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Moradores em ação por Área Verde em Macapá para Preservação das Castanheiras

Foto do escritor: AGComAGCom

Atualizado: 14 de set. de 2020

Associação de ramais da JK trabalha coletivamente pela preservação das árvores na área e pela criação da Praça da Castanheira


Por Lylian Rodrigues



Praça da Castanheira Foto: Associação de Moradores

A rodovia Juscelino Kubistchek, na zona sul de Macapá, tem uma extensa área verde para ser apreciada ao longo do trajeto Macapá-Santana. Várias zonas já estão ocupadas por condomínios, residências e comércios, sendo derrubados fragmentos de florestas no percurso. Antes de chegar à rotatória da Fazendinha, existem vários ramais com entrada e saída na rodovia. No perímetro próximo ao residencial Manari, estão os ramais do CD Rural, Mururema e Sombra da Mata. Os habitantes locais se reuniram e formalizaram uma associação de moradores para preservação da área e cuidados com a população local. “A associação se organizou principalmente em decorrência do destino que poderia ser dado a essa área. Essa é uma área pública, em litígio, reivindicada por diferentes entidades do estado e da Prefeitura. Há casas que circundam essa área e a comunidade tem utilizado como espaço de lazer, plantando árvores, mandioca, algodão, bananeira, mamoeiro. Essa área sofre fogo quase todos os anos na época da seca. Além de ser uma área querida pela população é também uma área que sofre”, explica Cláudia Silva, vice-presidente da Associação dos Moradores dos Ramais Mururema, Sombra da Mata e Cd Rural. Abaixo, algumas imagens de como a área é ocupada pelos moradores, fazendo o cultivo de frutíferas e jardins.


No dia da Amazônia, sábado (5/9), iniciaram os preparativos para uma ação mobilizada pela associação, que levou moradores e convidados para a área, na manhã do domingo, dia 6. O objetivo principal era realizar uma ação para proteger as árvores. Segundo o presidente da Associação, Maciel Rodrigues, “é comum todo o ano aqui, atearem fogo, a gente fica nesse sofrimento aqui de fumaça. A gente quer evitar isso de uma forma agradável pra que todos venham a usufruir dos benefícios, que todos podem participar, tanto na construção (da praça) como até mesmo para usufruir”.


Foram traçados trajetos até às árvores e elas foram protegidas com cerca e as espécies identificadas pelo biólogo Salustiano Costa Neto, convidado para a ação, “essa área é uma pequena mancha resquício de Cerrado, basicamente o que domina a cidade de Macapá. A gente tem várias espécies importantes pra preservação porque essas espécies têm frutos e sementes que podem servir a outras áreas. Utilizar para fazer mudas para outras áreas verdes de Macapá. É importante que a gente tenha esse patrimônio preservado já que a expansão da cidade praticamente tomou conta de boa parte do Cerrado que tem na cidade”, conta o pesquisador. Foram identificadas árvores como matá-matá, muruci, tucumã, sabiá, ipê amarelo e outras, inclusive espécies desconhecidas. A identificação de uma árvore de Sucupira é realizada pelas folhas e pelo seu tronco. Os moradores providenciaram também as placas de identificação.


Valorizar sombra, captar carbono, preservar pequenas espécies animais, insetos, conservar área verde integrada à comunidade, são alguns benefícios com a demarcação da Praça da Castanheira. Macapá é uma cidade com raras áreas de arborização nos bairros, as praças têm escassez de sombra e de árvores de grande porte, as ruas também não contam com coberturas verdes. “É a possibilidade de respirar. As cidades vão dominando e a gente tem que manter um espaço verde, um espaço comum, um espaço que todos desfrutem de recreação, onde possa ter encontros com o ar mais saudável. Isso é a possibilidade um espaço comum. E vencer o crescimento agressivo das cidades. Isso é saúde”, expectativa do morador Alexandre Jordão. Para o morador Sérgio Cunha, “é importante a gente ocupar uma área dessa tão bonita, uma área que tá aqui sem ter uso nenhum, já há alguns anos foi tentado invasão aqui por famílias. Tem sempre uma briga judicial para tirar as pessoas. Ao mesmo tempo em que não tem a moradia, tem o abandono. É uma ação ambiental, uma ação social e ficamos aqui muito felizes com a possibilidade ter para o futuro um espaço que as pessoas possam se divertir”. O trabalho coletivo abriu trilhas, cercou e limpou ao redor das árvores.


