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Cineclubes no Amapá: da formação aos caminhos para seu desenvolvimento (Parte 1)

Foto do escritor: AGComAGCom

Atualizado: 6 de fev.

O cinema atua como ferramenta educacional e na formação identitária. Conheça um pouco sobre o segmento que se diversifica no Amapá


Por Luhana Baddini e Ian Reis


2ª Exibição do circuito universitário Cinema em Movimento, realizada pelo Cine Pupunha com o apoio do coletivo APDelas+, na Unifap. Foto: Ian Reis.
2ª Exibição do circuito universitário Cinema em Movimento, realizada pelo Cine Pupunha com o apoio do coletivo APDelas+, na Unifap. Foto: Ian Reis.

O cinema amapaense tem ganhado evidência e se desenvolvido aos poucos ao longo dos últimos anos. Um exemplo disso é que, em 2017, foi lançado o primeiro edital de audiovisual do estado, realizado numa parceria entre o Governo do Estado e a Agência Nacional de Cinema (ANCINE), destinando R$ 3 Milhões para produções locais, como curtas, telefilmes e séries documentais. Dentre os 12 projetos selecionados, cabe destacar a produção Utopia, de Rayane Penha, que tem circulado por mostras pelo Brasil e exterior. Contudo, sua primeira exibição foi em 2016, no Festival Imagem-Movimento, em Macapá.


Como podemos ver, essa iniciativa não apenas promoveu o surgimento de novos projetos e a difusão de histórias amapaenses pelo país e mundo, mas também gerou mais de mil empregos diretos e indiretos. Apesar dessas conquistas, ainda é uma minoria que aprecia e conhece o que é produzido no estado. Cineastas e agentes culturais trabalham para que os filmes sejam assistidos, debatidos e distribuídos para a população. Entre a falta de recursos e de espaços em relação às produções, o cinema no Norte luta para existir – e fazer a sétima arte ecoar onde a tela é limitada.


Cinema como instrumento da educação


Exibição da Mostra Orgulho LGBTQIAPN+ de Cinema Nacional realizado pelo Cine Pupunha em conjunto com o Cine Mona, na Unifap. Foto: Luhana Baddini.
Exibição da Mostra Orgulho LGBTQIAPN+ de Cinema Nacional realizado pelo Cine Pupunha em conjunto com o Cine Mona, na Unifap. Foto: Luhana Baddini.

A ideia de que o cinema auxilia e inspira o ensino nas escolas e universidades não é recente. Mas que o público em geral, principalmente a juventude, se transforma a partir da experiência de assistir e debater temas como voltados aos direitos humanos e outras vivências que não as de si mesmos, apenas reafirma a relevância do audiovisual como um meio poderoso.


Para a educadora Cláudia Mogadouro, a escola tem o papel de transmitir a cultura construída pela humanidade, da qual o cinema faz parte, assim como a literatura, a música, as artes visuais, o teatro. Em sua visão, o cinema nesses espaços não deve ser pensado apenas como uma ferramenta, no sentido de utilidade. Mas assim como as demais formas artísticas, almejar a linguagem cinematográfica para a educação de sensibilidade dos seus espectadores.


Em uma época em que os jovens estão cada vez mais conectados com as mídias audiovisuais, que utilizam dessa linguagem mais dinamizada para comunicar algo, e com o consumo de redes sociais para debater filmes, como a sensação do momento que é o Letterboxd, tais formas diversas demonstram como o audiovisual e o cinema ainda despertam engajamento para se pensar e conceber um espaço de troca sobre determinados assuntos. Nas instituições de ensino, é comum que professores incorporem obras audiovisuais para abordar temas históricos, sociais, culturais e científicos de uma maneira mais estimulante e acessível para seus alunos.


A proposta de cinema como ferramenta pedagógica parte do princípio de que filmes também podem ser oferecidos de uma forma única para explorar narrativas complexas. Além de proporcionarem uma experiência sensorial pelas suas imagens e sons, permitem uma análise e discussões tão profundas quanto livros e artigos.


