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Graúda Gang: sentir e viver a arte coletivamente

Grupo tem como ideal impulsionar o cenário artístico no Amapá


Por Ana Yared e Caio Vinícius



O coletivo conta com artistas de várias áreas. Foto: Graúda Gang.


Artistas amapaenses que estão começando sentem um certo medo e insegurança de introduzirem os trabalhos no cenário artístico local. É com a proposta de inclusão desses nomes emergentes que o Coletivo Artístico Graúda Gang tem ganhado força. O grupo atua incluindo os artistas iniciantes de maneira espontânea no cenário regional do Amapá, fazendo com que estes indivíduos deixem de lado as inseguranças e façam aquilo que lhes traz alegria: a arte.


A Graúda Gang surgiu de uma conversa entre a artista visual Luciana Rodrigues e a cantora Tani, com a proposta de servir como uma rede de apoio aos artistas dos mais diversos segmentos culturais, tanto em produção como em inspiração artística. “E aí, a partir dessa conversa com a Tani, a gente decidiu fazer. Iniciamos despretensiosamente com o nome e a logo que eu criei. E criei um Instagram que ficou engavetado sem um projeto inicial”, conta Luciana.


O coletivo iniciou de fato em abril de 2021, com um leilão on-line feito no Instagram da Graúda, com a participação de diversos artistas visuais, inclusive Luciana. Ela é mais conhecida como Luci e trabalha com pinturas de quadros, muros e grafittis. Seus traços marcantes vieram de uma autorreflexão a partir de sua inquietação racial por ter uma aparência miscigenada. “Decidi fazer que as minhas personagens tivessem os traços parecidos com o meu rosto, com rostos de mulheres que têm essa aparência mestiça, miscigenada, justamente porque eu não tinha uma referência que fizesse isso”, ressalta a artista.


Tani é uma artista independente e integrante da nova Música Popular Amapaense (MPA). A cantora e compositora participou ativamente na idealização e criação do coletivo Graúda Gang, tendo múltiplas funções nele. Atuando tanto no segmento musical, que é de sua área de especialização, quanto nos demais campos, desde produção até a administração.


O primeiro trabalho de Tani é marcado pelo seu caráter íntimo, que fala sobre processos de autoconhecimento e auto validação como artista, buscando construir um público que se identifique com o seu trabalho. “Foco muito nos meus, nas pessoas pretas, nessa juventude preta que se vê muito desesperançosa em relação ao futuro, mas eu também percebo que o meu trabalho atinge grupos diferentes, de maneiras diferentes”, diz a compositora.


O foco atual da Graúda Gang é centralizado aos artistas do grupo, sendo assim um coletivo fechado. Todos os integrantes ajudam uns aos outros na produção dos projetos, sejam eventos ou produções artísticas voltadas a um tema específico. “Esse nosso somar com a arte um do outro é a nossa chave para que nós possamos realmente construir”, complementa Tani.


Com esse trabalho coletivo, quem precisa lançar um EP ou documentário conta com a ajuda de todo o grupo. “Eu sou da música, mas aí na Graúda eu já sou a produção, sou a menina da água, sou a menina que mistura tinta, sou várias coisas. Tem a galera das artes cênicas que já vira produção e também já vira logística, e assim sucessivamente”, explica a cantora.


Projetos como o Coletivo Graúda Gang podem servir como um incentivo a outros artistas, inspirando-os a idealizar os seus próprios coletivos artísticos e enriquecer o cenário artístico no Amapá. Irlan Paixão, multiartista negra, também integrante e responsável pela produção e direção de arte dos projetos, expõe os sentimentos artísticos que vêm de dentro desse coletivo e que sempre trazem inspirações e grandes aprendizados. “Uma forma de sentir arte, viver arte livre”, conta.


Os artistas expressam diversos sentimentos e a realidade local por meio de suas produções.

Foto: Bea Belo


Nesse viver arte há muita ajuda e incentivo à valorização da arte do outro, proporcionando esse sentimento de carinho e comunidade, de fato, de apoio não só artístico como emocional. A multiartista conta como é a experiência de quando a Graúda é contratada para a pintura de painéis e de como isso ajudou a valorizar seus traços: “Apesar de que alguns desses murais sejam propostos em cima dessa proposta da referência, cada artista ali coloca a sua identidade e eu acho que isso é muito significativo, sabe?”.


Com o crescimento de movimentos sociais atrelados ao cenário artístico no Amapá, Tani expõe suas perspectivas para o futuro desse cenário. “Eu enxergo a possibilidade de furarmos uma bolha. Meu desejo é que nós possamos quebrar a noção de que você precisa sair do estado para poder viver de arte, e que nós possamos viver da nossa arte aqui mesmo”, afirma.


Não apenas a cantora, mas os demais artistas do coletivo também precisam buscar outros meios alheios aos editais fornecidos pelo governo para a realização de seus projetos individuais. “A gente fala que a gente tem duas profissões: a de artista e a de carteira assinada. Pra viver de arte, a gente ainda tem que fazer outra coisa por fora”, destaca Tani.


Uma das alternativas de viabilidade financeira que o grupo encontra é a cobrança de entrada e venda de comidas e bebidas, que ainda assim não cobre todos os gastos. “A gente tem hoje um caixa que a gente planeja utilizar pra reinvestir em outros eventos que a gente venha a realizar, mas é coisa pouquíssima só pra a gente não precisar tirar do nosso bolso”, revela Luciana.


Há também uma grande carência de incentivo à cultura no Estado do Amapá. Para falar sobre essa situação, a equipe tentou contatar a Secretaria de Cultura de várias formas, mas, infelizmente, não obtivemos resposta.


Os artistas também precisam buscar outros meios para a realização de seus projetos individuais. Foto: Bea Belo




*Reportagem produzida na disciplina de Redação e Reportagem II, ministrada pelo professor Alan Milhomem.


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