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ECOA navega pelo Beira Amazonas levando cultura oceânica para as comunidades

Para despertar o olhar para o Oceano à beira do rio Amazonas, na Costa do Amapá, o projeto ECOA dialoga com a população ribeirinha


Viagem de Voadeira até a Escola Estadual Eugênio Machado. Foto: Janaina Calado.

Que cor tem o oceano? Marrom. O oceano, na costa do Amapá, encontra a foz do rio Amazonas e essas duas gigantescas fontes de água formam o mar amazônico de tonalidade marrom. À margem desse rio-mar, vivem inúmeras famílias ribeirinhas, onde chegou o projetoExperiVivências em Cultura Oceânica Amazônica(ECOA), coordenado pela professora de Ciências Naturais Janaína Calado, da Universidade do Estado do Amapá(UEAP). O encontro com as comunidades da Beira Amazonas tem como objetivo dialogar sobre os oceanos, a biodiversidade do mar, a influência da maré oceânica, as mudanças climáticas e seus efeitos nos territórios e nas águas das comunidades. É um reconhecimento da proximidade do oceano com a vida cotidiana ribeirinha.  


Na última quinta-feira, dia 17, o encontro aconteceu na Escola Eugênio Machado e reuniu crianças e jovens das comunidades do entorno. A professora Janaína Calado não anda só e somou ao grupo visitante o Coletivo Utopia Negra, as mestrandas do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional (PPGDAS) e, ainda, universitários da UEAP e voluntários.


Foto: Lylian Rodrigues.

Kallyandra Freires conheceu a professora Janaína no grupo de pesquisa Integração Socioambiental e Educacional (GSAE) e lá recebeu o convite para participar das ações do ECOA e se voluntariou. “A professora Janaína e a professora Kelly(GSAE) me inspiram. Almejo que o projeto tenha uma nova edição ano que vem com um formato mais extenso e mais longo para que o trabalho seja mais evidente”, disse Kally.


Foto: Lylian Rodrigues.

Flavia Guedes, mestranda, pesquisa sobre atividades sustentáveis e alternativas para comunidades. Apesar de atuar em Oiapoque, a presença no Beira Amazonas é pela importância de conhecer a realidade de quem mora em contato direto com o rio e a floresta. “Entender a vivência e perspectiva que eles têm sobre o oceano e o rio é fundamental para que a gente consiga identificar possíveis atividades sustentáveis e como podem fomentar o desenvolvimento e ser precursoras do desenvolvimento local”, explica.

 

O Coletivo Utopia Negra Amapaense se articula ao projeto Ecoa para se aproximar de uma nova experiência e aprimorar novas habilidades, pois têm em comum a pauta da mudança climática em perspectiva de raça e clima. “Preparar desde as crianças, adolescentes e os jovens nesta pauta, se aproximar e se alinhar, confluir nossas ideias e direcionar para um único objetivo que é a conservação dos nossos ecossistemas”, destacou Paulo Cardoso, engenheiro florestal, co Coletivo.


Utopia Negra Amapaense representada por Paulo e Sonia. Foto: Lylian Rodrigues.

Também integrante do coletivo, Sonia Nunes, acompanhava o grupo. Mas, além de ser do Utopia, Sonia representa uma outra dimensão do projeto Ecoa. A efetividade, para a professora Janaína, está em poder criar formações e um intercâmbio entre universitários das comunidades tradicionais e a juventude de sua própria comunidade. Sonia é estudante de engenharia florestal, vinda do quilombo Maruanum. E, nesta quinta, visitou o Beira. Em outro momento, estará levando a cultura oceânica para a sua própria comunidade. “É uma vivência diferente da nossa. É importante participar e ver o que eles entendem sobre o oceano, a maioria das pessoas nem sabe o quanto o oceano faz parte da nossa existência”, afirma Sônia.


Foto: Lylian Rodrigues.

Estudante da escola Eugênio Machado, durante o fundamental e o ensino médio, o atual universitário do curso de engenharia florestal, Álvaro Maciel, nasceu e cresceu no Beira Amazonas, na comunidade São Tomé do Macoacoari. “Antes eu era aluno e agora vim ajudar a construir novos conhecimentos dentro das escolas como pesquisador da universidade. Ser uma pessoa inspiradora para os alunos, dá um incentivo a mais”, conclui.

 

A ação do Ecoa é muito importante para a escola. “Crianças que moram no interior não vivem esses momentos, vindo até a escola é muito gratificante prascrianças. A gente sabe que não é fácil chegar até aqui, há dificuldade”, garante a professora Paula Ramos, que acredita no estímulo que esta ação causa para o aprendizado. A professora Aldenize Balieiro acrescenta, “alunos que quase não saem da comunidade, não tem conhecimento de outra área. Muitos não têm internet, não tem livros, eles ficam na imaginação deles tentando conhecer”, ressalta.


Aldenize Balieiro à esquerda e Paula Ramos à direita. Foto: Lylian Rodrigues.

 As crianças e os jovens se envolvem a partir de um aprendizado lúdico sobre o oceano e a relação deste com a comunidade. A professora Janaína e toda a sua equipe tem um cuidado especial para preparar o espaço com materiais visual, brincadeiras, jogos e pintura. A coordenadora explica que se trata de uma metodologia participativa todo o trabalho, desde a formação dos universitários até o momento da oficina na escola da comunidade. “A metodologia não é parada, ela é dinâmica. É uma co-construção, a premissa do projeto é utilizar metodologias participativas”, comenta.


Foto: Lylian Rodrigues.

Janaína Calado recebeu do Pulitzer Center o incentivo para esta ação. Entretanto, o vínculo com o Beira Amazonas vem sendo construído desde 2019 e acompanharam o processo de construção do Protocolo Comunitário, assim como já produziram uma cartografia socioambiental e publicaram um livro, o Rios de Saberes. “Nunca perdemos a relação com a comunidade, ano após ano novos projetos surgem”, afirma a professora. A expectativa da comunidade é que as visitas e a troca de saberes continuem ecoando pela Foz do Amazonas.




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