No mês do dia da Amazônia e dia da árvore, assistimos a queimadas, ameaças a áreas de proteção e a evidente falta de arborização urbana, em Macapá.
Por Luiz Felype
Praça da Bandeira, em Macapá – Foto: Luiz Felype/AGCOM
Nesta segunda-feira (28), o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) reuniu-se com propostas de revogação de regulamentações da Resolução 303 do Conama, que protege áreas de restingas e manguezais. Se aprovada, serão 1,6 milhão de hectares de áreas de proteção permanente que poderão ser ocupadas por imóveis com especulação imobiliária e por carcinicultores, produtores de camarão. O cálculo foi feito pela organização Mapbiomas Brasil, a pedido do El País. Com as queimadas do Pantanal, o Governo deixou evidente o descaso e desconhecimento sobre o fogo que atinge o país, divulgando dados incorretos sobre o desmatamento e as queimadas no Brasil. Ainda hoje, segunda (28), o Jornal Globo divulgou que o Cerrado, presente em 24% do território nacional, deve perder o programa oficial responsável por detectar e prevenir o desflorestamento e focos de incêndio. A luta ambiental sofre dias tensos.
No cenário nacional, as queimadas nos principais biomas brasileiros prejudicam a fauna e flora do país e, consequentemente, perdemos as paisagens e os recursos naturais dos ecossistemas. Já no cenário local e urbano, Macapá sofre a falta de árvores e aumenta o calor na cidade - que já é conhecida pelas altas temperaturas - assim como se destaca pela falta de sombra nas ruas e avenidas.
De acordo com Pesquisador do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (Iepa), Salustiano Costa Neto, ter uma boa quantidade de árvores na cidade gera conforto térmico, produz sombra, fornece frutos comestíveis, além de servir de moradia para pequenos pássaros e mamíferos que se alimentam dos frutos. Ele destaca ser importante para o funcionamento e melhoria do ambiente urbano.
Em Macapá, existem vários tipos de árvores, com modelos específicos para cada tipo de vegetação. “Existe a floresta de terra firme, que fica na borda das áreas inundadas, (ressacas); área de várzea, em torno do Rio Amazonas e das principais drenagens; savanas e as próprias ressacas”, afirma o pesquisador, que também cita existência de plantas herbáceas como o caranã e palmeiras. Ler sobre os benefícios das árvores e das vegetações nos faz respirar melhor e acalmar. Por que não mudar nossa paisagem e nosso modo de viver? Por que não ter mais árvores e aproveitar a sombra, o frescor, os frutos?
A falta de árvores na cidade cria “um desconforto térmico muito ruim, tanto para quem anda nas ruas, quanto para quem entra no carro”, uma vez que é difícil encontrar sombra para estacionar veículos, para caminhar nas calçadas ou para trabalhar na rua. Não é somente motoristas de carros que possuem dificuldades para encontrar vaga embaixo da sombra das árvores, o moto taxista José Ailton Alfaia relatou que apesar de haver muitas árvores na Avenida Fab, ponto de partida ao trabalho, ele não vê outras espécies em bairros distantes. Ailton faz o máximo que pode para se proteger do sol. “Tem bairro por aí que não tem sombra e não tem árvore. No Centro tem muita, mas bairros como a Zona Norte é difícil encontrar”, descreve.
Para resolver parte desse problema, devemos esperar políticas públicas ambientais mais interessadas com a preservação da árvore, mas, também a população pode ter um papel ativo. Salustiano conclui que “o principal é não retirar árvores. Temos que ter um modo diferente de olhar essa arborização, com outros tipos de árvores. Talvez com menor tamanho. Que diminua esse calor que sentimos, mas que não prejudique calçadas, nem afete a rede elétrica. Existem algumas iniciativas, mas são poucas. Tem algumas situações, alguns trabalhos que precisamos desenvolver para ter uma ideia de como vamos solucionar esses problemas”.
A reparadora de carros, Maura Oliveira, também concorda que a população deve preservar as árvores. E que as autoridades públicas têm um papel importante nesta iniciativa. “Tenham mais cuidado com a natureza e não deixem o pessoal destruir e arrancar árvores”. Ela se resguarda nas poucas sombras que encontra durante o trabalho de guardar carros nas ruas de Macapá.
A reparadora de carros Maura Oliveira - Foto: Luiz Felype/AGCOM
As árvores levam muitos anos para crescerem frondosas. Elas são centenárias, precisando já terem sido plantadas há muitas décadas para estarem presentes na cidade hoje. Essa é uma ação urgente, pois se não fizer agora, continuaremos escrevendo sobre a falta de árvores e a desproteção por mais algumas décadas. Porém, com o calor mais intenso e o ar menos limpo.
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