A empatia e o desenvolvimento de um olhar crítico são vantagens do cinema no ambiente coletivo. Ao assistir ao filme, o estudante se coloca no lugar das personagens e é incentivado a refletir sobre os valores e mensagens propostas para o público.


O papel do Estado no Desenvolvimento do Audiovisual


Os cineclubes e mostras desempenham um papel essencial na promoção da cultura e na democratização do acesso ao cinema, funcionando como espaços de resistência cultural e formação de público. Como é o caso do Festival Imagem em Movimento (FIM), criado em 2004, sendo o festival mais antigo do Norte, reúne todos os anos tanto filmes locais quanto de todo o país. Este ano o festival aconteceu na primeira semana de dezembro, com a estreia na muralha da Fortaleza de São José.


No entanto, a viabilidade desses projetos vai além da simples presença do público. As leis de incentivo e fomento à cultura, como as que oferecem recursos financeiros, isenções fiscais e apoio institucional, são cruciais para que esses cineclubes possam se estabelecer e prosperar. O FIM já conseguiu, em alguns anos, fomento provenientes de editais, este ano não foi diferente. Assim, a potencialização do festival e do cinema amapaense pode ser alcançada e disseminada de forma gratuita para a população local.


Rodrigo Aquiles, publicitário e especialista em marketing, mergulhou na produção cultural há quase duas décadas, marcando seu início oficial em 2010. Desde então, ele integrou festivais, cineclubes e coletivos, além de ajudar a fundar o emblemático "Espaço Caos", em Macapá. Este espaço nasceu da união de grupos culturais com o objetivo de criar um ambiente independente e acessível para experimentação e criação artística. Por meio dele, fomentou oficinas de grafites, ensaios musicais, lançamentos de livros e até eventos infantis, marcando a juventude da época com sua proposta inovadora na cidade.


“O FIM, o Liberdade ao rock, meio que eles são a Genesis. Dessa questão da cultura independente mesmo, da cultura marginal, da cultura da talvez contracultura também, que vai de encontro com o que já estava estabelecido. Então o FIM bebeu muito dessa fonte. E depois a gente fundou o Caos, que já era uma mistura de tudo isso, não é? Então eu acho que que a partir daí, acho que se se criou mesmo uma certa forma de se fazer cultura com as próprias”, descreve Rodrigo Aquiles.


Primeiro dia de Festival Imagem-Movimento, 2021, na Muralha da Fortaleza de São José. — Foto: Divulgação/FIM.
Primeiro dia de Festival Imagem-Movimento, 2021, na Muralha da Fortaleza de São José. — Foto: Divulgação/FIM.

Ele também destacou que a iniciativa tanto da criação do Festival-Imagem e Movimento, quanto a do Espaço Caos foram pioneiras e essenciais para o movimento cultural da região: "Era uma utopia, e a gente transformou a utopia em realidade".


Para Rodrigo, a força do movimento cultural está no poder coletivo. "Junta uma galera, no poder da amizade, na força de vontade, e a gente consegue fazer", comenta ele, enfatizando a autonomia criativa que marcou o "Caos". Ao falar sobre a relevância do cinema na Amazônia, afirma: "A gente precisa entender o que é o cinema feito na Amazônia, quais são nossas particularidades e como podemos potencializar isso, sem ser só um espelho do Sudeste ou dos Estados Unidos."


"A base é formação. A gente precisa de muitos cursos e estrutura, como mais cinemas públicos e espaços para desenvolver o trabalho. Mas também precisamos meter a cara e fazer." – Rodrigo Aquiles


Sobre as dificuldades estruturais enfrentadas pelos artistas na região, Rodrigo pontua: "A base é formação. A gente precisa de muitos cursos e estrutura, como mais cinemas públicos e espaços para desenvolver o trabalho. Mas também precisamos meter a cara e fazer." Ele reforça que a criatividade e as novas narrativas são o caminho para o futuro do audiovisual local: "As novas narrativas com certeza vão vir daqui da Amazônia".


