O projeto é composto por cerca de 24 psicólogos voluntários e coordenado pelo professor Washington Brandão.
Por Francisco Pinheiro
Em junho de 2022, um levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostrou que quase 1 bilhão de pessoas viviam com transtorno mental, com destaque para depressão e ansiedade. Diante desse cenário, o professor da Universidade Federal do Amapá (Unifap), Washington Luiz Oliveira Brandão, criou o projeto de extensão Ambulância de Atenção à Crise Suicida (AMBACS) para auxiliar a saúde mental no estado, além de uma forma de agir de maneira rápida e gratuita, cuidando dos acadêmicos da instituição.
“O AMBACS, atualmente, é um projeto composto por cerca de 24 psicólogos, todos voluntários, somente o psicólogo Washington Brandão, que é o idealizador e atual coordenador do projeto, ele é efetivo da Unifap. Os outros psicólogos que compõem o AMBACS são todos voluntários, atuando de uma maneira individual quanto em atendimento de grupo”, relata Josicleia da Silva, uma das psicólogas responsável pelo projeto.
A ideia do projeto é ser um grupo de apoio a prevenção e pós-venção ao suicídio, além de atender a pessoas sobreviventes do suicídio e apoiar quem passa por luto e sofrimento psíquico. Os atendimentos ocorrem de forma presencial três dias da semana (terça-feira, quarta-feira e quinta-feira) em diferentes bairros da capital, como Jesus de Nazaré, Zerão, Marabaixo e Jardim Felicidade. Para participar basta ir no local onde ocorre os atendimentos ou entrar em contato pelas redes sociais do AMBACS ( @ambacs_ ).
“Então, dentro da prevenção a gente trabalha os atendimentos individuais e atendimentos de grupo voltado para pessoas que apresentam comportamentos suicidas, já tentaram suicídio, tem a ideia do suicídio. E também nós costumamos trabalhar a pós-venção do suicídio, a pós-venção a gente trabalha o familiar dessas pessoas que estão em acompanhamento, que estão sendo assistidas e também pessoas que já perderam alguém para o suicídio”, disse a psicóloga Josicleia da Silva.
As principais demandas que chegam ao grupo são de pessoas que pensam no suicídio. Associado a isso vem problemas como a ansiedade e depressão, que se não tiver um tratamento adequado pode evoluir para o suicídio. Também há pacientes com os sofrimentos de uma forma geral, como conflitos familiares, dificuldades financeiras e o desemprego.
Uma das pacientes atendidas pelo AMBACS é a estudante de Pedagogia Fernanda da Silva. Ela é atendida na Unifap há dois anos e conta um pouco mais da sua experiência e como o projeto vem ajudando no seu tratamento. “Os atendimentos têm me ajudado de uma maneira imprescindível, já que eu tenho dois transtornos. Um é conhecido por TDM (Transtorno Depressivo Maior), o outro é ataque de pânico, que tenho desde de 2015. Eu venho fazendo as terapias semanalmente agora depois de entender a importância dentro do meu processo de tratamento”, conta.
A estudante também ressalta que o projeto tem ajudado no seu processo de autoconhecimento e entendimento sobre saúde mental. “Através dele estou podendo me conhecer um pouco mais, fazer os atendimentos, poder melhorar dentro do meu próprio processo de saúde mental emocional. Eu venho sendo atendida pelo projeto desde de 2020. Na pandemia eu dei uma parada, tive alguns atendimentos e depois parei um pouquinho porque até então ainda não tinha entendido a importância de fato, do tanto que era importante para mim quanto eu era importante dentro do projeto e quando as aulas voltaram a ser presenciais, eu voltei a ser atendida”, disse Fernanda.
O projeto é uma ação totalmente voluntária e sem fins lucrativos, os locais onde ocorrem os plantões é fruto das parcerias que são cedidas ao projeto. A principal parceria é com o Ministério Público Estadual, possibilitando o atendimento psicológico itinerante em escolas, além de ser aberto ao público. Também é realizada a formação de profissionais, como professores e agentes comunitários de saúde. São repassadas instruções de prevenção ao suicídio, de atitudes a serem tomadas em uma crise e saber como agir.
“Nós temos uma parceria de alguns anos com o Ministério Público, através do Projeto Atuação Pela Vida. A gente tem realizado os plantões psicológicos itinerantes em escolas e aberto ao público. Também fazemos formações, já fizemos com Agente Comunitário de Saúde (ACS), para Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) e esse ano estamos focando na formação de professores. Quando eu falo em formação, estou falando de formar no básico, na prevenção ao suicídio, o que fazer, como agir diante de uma demanda de ideação suicida”, destaca a psicóloga Josicleia da Silva.
O fato de funcionar de maneira voluntária e sem fins lucrativos, o projeto passa por algumas dificuldades, que também são barreiras enfrentadas pela saúde mental no Amapá, como a falta de remédios nos hospitais públicos e escassez de profissionais especializados.
“Hoje, estando de dentro desse projeto da AMBACS, atendendo trabalhando especificamente com essa demanda de comportamento e ideação suicida. A gente percebe que o nosso trabalho tem um limite, no sentido que nós precisamos ir além do atendimento e do suporte psicológico, nós também precisamos de outras áreas da saúde, a gente precisa, por exemplo, do atendimento psiquiátrico para essas pessoas, mas hoje nosso estado enfrenta uma grande dificuldade. A demanda é muita e temos hoje poucos profissionais para atender tantas pessoas que estão precisando fazer um acompanhamento com medicação”, ressalta a psicóloga voluntária no projeto, Sabrina Dias.
Reconhecimento
Diante da importância e das ações desenvolvidas, não demorou muito para que o projeto fosse reconhecido. Em 2022, a iniciativa recebeu o prêmio Nise da Silveira, que é um importante prêmio nacional que reconhece o trabalho de pessoas e instituições que promovem políticas de respeito integral às pessoas em sofrimento psíquico e situação de vulnerabilidade.
O prêmio, criado em 2019, homenageia a médica psiquiatra Nise da Silveira, que é reconhecida por humanizar o tratamento psiquiátrico no Brasil. Desde sua formação, ela condenava tratamentos como o confinamento em hospitais psiquiátricos e o eletrochoque.
Ajuda
Para você que está passando por dificuldades e não tem com quem conversar sobre isso, existe Centro de Valorização da Vida (CVV) realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar. O atendimento é realizado sob total sigilo e pode ser feito por telefone, e-mail e chat a qualquer hora e durante todos os dias. Para conversar é só discar o 188.
*Reportagem produzida na disciplina de Redação e Reportagem III ministrada pelo professor Alan Milhomem.
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