Cine Pupunha tem como proposta disseminar a cultura do audiovisual por quem se interessa em fazer cinema e faz o corre.
Por Luhana Baddini e Ian Reis

O Cine Pupunha é um coletivo e cineclube amapaense, fundado com a parceria do Baluarte Cultural e vem se destacando por sua missão de promover e valorizar a cultura cinematográfica, tanto local quanto nacional. Desde sua fundação em 2023, o cineclube tem se dedicado a criar um espaço para a exibição, discussão e produção de obras cinematográficas, contribuindo para a formação de um público mais crítico e apreciador da sétima arte. O coletivo faz parte da produtora Capivaras Films e conta com os integrantes Luhana Baddini e Ian Reis, que são fotógrafos, cinegrafistas, editores e estudantes de jornalismo; com o roteirista e estudante de teatro João Pedro dos Santos; com o arte-educador, diretor e roteirista Igor Cardoso; o psicólogo Lucas Carvalho, a designer Daniela Oliveira e com o militante social e comunicador Paulo Rafael Silva.
“Há cinema no Amapá?: Acho que existe, mas eu acho que, na verdade, a pergunta que deveria ser feita é: onde estão as pessoas que estão interessadas em fazer cinema no Amapá? Acho que a gente não precisa responder se tem ou não cinema, né? Cinema está em todo lugar”. – Igor Cardoso
Igor Cardoso, 24 anos, produtor audiovisual e um dos coordenadores do Cine Pupunha, conta como essa fagulha de interesse pelo cinema o estimulou a reunir pessoas para produzir, tanto suas próprias produções, quanto espaços para debater as obras locais. “Eu encontrei as pessoas certas em um certo período da minha vida em que eu precisava muito também desse time, dessas pessoas interessadas, de quem falasse a mesma língua que eu” desse processo, salienta sobre a relevância dos cineclubes sobretudo enquanto um espaço de encontro, não apenas de debate e discussão.

sente mais esperançoso sobre uma retomada a uma mobilização mais intensa tanto do segmento audiovisual, quanto cultural do estado, perceptível em diferentes setores antes da pandemia da COVID-19. Sobre o processo de organização do Cine Pupunha, afirma: “O nosso foco era falar de cinema local, dos diretores que a gente admirava, das pessoas que a gente queria trabalhar junto, dos coletivos que a gente sempre ouvia falar”.
A partir de todo esse contexto cultural que ainda tenta se entender, reflete: “Há cinema no Amapá? Acho que existe, mas eu acho que, na verdade, a pergunta que deveria ser feita é: onde estão as pessoas que estão interessadas em fazer cinema no Amapá? Acho que a gente não precisa responder se tem ou não cinema, né? Cinema está em todo lugar”.
Outro integrante do Cine Pupunha, João Pedro dos Santos, começou no teatro por meio da Universidade Federal do Amapá, em 2019. Contudo, João Pedro já possuía uma paixão singular pela sétima arte, mais especificamente na parte de roteirização.
“…o cinema pode ser visto como uma ferramenta de comunicação, de educação, uma ferramenta pedagógica que é capaz de impulsionar o desenvolvimento do pensamento crítico, seja a respeito de nós mesmos, seja a respeito da realidade ao nosso redor…” - João Pedro dos Santos

Abordando em sua fala sobre cinema como potência educacional, João explica: “Eu acho que o que a gente entende como projeto é que o cinema pode ser visto como uma ferramenta de comunicação, de educação, uma ferramenta pedagógica que é capaz de impulsionar o desenvolvimento do pensamento crítico, seja a respeito de nós mesmos, seja a respeito da realidade ao nosso redor, mas também o cinema como transformação social, com esse poder de transformação”.
Além disso, João Pedro destaca que a chave para impulsionar ainda mais não só a produção cinematográfica, mas também estimular a afirmação da identidade amazônida, é voltar os nossos olhos para produções audiovisuais amapaenses feitas aqui dentro do nosso próprio estado. Muitas vezes, os próprios moradores dos interiores, das comunidades, mal sabem que existem.
A difusão dos Cineclubes e Mostras no Contexto Amazônico
Quando se fala em cineclubes, não se pode deixar de citar, o Espaço Caos, a integração de seis grupos que já atuavam separadamente na cena cultural amapaense em seus respectivos segmentos (Grupo 100 ID, Coletivo AP Quadrinhos, Clube de Cinema, Fotógrafos Anônimos, Festival Imagem-Movimento e Liberdade ao Rock). Além de exibições de filmes e debates, trazia música local, reunia jovens em ambiente artístico e alternativo. A união entre todas essas vertentes artísticas fez do Espaço Caos uma experiência que buscava somar ao fértil momento da cena cultural underground que o Amapá está vivendo.