Mais do que preservar, Bárbara Orellana, secretária da Associação, enxerga uma possibilidade de educação comunitária. “Temos espécies que estão crescendo, florescendo, frutificando e que a população precisa conservar. A consciência ambiental é necessária no nosso estado. Então porque não fazer isso onde moramos? Vemos espécies de aves, de mamíferos circulando por aqui. A preservação das árvores é essencial porque os frutos delas alimentam os pequenos animais que estão por aqui. Outra questão é a ação comunitária, a recreação das crianças. Nada melhor que a Educação dos jovens para criar adultos com consciência de preservação do meio ambiente”, afirma.


Um grupo de moradores já apresentou para a Secretaria de Estado do Desenvolvimento Rural um plano de Praça Sustentável para esta área. Apresentou-se uma segunda vez, oficialmente como Associação de Moradores dos ramais. É uma ação favorável e em defesa da comunidade moradora da região, pois nesta área há um litígio com interesses em construir prédios habitacionais para milhares de pessoas. “Como você vai botar 5 mil pessoas? Vai construir uma ETA (Estação de Tratamento de Água)? Como em um lugar com lençol freático tão alto e do lado da área de ressaca, que é área protegida?”, questiona a moradora Ana Euler, engenheira florestal, e complementa que “essa região é a mais verde Macapá, é importante a gente manter esses corredores de vegetação integrados pelas áreas de ressaca, que são áreas úmidas e protegidas por lei estadual”. Além disso, quanto ao impacto de vizinhança, ela garante que nunca foram consultados acerca do projeto da Prefeitura Minha Casa Minha Vida. Quanto ao impacto ambiental, assegura que será enorme, pois não há na localidade tratamento para esgoto nem abastecimento de água.


Hectares Verde na Área dos Ramais Foto: AGCom

A comunidade que já habita a região quer ocupar para ter essa relação integrada à área. O que é uma praça sustentável? Plantar, fazer as hortas comunitárias, poder reciclar o próprio lixo orgânico, que pode ser usado na própria horta, no próprio plantio com frutíferas e plantas medicinais. Ocupar para produzir é a intenção dos moradores articulados na associação. Esse projeto, inclusive, pode ser conduzido em parceria com o Instituto de Desenvolvimento Rural do Amapá, que tem domínio da área, segundo a Associação. “Pode haver uma parceira com a RURAP. Pode ser feito experimentos como, por exemplo, jardins clonais, material genético para mandioca, material genético pra banana, e depois você doa pros agricultores e pros moradores, aqui, fazendo parte desse desenvolvimento. (Os moradores) podem ajudar na preservação, tomando conta do espaço que é deles também”, afirma o morador Henrique Gomes, agrônomo. Existem construções abandonadas na área, que muito parecem salas de aula ou de trabalho, assim como um centro de convívio também. Tudo sombreado pelas frondosas árvores.


Os moradores planejam ocupar a área com a plantação de castanheiras, além de tantas outras atividades sociais e ecológicas. Poderão ser plantadas a Sapucaia, a Andiroba, a Castanha do Pará. É uma praça dedicada às castanhas do Amapá e da Amazônia. “A castanheira é importante porque ela está na lista de espécies ameaçadas do Ministério do Meio Ambiente. Uma espécie que é proibido o corte, a gente não pode retirar, e serve de símbolo de patrimônio da Amazônia. Elas são centenárias. Demora bastante para crescer e dar fruto. É bom que elas estejam em áreas grandes assim, porque ela é grande, vistosa e os frutos até causam um pouco de estrago quando caem”, afirma o biólogo Salustiano Costa Neto.


Equipe de Coordenação da Ação Foto: Associação dos Ramais CD Rural, Mururema e Sombra da Mata.

A ação contou também com a futura geração que vai herdar o verde como patrimônio. A pequena Laura, de 9 anos, garante “vai ser legal as crianças conhecerem certas árvores. Elas são importantes. Aprender sobre as formigas. Pra elas conviverem com bichos que elas não convivem na casa dela, como insetinhos. Também tem flores. Acho que vai ser legal”. Certamente, vai ser muito legal. Mais que legal, vai ser vital para natureza e comunidade.

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