogo Felipe Freitas Telles, coordenador do projeto, relata que muitos profissionais ainda têm o olhar cis hetero normativo, ou seja, o padrão de identidade de gênero e orientação sexual. Entretanto, são necessárias adequações quando tratamos a população LGBT+. “Na psicologia não basta trabalharmos com a ‘escuta ativa’, tem que ter empatia”, ele reflete.
"Ouvir aquele outro é complicado e ao mesmo tempo simples. Complicado no sentido de alcançar e simples no sentido de que qualquer pessoa pode ocupar seu lugar.” - Felipe Freitas
Felipe também é engajado com outros projetos sociais, por isso, relata sobre a necessidade de profissionais da saúde estarem sempre estudando acerca de condições sociais e culturais que se atualizam na formação da sociedade e de seus pacientes.
Isadora Canto é psicóloga integrante do projeto e como primeira idealizadora também coordena a ação. Ela conta sua trajetória, iniciada por volta de 8 anos após sua formação na área. Como psicóloga e a autodescoberta como mulher lésbica, percebeu a necessidade de dar uma atenção especial ao público LGBT+. Seu interesse a levou a estudar mais sobre o assunto, “não basta ser LGBT+, você precisa entender dessa pluralidade da população LGBT e estudá-la”, relata. Para ela, ser do grupo LGBTQIA+ não significa ter propriedade no assunto. A qualificação está na trajetória profissional e estudos.
Isadora começou atendendo voluntariamente pessoas trans em Macapá, com pesquisa e trabalho voltado à educação e saúde LGBT+. Ela conta da importância das políticas públicas existentes para essa população, que não são colocadas em prática, como é o caso da Política Nacional de Saúde Integral de LGBT’s, implantada no Brasil em 2011. Porém, não existe coordenação dessa política no Amapá, logo, não há dados de seu funcionamento.
“Da última vez que eu encaminhei um paciente para um endocrinologista no HCAL, o endócrino falou que não sabia atender ‘esse tipo de gente’, que iria encaminhar para Belém, porque lá tem ambulatório trans. Essa situação é bem delicada.” ela expõe. “Eu comecei atendendo pessoas trans exatamente por isso, em uma tentativa de diminuir os impactos e mostrar que: você não está errado, você existe e você merece respeito.”
Desse modo, Isadora idealizou o projeto, mas conta que sozinha era difícil de fazer acontecer. Até encontrar Felipe e juntos conseguiram colocar a ideia em prática, desde fevereiro deste ano. Eles relatam a intenção de alcançar pessoas de outros estados, mas achavam que demoraria um pouco. Ao abrir as inscrições, havia somente 5 pacientes. Entretanto, quando a psicóloga Cecília Dassi, conhecida nacionalmente, divulgou a ação em seu Instagram, o projeto ganhou ampla visibilidade no Brasil. Atualmente, existem em torno de 170 pacientes cadastrados no projeto.
O ATENDIMENTO
Existe um formulário online para pacientes e um para profissionais. Psicólogos e psicólogas podem se voluntariar. Após inscrição, passam por uma análise para saber se possuem capacitação em atender o público LGBT+. Isadora menciona que já ocorreram algumas desistências de pacientes devido à demora dos atendimentos, pois existe necessidade de mais profissionais voluntários.
Já os pacientes, ao preencher o formulário devem informar qual sua orientação sexual, sua renda, disponibilidade de horário, entre outros dados. Após o cadastro realizado, vai para lista de espera, fazendo uma análise socioeconômica. Prioritariamente, atende-se o público transgênero e transsexual.
O serviço possui duas modalidades: sem valor ou com valor social - um valor simbólico, inferior ao padrão das clínicas particulares. Pacientes recebem encaminhamento para psicoterapeutas de acordo com a disponibilidade de horário, podendo ser semanal ou quinzenal, não há limite de sessões e podem variar de 30 a 50 minutos. Todos os atendimentos são realizados de forma remota, através de chamadas de vídeo, áudio ou mensagens.
“A caminhada é longa e a gente continua falando das mesmas coisas, porque o que queremos é a mudança. Saúde é direito de todos, todas e todes.” - Isadora Canto
Para entrar em contato acesse a página do Facebook Transcender LGBTQIA+ ou no Instagram Transcender LGBTQIA+
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