Comunidades quilombolas e ribeirinhas sofrem com degradações ambientais e ausência de políticas públicas.
Por Brunna Silva e Jomar Magalhães
Ao nos debruçarmos sobre o Racismo Ambiental, nos deparamos com um multiverso de debate, porém (quase) todos invisíveis as políticas públicas dos governos. O racismo ambiental é um termo usado para se referir ao processo de discriminação de comunidades vulnerabilizadas ou compostas de minorias étnicas, que sofrem por meio de uma exclusão e degradação ambiental.
Apesar de poucos conhecerem o termo e não entenderem o que significa, é importante saber que advém do racismo estrutural, que nasceu com a colonização dos povos brasileiros quando os negros escravizados passaram a ser invisibilizados e começaram a construir periferias em condições insalubres.
“A sociedade, estruturalmente racista, coloca as pessoas racializadas em espaços que vão sofrer degradação ambiental, ou seja, elas não têm acesso a direitos ambientais básicos. Geralmente, a população da periferia é a mais afetada quando se trata de serviços básicos que envolvam o meio ambiente”, explica a engenheira florestal e ativista ambiental, Isabelly Guabiraba.
O termo Racismo Ambiental surgiu após uma pesquisa sobre a relação de resíduos tóxicos e a população negra, no ano de 1980, realizada pelo ativista Benjamin Franklin Chavis Junior, nos Estados Unidos.
Racismo Ambiental na Amazônia
Trazendo para um contexto brasileiro e amazônico, o tema ainda é um debate elitista e excludente para as comunidades e populações em vulnerabilidade social, no âmbito urbano e rural. Por que pensar em ações de melhoria ao meio ambiente e ignorar as pessoas que vivem ali, que sofrem com as degradações ambientais?
Ao olhar para o Amapá, temos uma população, predominantemente, racializada e os impactos ambientais são inúmeros. Geralmente, essa população está morando em áreas de ressaca, periferias ou ocupações, e sem condições mínimas, como por exemplo, água potável. Em 2022, o Estado ficou em primeiro lugar no ranking de pior saneamento básico. “O Amapá é composto por 70% da população negra, se não tem saneamento básico, isso afeta diretamente a todos”, ressalta Isabelly.
Comunidades quilombolas e ribeirinhas são as mais vulneráveis
A moradora da comunidade quilombola São Pedro dos Bois, Delzuite dos Prazeres, de 40 anos, é uma das mulheres que sofre com o racismo ambiental e não consegue mensurar o quanto isso atinge a vida dela. “Eu monto roça e faço minha farinha, mas nunca tive apoio de ninguém, pelo contrário, já queimaram a roça da família para que a gente fosse embora daqui”, conta ela.
O racismo ambiental está presente no cotidiano da comunidade por meio das ações dos grileiros, que buscam obter lucros por meio da exploração das riquezas e degradação das áreas. Mesmo sendo uma área quilombola, não tem sido respeitada e os povos originários vivem com suas garantias ameaçadas.
Assim como a moradora quilombola não entende que esse problema faz parte de uma estrutura racista, outras pessoas também não conseguem enxergar que sofrem impactos ou danos ambientais, porque são pessoas racializadas atingidas pela sociedade capitalista que impôs essas condições.
A engenheira florestal e ativista ambiental cita o exemplo da salinização das águas, no distrito do Bailique. Há tempo que a população sofre com degradação ambiental e pouco tem sido feito para mudar essa realidade.
Maria Aparecida, de 56 anos, morada da comunidade de Franco Grande, comenta que os moradores do Bailique usam a água do rio salinizada para consumo próprio por não terem condições de comprar água potável. "A maioria da comunidade é muito humilde e não tem como comprar água. Quando chove, a gente acumula da chuva, mas no momento ainda não tá chovendo", diz.
Para diminuir o impacto ambiental que as comunidades sofrem, é preciso agir de forma efetiva. "Políticas públicas eficazes que não fiquem ali só por um determinado tempo. Além disso, investir em educação ambiental para as pessoas entenderem os direitos no meio ambiente", finaliza a engenheira florestal e ativista ambiental.
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