O historiador e produtor cultural, Luan Macedo, fez parte da formação do Caos. Nesse contexto, afirmou ter sido totalmente independente, mas que, no início, tiveram muitos percalços por não receberem nenhum financiamento. Quando se estabeleceram na cidade como um lugar importante para a cultura local, surgiram inúmeros projetos no segmento audiovisual. A jornalista Rayane Penha era frequentadora do espaço e relata: “Eu sinto que a gente tem de forma esporádica uma coisa ou outra, mas não tem um espaço físico que a gente frequente e que esteja ali fervilhando cultura. Então, acho que faz muita falta ter um espaço Caos, e principalmente que era muito construído a partir da juventude, de uma galera jovem que estava ali fazendo aquilo e colocando os seus ímpetos nessas produções.”
“…Foi algo que mudou completamente a minha perspectiva desde o primeiro dia que fui, que eu estava indo só para me divertir com os amigos e conhecer a proposta. Mas no fim do dia foi algo muito mais revigorante, sabe?” - Letícia Martins
Letícia Martins, estudante de Artes Visuais na UNIFAP (Universidade Federal do Amapá), ressalta o quanto o acesso a cineclubes foi essencial na sua formação a partir da escuta de outras perspectivas, em contrapartida a uma experiência individual.
“Quando você vê um filme sozinho em casa, geralmente você vê só pelo entretenimento ou fica preso só às suas visões. Mas quando você vai para esse ambiente com outras pessoas, debatendo sobre isso, você consegue expandir muito mais a sua visão sobre a temática”, esclarecendo em seguida o quão fundamental foi para sua formação a acessibilidade a espaços que são resistência ao diálogo “Foi algo que mudou completamente a minha perspectiva desde o primeiro dia que fui, que eu estava indo só para me divertir com os amigos e conhecer a proposta. No fim do dia foi algo muito mais revigorante, sabe?”, relata Letícia.
De outro ponto de vista, o também cineclubista Luan Macedo pontua: “Qual é o nosso papel como cineclube? É levar esse cinema crítico, um cinema de debate, para um público que não tem conhecimento do que é o cinema, este cinema crítico. Ele consome aquilo que a grande mídia, como a Globo, a Record, o SBT e, agora, a Netflix, jogam para eles. E são filmes que geralmente a gente vai exibir, que nunca vão ser exibidos na Netflix”.
Penha afirmou que nunca viu histórias nos filmes e nas novelas com pessoas daqui, contando suas histórias, sotaques e costumes do povo nortista. Então, tanto para Rayane, Igor Cardoso como realizadores, como também para Letícia como público, foi importante se ver na exibição do Festival Imagem-Movimento, o mais antigo festival de cinema da região Norte, como também o do Cine Pupunha, em exibições como os filmes Açaí, de André Cantuária, Utopia de Rayane Penha, Ausência de Igor Cardoso, Solitude de Tami Martins. Provando que, também, é de suma importância para quem produz acessar quem mais entende suas produções, o espectador amapaense.
“A gente tem muitas ausências culturais. Meu conselho é: faça! Crie algo, frequente os espaços, troque experiências. Não existe um ideal de perfeição, mas é com tentativa e coragem que coisas incríveis acontecem. O caminho se faz caminhando.”
Carla Antunes, educadora, agente cultural independente e artista visual, acumula mais de 13 anos de trajetória em projetos que conectam educação, cinema e artes visuais. Sua formação cultural e social ocorreu por meio de grupos culturais e ações cineclubistas, como aquelas promovidas pelo Festival Imagem-Movimento (FIM). Atualmente, Carla coordena o Cine Teatro Territorial pela Secretaria de Educação do Amapá, que continua a integrar educação e cultura em suas ações.
Sua relação com o cinema começou no primeiro dia de aula na universidade, quando teve contato com o Univercinema, projeto de extensão vinculado ao FIM. “Foi meu ‘boom’ inicial. Fiz oficinas, me tornei bolsista e participei das ações cineclubistas, levando oficinas e formações para escolas e comunidades. Depois de um tempo, descobri que estive na primeira exibição pública do FIM, ainda adolescente, sem imaginar que um dia faria parte do grupo”, relembra Carla.
O Espaço Caos foi um marco em sua trajetória, surgindo da união de coletivos como o FIM, o Catita Clube e outros. “Foi uma experiência incrível e revolucionária. Com trabalho voluntário, criamos um espaço colaborativo e comunitário, mantendo a autonomia de cada grupo e provocando novas ações culturais. Foi ali que aprendi muito sobre organização e, principalmente, sobre política. O que fazíamos era pura política, promovendo educação e cultura para a comunidade”, afirma.
Carla destaca também o impacto do cinema na formação educativa. “Eu costumo dizer que me formei como professora com o FIM. Foi o cinema que me mostrou a diferença entre a educação formal e não formal. Enquanto oficineira, percebia o entusiasmo dos estudantes com as atividades audiovisuais, algo que faltava na escola tradicional. Isso me instigou a pesquisar e criar um material pedagógico sobre a produção audiovisual como ferramenta pedagógica”, explica.
Atualmente, Carla reflete sobre a importância de ocupar espaços e construir novas iniciativas na região. “A gente tem muitas ausências culturais. Meu conselho é: faça! Crie algo, frequente os espaços, troque experiências. Não existe um ideal de perfeição, mas é com tentativa e coragem que coisas incríveis acontecem. O caminho se faz caminhando.”
Um conselho para aqueles que gostariam de fazer parte desse cenário que resiste pela força de vontade de seus produtores, Rayane Penha prioriza o olhar para fora como alternativa para desenvolver um possível mercado audiovisual, sem esquecer das suas raízes, e da forma do fazer amazônico. “Eu acho que a gente tem que pensar de forma mais ampla, como que a gente vai construir esse mercado mesmo, no sentido de ter dinheiro para cá, das pessoas investirem, da gente ter esses diversos investidores privados também, que eles dão bolsa a tal, para tal mercado. A gente ter as pessoas daqui participando disso também, então acho que para os realizadores tentar mesmo essas outras possibilidades, de ir para evento fora, de tentar entrar em um tipo de bolsa, tentar usar do próprio Ministério, da Secretaria, é tentar. Porque eu acho que se a gente não tentar, a gente nunca vai sair desse local”, finaliza Rayane.
Links:
Festival Imagem-Movimento:
Cine Pupunha
Espaço Caos
Artigo entrevista de Cláudia Mogadouro <https://saberesepraticas.cenpec.org.br/tematicas/cinema-janelas-abertas-a-educacao-transformadora
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