Para isso, as legislações não apenas proporcionam a segurança financeira necessária para a realização de eventos e programação de exibições, mas também estimulam a diversidade cultural ao permitir que produções independentes e obras de cineastas emergentes ganhem visibilidade. Além disso, a existência de um marco legal que apoie a cultura permite que iniciativas como os cineclubes se expandam, alcancem comunidades marginalizadas e promovam a inclusão social através das suas atividades.


Cineasta e coordenadora do MinC, Rayane Penha em entrevista para a Amazônia Vox. Arquivo: Luhana Baddini.
Cineasta e coordenadora do MinC, Rayane Penha em entrevista para a Amazônia Vox. Arquivo: Luhana Baddini.

Quando a gente fala de cinema, a gente está falando de alguns recortes de mercado. Tem uma diferença aí, quem vai para a sala de cinema é quem faz cinema” - Rayane Penha


A jornalista e produtora cultural amapaense Rayane Penha é coordenadora do escritório do Ministério da Cultura no Amapá, que começou a trabalhar com cinema-educação, compartilha que tem uma compreensão muito diversa do fazer cinema. “Eu acho que, especificamente, o Amapá tem uma riqueza muito forte na produção de audiovisual, de forma geral. Quando a gente fala de cinema, a gente está falando de alguns recortes de mercado. Tem uma diferença aí, quem vai para a sala de cinema é quem faz cinema.”


Rayane nasceu e se criou no garimpo do Vila Nova, uma comunidade ribeirinha em Porto Grande, no interior do Amapá. A produtora tem um papel vital para o desenvolvimento cultural no estado, tanto como cineasta, quanto como agente do estado. Dessa maneira, há dez anos, atua dentro do segmento audiovisual de forma geral, como uma linguagem que agrega diversos outros segmentos, vivenciando da mesma forma a cultura amapaense em sua essência.


O Ministério da Cultura atua na área da gestão, articulando, junto aos gestores, a construção e divulgação das políticas do Ministério. O Governo e a Prefeitura lançaram o Edital da Lei Paulo Gustavo, como fomento de emergência por conta da pandemia da Covid-19. E no dia 17 de agosto, foi aberto o EDITAL Nº 002/2021 da Lei de incentivo Aldir Blanc pela SECULT AMAPÁ. Com isso, mais de R$ 30 milhões foram investidos no Amapá. Foram R$ 22,69 milhões para projetos a serem executados diretamente pelo estado e R$ 7,54 milhões voltados para os 16 municípios amapaenses.


Leis de incentivo à cultura como essas também são alvo de potencializar projetos como cineclubes, mostras e festivais. Como afirma a coordenadora do MinC, Rayane Penha: “Para os próximos anos, a gente tem a Política Nacional Aldir Blanc, o qual prevê esse investimento também em diversos tipos de produções culturais. Então, com certeza, abraça as produções de cineclube. Para os próximos anos, é algo que vai se difundir cada vez mais, através da política nacional de Aldir Blanc.


Além do fomento, esses editais preveem participação e capacitação para povos tradicionais, ribeirinhos e quilombolas, também de outros municípios, garantindo 20% do recurso destinados para áreas periféricas.


Uma parceria que surgiu por meio de um projeto social audiovisual é o Cine Perifa, onde os realizadores Igor Cardoso, Ian Reis e Lucas Carvalho, começaram a produzir juntos e, mais tarde, formariam o Cineclube Cine Pupunha. Este coletivo persiste à procura de Editais, na expectativa de produzir seus filmes e aprimorar suas atividades, visando facilitar o acesso das comunidades da periferia e ministrar oficinas de capacitação audiovisual dentro e fora da capital.


Em uma segunda parte desta reportagem, vamos saber mais sobre este coletivo. Acompanhe!

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